terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Pequenos passos rumo ao êxito para todos
I. COMO APERFEIÇOAR AS ESCOLAS PARA QUE MAIS ALUNOS
APRENDAM MAIS
Boudewijn A. M. van Velzen
Nas últimas décadas tem-se debatido, em países do mundo
inteiro, duas grandes questões:
• Quais são as características de escolas eficazes?
• Como aperfeiçoar as escolas menos eficazes?
A primeira questão é importante porque precisamos saber o que
devemos implementar nas escolas, se quisermos fazer com que
mais alunos aprendam mais.
Mas, respondida esta questão, a segunda torna-se vital, pois
implica em identificar as medidas a serem tomadas, dentro das
escolas e fora delas, para que sua prática passe realmente a
promover o sucesso de todos.
Refletir sobre os dois temas, portanto, é essencial para todos os
envolvidos no esforço de aperfeiçoar a qualidade da educação.
Neste artigo, apresentaremos uma descrição concisa das
respostas que os pesquisadores vêm oferecendo a essas questões
cruciais.
1. CARACTERÍSTICAS DAS ESCOLAS EFICAZES
Num estudo recente, REYNOLDS et al. (1996, p. 36-56)
apresentam uma síntese das características de escolas eficazes,
resultante da análise de um número considerável de pesquisas
sobre eficiência das escolas.
1. 1. ALUNOS MOTIVADOS
Escolas eficazes são aquelas que conseguem motivar (quase) a
totalidade dos seus alunos a aprender tanto habilidades básicas
quanto metacognitivas.
É importante despertar no aluno a vontade de dedicar o maior
tempo possível a atividades de aprendizagem, fazendo uso
intensivo das oportunidades de ensino que lhe são oferecidas. Isto
evidencia que, no final das contas, o aluno é o fator determinante
no processo. Como diz o provérbio americano: "You can bring the
horse to the water, but you cannot make it drink. " [É possível levar
o cavalo à água, mas não se pode obrigá-lo a beber. É necessário,
naturalmente, dar aos alunos a chance de despenderem tempo
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com os estudos. Um currículo sobrecarregado torna impossível a
aprendizagem. Além disso, é necessário fornecer aos estudantes
oportunidades concretas de aprenderem: materiais de estudo e
livros atraentes e convidativos, por exemplo. O que nos leva
automaticamente aos responsáveis pela oferta destas
oportunidades de aprendizagem.
1.2. PROFESSORES COMPETENTES
Os professores, em sala de aula, são responsáveis pela
implementação de elementos importantes elementos do
currículo, tais como:
• objetivos e conteúdo das lições claros e explícitos;
• estrutura e transparência do conteúdo;
•emprego de planos de aula;
• avaliação sistemática dos resultados do aluno, oferecendo o
feedback positivo e a instrução adicional.
Além disso, eles podem decidir como agrupar os alunos na
classe. É preciso lembrar que a eficácia destes grupos de trabalho
depende, em muito, dos materiais diversificados que o professor
utiliza, da maneira como é feita a avaliação, do modo como é
oferecido o feedback e da forma como as informações
suplementares são apresentadas.
O currículo e as formas de agrupamento dos alunos, em si
mesmos, representam apenas condições para o sucesso. O fator
mais importante é o próprio professor, o ser humano que está à
frente da classe. Ele (ou ela(1)) pode exercer grande influência.
Esta possibilidade, é claro, depende do sistema de ensino, do
país e da escola em questão.
Nem todos os currículos nacionais ou estaduais possuem
objetivos claros, estruturam os conteúdos de forma transparente,
prevêem emprego de planos de aula e avaliação dos resultados.
Nem todas as escolas realmente envolvem desde o início os seus
professores na realização de mudanças educacionais concretas. E,
em muitos casos, o grande número de alunos por sala de aula
limita as variações nas formas de agrupamento.
No entanto, só o professor pode proporcionar:
• uma organização calma e ordenada da classe;
• uma forma inteligente de acoplar sistematicamente o trabalho
da classe às lições de casa;
1 Sei que em muitos sistemas de ensino as mulheres estão em maioria. No
entanto, para evitar a repetição contínua de "ele/ela", limito-me a usar só o
masculino da terceira pessoa do singular.
