Hoje resolvi falar de vocês.
Filhos que nasceram de mim
Para me dar a exata medida do que significa Ser Mãe!
Gerar um ser com vida, saída de nossas entranhas
Com pensamentos e sentimentos próprios.
Ninguém, tanto escritor de versos,
poesias, poemas, crônicas, etc
Quanto qualquer ser, que também foi gerado como todos,
Consegue avaliar o que sente uma mulher ao ver
Um pequenino ser sair de dentro dela!
Esta emoção é renovada todas as vezes que isto acontece.
Um filho é uma dádiva divina!
Penso até que Deus sabe exatamente
O que sente uma mãe...
por isso Ele dá mais para umas e menos para outras.
Mas o bem maior certamente é a vinda de um filho
Que foi gerado com amor!
Vocês , vieram ao mundo cercado
pelo maior amor e carinho!
Amor que senti ao conhecer seu pai.
Amor que continuou quando juntos resolvemos
Que vocês viriam ao mundo.
E foi com mais amor ainda, que o recebemos.
Mas vocês souberam sempre retribuir este sentimento maior!
Só nos dão alegria...
Só desejamos a vocês, muito mais do que nos deu!
Amor, carinho e alegrias!
continuem sempre assim.
Ame, pois só o amor constrói e
trará paz para o seu coração!
Muito obrigada por vocês existirem e
Deus os abençoe sempre!
terça-feira, 22 de setembro de 2009
Quem me dera a linha do tempo fosse um chiclete em q eu pudesse esticar ao maximo na tentativa de não se partir.
Ver partir uma pessoa q a gente ama partir pra nunca mais voltar...Nunca mais é muito tempo.
Meu avô era dessas pessoas q a gente pensa q antes de ser avô é uma pessoa magica, como seres encantados q vivem pra sempre e nunca envelhecem......Eu vivi minha vida inteira com aquele orgulho de dizer q tinha um avô como ele, e agora tenho q mudar aquela verdade q eu amava.Eu não tenho mais.
Hoje eu sou triste,não tenho musicas, não vibro,não queria q fosse assim, mas é...
Vô, desculpe ta..Sei q vc era avesso a esse tipo de tristeza,vc era lindo.
Meu veinho arcado q só dizia coisas do coração, com jeito rude...mas so teu!
Vou lembrar de vc como as musicas,minha nota musical eterna, o amor q eu tinha e q foi embora.
Eu sinto tanto...
Vc agora é a beleza das coisas q não morrem jamais...
Exatamente como uma musica.
Eterno.
Saudades vô!
Ver partir uma pessoa q a gente ama partir pra nunca mais voltar...Nunca mais é muito tempo.
Meu avô era dessas pessoas q a gente pensa q antes de ser avô é uma pessoa magica, como seres encantados q vivem pra sempre e nunca envelhecem......Eu vivi minha vida inteira com aquele orgulho de dizer q tinha um avô como ele, e agora tenho q mudar aquela verdade q eu amava.Eu não tenho mais.
Hoje eu sou triste,não tenho musicas, não vibro,não queria q fosse assim, mas é...
Vô, desculpe ta..Sei q vc era avesso a esse tipo de tristeza,vc era lindo.
Meu veinho arcado q só dizia coisas do coração, com jeito rude...mas so teu!
Vou lembrar de vc como as musicas,minha nota musical eterna, o amor q eu tinha e q foi embora.
Eu sinto tanto...
Vc agora é a beleza das coisas q não morrem jamais...
Exatamente como uma musica.
Eterno.
Saudades vô!
O QUE É UMA MENINA ?
Muita atenção! Vou dar uma receita de menina. Para se fazer uma menina toma-se uma xícara de felicidade, dois balões azuis, pétalas de rosa, um pouco de glacê, um punhadinho de areia, três conchinhas róseas, uma colherada de imaginação. Acrescente-se também um pouquinho de sal e muito açúcar e mel, uma casquinha de sorvete, o dengo de um gatinho novo e três gotinhas de perfume. Não esquecer de um espelhinho prateado, pois uma menina é, antes de tudo, mulher e logicamente vaidosa. É importante adicionar uma borboleta amarela, muita inocência e um dedinho com band-aid. Recolhe com cuidado, uma gotinha de orvalho o brilho de uma jóia, todas as matizes de um quadro de Renoir, uma pitada de sonho e muito carinho. Consiga um pouco daquela brisa que sopra do mar, uma colherinha da luz das estrelas, um sorriso inesperado, o ruído de uma onda na praia e deixe tudo isso ao luar. Misture e acrescente muita ternura e amor, um pouco de teimosia e muita curiosidade, uma lágrima e duas asinhas de beija-flor. É assim que são feitas as meninas. São as coisinhas mais lindas que existem na terra. São muito frágeis e ao mesmo tempo fortes e resistentes. Com apenas uma lágrima comovem o mais duro dos corações, pois ninguém resiste a um pedido acompanhado de um beijo molhado. Uma menina parece que nasce sabendo que terá a responsabilidade de alegrar, suavizar e colorir a vida.
