quarta-feira, 18 de março de 2009



ADAPTAÇÃO

A adaptação compreende todo o período que abrange as visitas preliminares dos pais às escolas, as primeiras conversas entre pais e equipe pedagógica, bem como os primeiros dias e o primeiro ano de escolarização da criança.

É na adaptação que a separação criança-família é oficializada através da escola. Este é um momento de ansiedade e insegurança para a criança, que precisa de apoio e compreensão dos educadores e da família.

É natural ocorrer algumas regressões no comportamento da criança enquanto está em adaptação, ou seja, poderá voltar a fazer coisas que não fazia mais ou querer ajuda para realizar aquilo que já fazia sozinha.

É preciso saber que é difícil para a criança construir vínculos com um grupo grande. É natural haver choro, recusa, momentos de ânimo e desânimo. Algumas crianças ficam bem nos primeiros dias pelo entusiasmo com as novidades e só depois manifestam resistência. Alguns levarão mais tempo para se adaptar, pois cada criança lida de forma diferente com as situações novas.

O processo de adaptação é gradativo. Nos primeiros dias, já ocorrem avanços. Um dos principais fatores que favorecem a adaptação é a confiança progressiva que a criança deposita na sua professora. Logo descobre que pode contar com ela para ajudá-la nas situações de conflito, para tranqüilizá-la numa situação de angústia, para aconchegá-la diante de um desconforto físico e emocional.

Sabemos que os pais também estão se adaptando, estão aprendendo a confiar na escola e a dividir com ela a educação do filho. Porém, é fundamental para o bem-estar da criança, sentir que a família confia na escola e apóia suas ações.

Os pais contribuem com a adaptação da criança quando:

ü Evitam “mentiras” ou “histórias” como dizer que ele vai ser levado ao parquinho ou que vai ficar só um dia na escola, etc.

ü Conversam sobre os preparativos para ir à escola, deixando-os falar, perguntando como imaginam que a escola é, etc. É interessante, também, comprar a mochila ou algum outro material que usará na escola, antecipando seu uso em casa, para que a criança se familiarize com eles e os tenha posteriormente como algo conhecido na escola.

ü Explicam quem estará na escola no primeiro dia: crianças, mães, professores, auxiliares, funcionários e o que cada um faz na escola.

ü Preocupam-se em não atrasar no horário de saída, evitando que a criança fique angustiada e insegura.

ü Evitam ao máximo levar a criança de volta para casa, pois ela irá associar o choro ao retorno para casa, que, nesse início, ainda é o local que traz mais segurança.

A Escola está preparada para responder às dificuldades da adaptação que não devem ser vistas como obstáculos, mas como conquistas pessoais das crianças, necessárias para o seu crescimento.

terça-feira, 17 de março de 2009

Adaptação para pais (Artigo)

ROSELY SAYÃO

[...] É PARA AQUIETAR OS PAIS, NÃO OS FILHOS, QUE O PROCESSO DE ADAPTAÇÃO FOI INVENTADO

Nesta semana, milhares de crianças com menos de cinco anos começaram a frequentar a escola. Muitas estreiam no espaço escolar, mas mesmo as que já o frequentaram por um período podem estranhar a separação dos pais e o afastamento de casa no retorno das férias. Por isso, elas passam por um processo de adaptação.

A reação das crianças nesses dias é bem diversificada: muitas entram na escola e já vão brincar, outras choram, outras ainda se agarram nos pais, sem contar as que se recusam a sair do carro. Mas tudo pode mudar em dias ou semanas: as que entraram sem problemas podem expressar recusa, as que choravam podem entrar sem problema e assim por diante.

É bom saber que tais comportamentos -e a alternância entre eles- são naturais. Afinal, a criança na primeira infância tem sua vida intensamente ligada às pessoas com as quais tem vínculo afetivo e ao espaço de sua casa porque é isso que oferece a segurança necessária para que ela se sinta tranquila.

Ao mesmo tempo, sabemos que as crianças crescem melhor junto a outras crianças. Como hoje as famílias não têm mais o hábito de frequentar com regularidade a casa de outras famílias, as crianças vão para a escola cada vez mais cedo para conviver com seus pares -e isso não é problema, desde que seus pais estejam seguros de sua decisão.

Esse período de adaptação se transformou em um processo complexo e que pouco auxilia a criança pequena. As escolas, cada uma à sua maneira, inventaram uma série de dispositivos para amenizar a mudança para a criança, mas o alvo principal desse processo são os pais.

Na família atual, a relação entre pais e filhos é a única que dura até a morte, já que todas as outras relações afetivas são passíveis de dissolução. Isso gerou consequências, como a dedicação afetiva extremada dos pais em relação aos filhos.

Ao levar o filho pequeno para a escola, os pais sentem culpa, angústia, insegurança. E foi por isso que muitas escolas decidiram permitir que eles fiquem com os filhos no início. É para aquietar os pais, não os filhos, que o processo foi inventado.