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• a formulação precisa de objetivos, com ênfase em um número
limitado de metas, focalizando as habilidades básicas e a
aprendizagem cognitiva;
• a estruturação dos conteúdos curriculares, partindo dos
conhecimentos que o aluno já possui;
• apresentações breves e claras, que prendem a atenção dos alunos;
• respostas às perguntas dos estudantes;
• a introdução de exercícios logo após a apresentação de
novo conteúdo, para que os alunos possam praticar e
assimilar a matéria;
• muita atenção para a avaliação, feedback positivo e instrução
adicional para os estudantes defasados.
O professor competente é essencial a qualquer proposta de
educação em que se pretenda que mais alunos aprendam mais.
Porém, todas as pesquisas demonstram que, sozinho, o docente
pouco irá avançar. Ele precisa da escola.
1.3. ESCOLAS COM OS NECESSÁRIOS REQUISITOS EDUCACIONAIS
E ORGANIZACIONAIS
Na escola são criadas as condições didáticas e organizacionais que
permitem um bom desempenho do professor em sala de aula, com seus
alunos.
São condições educacionais importantes:
• consenso entre a direção da escola e os membros do corpo
docente quanto a métodos didáticos, material de ensino,
formas de agrupamento, atitudes dos professores;
• um sistema de avaliação dos resultados do aluno que
facilite o seu acompanhamento durante todo o curso,
evitando problemas ou corrigindo-os numa fase inicial.
São condições organizacionais importantes:
• cultura voltada à melhoria da eficácia do ensino, tendo como
centro a aprendizagem do aluno e que se manifesta, entre
outros aspectos, pela presença de coordenação/supervisão
(liderança) e profissionalismo;
• planejamento sistemático e bem concebido das atividades de
aprendizagem, no qual o mínimo de tempo possível seja
desperdiçado -por exemplo, combatendo as faltas de alunos e
professores e estruturando melhor as aulas;
• ênfase à construção de um ambiente calmo e ordenado na escola;
• consenso entre a direção e os professores no tocante à missão
institucional da escola, ou seja, o que ela pretende fazer, por
quê, como.
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e com quem;
• existência, na escola, de um Plano Diretor ou Plano de
Desenvolvimento bem definido;
• acordo sobre a progressão do aluno através do currículo, com
atenção especial para a promoção de uma série para outra.
Escolas eficazes dão muita importância à coerência entre os
vários participantes da equipe escolar. Todo o pessoal (tanto a
direção como os docentes) deve estar disposto a assumir a
responsabilidade pela coerência da escola.
Isto significa que a política de uma unidade escolar não pode
ser modificada muito freqüentemente. Os professores e a
direção precisam de tempo para se familiarizar com eventuais
mudanças. Esta realidade colide às vezes com as idéias e os
interesses da sociedade ou das autoridades. Evidencia-se, por
outro lado, a importância do papel desempenhado pelos
diretores das escolas no processo de inovação educacional.
1.4. UM CONTEXTO ESTIMULADOR
Uma escola (e com certeza uma escola pública) nunca está
isolada no bairro, cidade ou região. A escola tem laços com as
Delegacias de Ensino, com as Secretarias Estadual e Municipal
de Educação, com o Ministério da Educação, com os Conselhos
de Educação, com as autoridades, com outras escolas, com
empresas e instituições.
Chamamos a isto o contexto da escola, o qual pode
contribuir para sua eficácia mediante:
• uma política (nacional, estadual, municipal) visando
especificamente aumentar a eficácia das escolas;
• um método sistemático de avaliar e de testar a qualidade do ensino;
• educação continuada, apoio aos docentes e à direção, visando à
eficácia;
• o financiamento diferenciado das escolas, com base nos
resultados dos alunos (levando em conta os antecedentes e o
meio social da clientela).
Além disso, é o contexto que deve oferecer parâmetros para que
se possa lidar com o tempo necessário ao ensino. E, por fim, o
contexto pode promover a eficácia, proporcionando um bom
currículo nacional/estadual e colocando à disposição os
recursos a ele associados.
Resumindo, podemos afirmar que os professores dispõem de
muitas possibilidades para estimular os alunos a
aprenderem mais, desde que a escola crie, de forma
consistente, as condições didáticas e organizacionais
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necessárias. Além disso, o contexto pode contribuir, formulando
parâmetros e oferecendo recursos.
