sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Não me engane – 2 a 4 anos

Mentirinhas dos pais podem abalar a confiança infantil

Todo mundo sabe que criança não é boba e não se deixa enganar. Mesmo assim, vez ou outra, os pais ficam tentados a contar uma mentirinha para apaziguar os pequenos, principalmente entre os 2 e os 4 anos, quando já falam e são muito questionadores.Mas faltar com a verdade nunca é boa idéia."Embora pequena e imatura, a criança é muito perceptiva e registra os fatos", afirma a psicóloga Vera Nunes.Como acredita no que os adultos lhe dizem,ela se frustra quando o dito ou o prometido não se confirma.Isso pode abalar sua confiança e deixá-la insegura."Para ter credibilidade, os pais devem dizer a verdade desde cedo", diz ela.

"Às vezes os adultos acham incômodo ficar explicando tudo, porém, a criança merece respeito como ser inteligente e sensível que é. A quebra da confiança nos pais muito cedo causa danos", observa a psicóloga e pedagoga Maria Regina Andrade, da Universidade de São Paulo.Mas é claro que não se pode exagerar e tratar os pequenos como adultos."As explicações têm de ser na linguagem e no raio da compreensão infantil", lembra Vera Nunes, que é autora do livro Pra Gente Grande Entender Melhor a Criança (Editora Casa do Psicólogo).

Sem intenção

É lógico que os pais não mentem para prejudicar o filho. "Eles apenas acham que os pequenos não vão compreender a explicação, que pode ficar para mais tarde", diz Vera. Um exemplo clássico é o da mãe que se despede da criança dizendo "Volto já, já", mesmo que vá demorar.O recomendável é dizer que voltará assim que puder. Nem sempre será possível evitar a frustração da criança, mas ela será menor se causada pela sinceridade e não pela desilusão.

Pela mesma razão, as promessas devem ser cumpridas e, se não for possível, a criança merece uma explicação. Porque, mais dia menos dia, ela cobra."Sempre que o Bruno perguntava quando iríamos ao zoológico, eu respondia: 'No próximo domingo', mas acabava não dando", conta a mãe, a corretora Marilda Pontes.Uma vez, o garoto ouviu a avó dizendo que o Dia de São Nunca não existia, e emendou na hora: "É como o domingo de ir ao zoológico". Marilda cumpriu a promessa. Num caso assim, a dica é não definir datas. "Não diga 'amanhã'se você já sabe que será impossível. Diga que ainda não sabe quando", ensina Maria Regina.

Promessa sem dívida

Cumprir o que se promete à criança envolve a formação do caráter infantil, pois os pais são modelos. Portanto, só combine com seu filho o que você pretende mesmo fazer. Quando se tratar de compras, não evite falar sobre limites financeiros. "Alguns pais ficam constrangidos, pois o consumo tem um valor social, mas a sinceridade ajuda a criança a criar parâmetros", diz Maria Regina Andrade. E, se for necessário, recombine tudo com o pequeno. "Respeitar os filhos não é criar tiranos que não podem ser contrariados. A criança acostumada com explicações tende a ser mais flexível", lembra Vera Nunes.

Fonte: Revista Crescer, setembro/2004

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