Para a criança, isso não é bom. Em primeiro lugar, porque a separação fica mais sofrida por durar muito mais tempo, o que dificulta e atrasa a apropriação de seu novo espaço. Em segundo, porque a sala fica com um clima artificial: professoras constrangidas, mães que interferem no espaço, crianças que poderiam ficar mais à vontade e que são aprisionadas pelo olhar da mãe etc.

Se as escolas fossem mais firmes no propósito de ter no aluno seu foco principal, esse período seria menos penoso para todos. Claro que algumas crianças continuarão chorando por um tempo para entrar na escola e algumas mães continuarão resistindo à separação, mas isso sempre ocorreu e ocorrerá.

Enquanto acreditarmos que esse processo é necessário, ele será. Só por isso, e não pela necessidade das crianças. Elas podem reagir diferentemente do que esperamos nessa situação. Basta que tenham oportunidade para tanto.

ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha)
E AGORA? MEU FILHO VAI PARA A ESCOLA.
COMO DEVO AGIR?”

Nosso objetivo nesse momento é informá-los sobre alguns aspectos que facilitarão a atuação junto ao seu (sua) filho(a) e à escola, em relação à adaptação.
A adaptação é um período necessário para a criança conhecer o ambiente escolar e aceitá-lo de maneira prazerosa. Pode ser mais longa ou mais breve, mas todas as crianças passam por este processo.

O QUE AS CRIANÇAS PENSAM?

No primeiro momento, tudo para criança é desconhecido e vir para escola pode significar separar-se das pessoas com quem se sente segura, num ambiente que já lhe é familiar.
Nessa fase de adaptação é comum a criança apresentar mudança de comportamento, como por exemplo: agressividade, “regressão”, dependência, falta de apetite e outros.
Essas mudanças serão trabalhadas e desaparecerão a partir do momento em que a criança sentir-se mais segura.

DICAS

Durante esse período, aconselhamos que a rotina de casa não seja alterada, como por exemplo: mudar a criança de quarto, tirar a chupeta/ fraldas, alterar o horário de refeição etc.

POR QUE ALGUMAS CRIANÇAS MORDEM?

Nessa fase também a criança testa os limites do corpo, começando a reconhecer onde o dela acaba e começa o do outro. E os dentes, que estão nascendo, ganham destaque.
Sigmund Freud (1856-1939) fundador da psicanálise, definiu como fase oral o período em que a criança sente necessidade de levar à boca tudo o que estiver ao seu alcance, pois o prazer viral está ligado à nutrição. Assim, ela experimenta o mundo e não compreende que a mordida causa dor. A consciência do fato só surge a partir dos 3 anos, quando há compreensão de que essa é uma forma de agredir o colega.

HÁ OUTROS MOTIVOS?

Outra razão é necessidade de comunicação. Os pequenos não dominam a linguagem verbal e utilizam esse fato para expressar descontentamento, desconforto ou insegurança, disputar a atenção dos pais com os amigos. Amor e carinho também podem se manifestar com uma mordida. Como o bebê usa os dentes como recurso de expressão, ele não pode ser rotulado. Além da descoberta do corpo, essa fase é da construção de identidade. Quando é estigmatizado como o agressor da turma, ele pode apresentar dificuldade em se desvincular desse papel e de desempenhar outro. “Podem ocorrer dificuldades de relacionamento e o que seria uma fase transitória se cristaliza em comportamental permanente”.

OUTRAS DICAS

É importante conversar sobre a escola de maneira tranqüila, tentando não demonstrar ansiedade. Procurem ouvi-lo(a) mais do que lhe fazerem perguntas. Demonstrem interesse pelo o que a criança está falando (mesmo que seja uma fala breve), firmeza e segurança ao deixá-lo(a) na escola e garantam que virão buscá-lo(a) ao final do período.
Algumas recaídas são esperadas após algum tempo de aula. Seu(sua) filho(a) poderá entrar bem e não chorar, mas depois de alguns dias, poderá não querer entrar mais, pois a curiosidade inicial foi saciada e começa a sentir de maneira mais intensa a separação dos pais. É importante que continuem demonstrando firmeza e segurança.
Favorecer o desenvolvimento da autonomia e responsabilidade em relação aos seus pertences também é importante para o desenvolvimento da criança e para a sua auto- estima, deixando-o carregar e cuidar da sua mochila e lancheira, incentivando(a) a guardá-los no local combinado, quando chegar na classe ou em casa.

E PARA TERMINAR ….

Busquem orientações com os profissionais da escola, sempre que sentirem necessidade.
Estaremos à disposição para trocar idéia e esclarecimentos, visando o bem – estar de todos os NOSSOS ALUNOS.
Contem conosco!!!
A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR COMO FACILITADOR DO DESENVOLVIMENTO
A criança vai se tornando "graciosa" à medida que seu crescimento fisiológico se desacelera e ela adquire prática em aplicar suas habilidades sensório-motoras. À medida que as atividades lúdicas da criança se diversificam, ela usa a linguagem não apenas para identificar objetos e atividades, como também para se empenhar em diversas transformações tipo "faz-de-conta". Sua fantasia transporta-a para dentro de muitas situações e ela cria e resolve muitos problemas. Ao destacar algumas palavras-chave do parágrafo acima, como habilidades sensório-motoras, linguagem e cria e resolve problemas, pode-se verificar que o brincar é não só um facilitador, mas essencial para um bom desenvolvimento motor, social, emocional e cognitivo.