2. TORNANDO AS ESCOLAS MAIS EFICAZES
Todo mundo quer que as escolas sejam eficazes. É bastante triste
constatar que os alunos, depois de anos de escolaridade, não
aprenderam nada, ou aprenderam coisas erradas. Em sua maioria, os
docentes ficam muito frustrados quando, de repente, o aluno abandona
a escola. Para o professor, cada desistência é uma decepção.
Não obstante, a prática mostra que não é nada fácil concretizar
uma educação eficaz em um grande número de escolas.
Aperfeiçoar escolas é um processo complexo, que envolve muitos
agentes em diferentes níveis: sala de aula, escola, Delegacia Regional,
órgãos centrais da Secretaria de Educação, prefeituras, Conselhos.
Estes agentes, em todos os níveis, deveriam colaborar uns com os
outros. Reformas em grande escala, nas quais as escolas e os
professores são considerados exclusivamente como agentes executores
de uma política com a qual não se identificam, têm resultado em
fracasso.
Em seguida, apresentaremos algumas lições aprendidas a partir de
pesquisas realizadas sobre tentativas bem-sucedidas de aperfeiçoar
escolas (VAN DEN BERGH & MULDER, 1996; LITTLE, 1996;
LAGERWEY, 1994):
• Cada pessoa envolvida em um processo de mudança - professor,
diretor, pais, alunos - interpreta à sua própria maneira as
mensagens, sobretudo as governamentais. Por isso é preciso
comunicar-se claramente, de forma inequívoca e com muitos
exemplos concretos. Deve ficar evidente o que cada um ganhará com
a mudança e o que perderá. E, especialmente no que diz respeito aos
professores, é importante que tenham tempo suficiente para
experimentar e assimilar a nova situação.
• Projetos de inovação em grande escala, nacionais ou estaduais,
precisam de lideranças claras e objetivas que possam traduzi-los em
nível local e de unidade escolar. Só o diretor e outras lideranças da
escola podem transformar atitudes arraigadas na equipe, visando
atingir a nova situação desejada. É preciso assegurar que o corpo
docente discuta sobre os conceitos educacionais subjacentes à
proposta de mudança. Assim, todos irão compreender os aspectos
que a reforma envolve. Todas as lideranças existentes na escola
devem ser mobilizadas, criando uma sólida base de apoio para a
reforma.
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• É essencial mobilizar o interesse de todos os docentes para a questão da
qualidade do ensino. O ensino é o processo primário que ocorre entre o
professor e o aluno, e toda inovação visa ao seu aperfeiçoamento. Os
professores devem ser estimulados a aprender com as qualidades
profissionais uns dos outros. Juntos podem descobrir quais são os
critérios que definem o ensino de qualidade em sua escola. A escola
deve transformar-se em uma oficina de trabalho.
• Abordagens dinâmicas e interativas de inovação educacional têm mais
possibilidades de sucesso que abordagens estáticas e lineares, embora,
para os responsáveis pela política educacional, as primeiras tenham a
desvantagem de serem menos previsíveis. Os projetos nacionais ou
estaduais, portanto devem limitar-se a oferecer as diretrizes mais
amplas, dentro das quais as escolas terão autonomia para formular
seus próprios projetos a curto prazo. Indivíduos e grupos devem ter
espaço para experiências. É necessário, igualmente, proporcionar
formação continuada e apoio técnico, com ênfase especial nas
estratégias de resolução de problemas (problem solving), e colocando
em segundo plano a transmissão de conhecimentos. Através dos
professores e dos diretores, é preciso centrar a atenção na
aprendizagem crítico-reflexiva.
• É essencial ter consciência de que, em última instância, o êxito de
uma reforma educacional de grande escala, em nível tanto nacional
como estadual, se define pela soma de milhares de pequenos projetos
específicos bem-sucedidos, realizados em cada uma das escolas.
Podemos afirmar, como conclusão, que as propostas de mudança em
grande escala, em nível tanto nacional como estadual, podem contribuir
para a inovação educacional, se criarem um ambiente favorável para que
as escolas construam e realizem os seus próprios projetos. Mas podem
também sufocar qualquer eventual inovação, se forçarem as escolas a
seguir um rumo prefixado, de maneira rígida, linear e diretiva. Em
propostas de inovação bem-sucedidas, ao contrário, são oferecidas aos
educadores oportunidades de aprender de forma crítica e reflexiva. E,
para finalizar: a presença de uma liderança estimulante na escola é
essencial para que uma inovação tenha êxito.

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