Para uma criança pequena, brincar é um meio de converter poderes adormecidos em várias habilidades e perícias. A abordagem brincalhona das crianças em relação a pessoas, objetos e situações, permite-lhes testá-los sem assumir a responsabilidade pelas conseqüências. "Eu estava apenas brincando" é a desculpa freqüente da criança quando alguma coisa sai errada.

Brincar é uma modalidade-chave de aprender a respeito da natureza, bem como sobre os relacionamentos entre pessoas. Brincar também serve ao propósito de adaptação às situações frustradoras de vontades e desejos não satisfeitos. Quando uma criança brinca e tem prazer nisso, ela é completamente uma criança.

Toda a criança brinca. Ela necessita deste espaço para se desenvolver.

É brincando que os bebês descobrem como as coisas funcionam e assim começam a se relacionar com a vida, perceber os objetos e o espaço que seu corpo ocupa no mundo em que vive.

A criança simboliza. Brinca de faz-de-conta, representa papéis, “recria” situações que lhe foram agradáveis ou não. Só que quando a criança recria estas situações, faz da forma que ela suporta, não correndo riscos reais. Através do faz-de-conta, a criança traz para perto de si uma situação vivida e a adapta à sua realidade e necessidade emocional.

Nota-se também que conforme se desenvolve emocional e cognitivamente, a criança começa a incluir outras pessoas em suas brincadeiras. Ela começa a brincar com o outro e não mais ao lado do outro. É percebendo a presença do outro que começam a ser criadas e respeitadas as regras. Conviver com outra pessoa exige que se respeitem limites. O limite imposto pelo outro.

Começam aí as brincadeiras envolvendo jogos com regras, ( aproximadamente a partir dos 7 anos de idade).

Os jogos com regras exigem raciocínio, estratégia, antecipação de um resultado.
Pode-se perceber que quando a criança se mostra capaz de respeitar as regras dos jogos, seu relacionamento com outras crianças e mesmo com os adultos melhora. O contrário também pode ser verdadeiro. Muitas vezes percebemos que crianças que têm problemas de relacionamento com os colegas, pais e professores, também demonstram dificuldades em respeitar regras impostas pelos jogos.

1.1- O BRINCAR NO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

Bergmann ( 1998 ) coloca que apesar de ser identificado, normalmente, com alguns comportamentos, o brincar é uma forma de linguagem. A maior parte das características desta linguagem pode ser constatada nos primeiros contatos das crianças com seus pais ou com aqueles que cuidam delas. As mães ou as pessoas responsáveis pelos cuidados dos bebês ajudam-nos a brincar, desde muito pequeninos, quando interagem com eles. Através de uma atitude e uma linguagem segura, esses adultos estabelecem com os bebês laços de confiança que possibilitam o início do brincar. Este é considerado como uma linguagem, pois permite que as crianças se comuniquem com as outras pessoas e iniciem a compreensão, desde muito cedo, de que podem suportar e representar a ausência temporária das pessoas que amam substituindo-as pelas primeiras brincadeiras.

Brincar é uma forma de atividade complexa. Sendo assim, possui uma peculiaridade: o brincar combina a ficção com a realidade, ou seja, brincando a criança trabalha com informações, dados e percepções da realidade, mas na forma de ficção.

O brincar inclui sempre a experiência de quem brinca. Desta forma, as crianças pequenas ( de dois anos a dois anos e meio ) reproduzem as ações que percebem em seu meio ( dirigir um carro, embalar uma boneca ). À medida que crescem, vão incorporando a representação que fazem da vida real, aos conhecimentos adquiridos, bem como os desejos e sentimentos. Adquirem, assim, nuanças cada vez mais complexas do próprio comportamento humano.

1.2 - O BRINCAR E A EDUCAÇÃO INFANTIL

Brincar é fonte de lazer, mas é, simultaneamente, fonte de conhecimento; é esta dupla natureza que nos leva a considerar o brincar parte integrante da atividade educativa.

Além de possibilitar o exercício daquilo que é próprio no processo de desenvolvimento e aprendizagem, brincar é uma situação em que a criança constitui significados, sendo forma tanto para a assimilação dos papéis sociais e compreensão das relações afetivas que ocorrem em seu meio, como para a construção do conhecimento.

O jogo e a brincadeira são sempre situações em que a criança realiza, constrói e se apropria de conhecimentos das mais diversas ordens. Eles possibilitam, igualmente, a construção de categorias e a ampliação dos conceitos das várias áreas do conhecimento. Neste aspecto, o brincar assume papel didático e pode ser explorado no processo educativo.

Portanto, a brincadeira e as situações de jogos são fundamentais para a vida saudável da criança e, por que não dizer, para o adulto também.

Maria de Fátima Martins Campos

Psicopedagoga