Muita atenção! Vou dar uma receita de menina. Para se fazer uma menina toma-se uma xícara de felicidade, dois balões azuis, pétalas de rosa, um pouco de glacê, um punhadinho de areia, três conchinhas róseas, uma colherada de imaginação. Acrescente-se também um pouquinho de sal e muito açúcar e mel, uma casquinha de sorvete, o dengo de um gatinho novo e três gotinhas de perfume. Não esquecer de um espelhinho prateado, pois uma menina é, antes de tudo, mulher e logicamente vaidosa. É importante adicionar uma borboleta amarela, muita inocência e um dedinho com band-aid. Recolhe com cuidado, uma gotinha de orvalho o brilho de uma jóia, todas as matizes de um quadro de Renoir, uma pitada de sonho e muito carinho. Consiga um pouco daquela brisa que sopra do mar, uma colherinha da luz das estrelas, um sorriso inesperado, o ruído de uma onda na praia e deixe tudo isso ao luar. Misture e acrescente muita ternura e amor, um pouco de teimosia e muita curiosidade, uma lágrima e duas asinhas de beija-flor. É assim que são feitas as meninas. São as coisinhas mais lindas que existem na terra. São muito frágeis e ao mesmo tempo fortes e resistentes. Com apenas uma lágrima comovem o mais duro dos corações, pois ninguém resiste a um pedido acompanhado de um beijo molhado. Uma menina parece que nasce sabendo que terá a responsabilidade de alegrar, suavizar e colorir a vida.
domingo, 13 de setembro de 2009
SE NÃO HOUVER FRUTOS
VALE A BELEZA DAS FLORES
SE NÃO HOUVER FLORES
VALE A SOMBRA DAS FOLHAS
SE NÃO HOUVER FOLHAS
VALEU A INTENÇÃO DA SEMENTE!!!!
GRANDE É A POESIA, A BONDADE E AS DANÇAS...MAS A MELHOR COISA DO MUNDO SÃO AS CRIANÇAS!!!
FERNANDO PESSOA
PIRUÁS SÃO AQUELAS PESSOAS QUE POR MAIS QUE O FOGO ESQUENTEM SE RECUSAM A MUDAR VÃO FICAR DURAS A VIDA INTEIRA ...JÁ OS MILHOS QUE ESTOURAM DESCOBREM QUE A VIDA É UMA GRANDE BRINCADEIRA!!
RUBEM ALVES
VALE A BELEZA DAS FLORES
SE NÃO HOUVER FLORES
VALE A SOMBRA DAS FOLHAS
SE NÃO HOUVER FOLHAS
VALEU A INTENÇÃO DA SEMENTE!!!!
GRANDE É A POESIA, A BONDADE E AS DANÇAS...MAS A MELHOR COISA DO MUNDO SÃO AS CRIANÇAS!!!
FERNANDO PESSOA
PIRUÁS SÃO AQUELAS PESSOAS QUE POR MAIS QUE O FOGO ESQUENTEM SE RECUSAM A MUDAR VÃO FICAR DURAS A VIDA INTEIRA ...JÁ OS MILHOS QUE ESTOURAM DESCOBREM QUE A VIDA É UMA GRANDE BRINCADEIRA!!
RUBEM ALVES
sexta-feira, 11 de setembro de 2009
quinta-feira, 10 de setembro de 2009
Tudo a seu tempo
A retirada da fralda simultaneamente, durante o dia e à noite, evita que o pequeno desenvolva a chamada enurese noturna
O pediatra Rinaldo de Lamare, espécie de guru para as mães das décadas de 60 e 70, preconizava que o treino para controlar as necessidades fisiológicas poderia começar após a criança completar um ano. “Esse treinamento é um processo longo, demorado, exigindo paciência e perseverança dos pais, que lavará em média um período que se estende de 1 a 2 anos”, escreveu De Lamare em seu best seller A vida do Bebê (Editora Bloch).
De lá para cá muita coisa mudou. O processo de retirada de fraldas continua exigindo perseverança e paciência dos pais, mas pode ser bem mais simples. Também já não é tão precoce. “É importante respeitar o ritmo da criança e não seguir apenas a idade cronológica. O primeiro critério é que ela já saiba se expressar verbalmente, o que acontece, em média, a partir dos 2 anos”, diz a pedagoga Rilma Sant’Ana, 29 anos, que teve como tema de sua monografia “O controle dos Esfíncteres”. O principal ponto do trabalho de Rilma, que é professora na escola infantil Raio de Sol, em Curitiba, diz respeito à forma de como se dá esse processo. Ela defende que a retirada da fralda deve ser feita simultaneamente durante o dia e à noite, diferente do que é praticado normalmente quando a fralda noturna é mantida por mais tempo para evitar eventuais “escapadas”. “Isso vai dar um pouco mais de trabalho para os pais, que terão de levantar de madrugada para levar a criança ao banheiro num prazo de 2 a 3 meses. Por outro lado, não há perdas para a criança”, explica a pedagoga. Para apresentar tal proposta, Rilma se baseou num estudo feito pelos pediatras Cilene Karam Farinyuk e Dautro Zunino, entre 1993 e 1999, no Hospital de Clínicas. A pesquisa acompanhou 100 crianças – 50 meninos e 50 meninas. Deste total, 50 % passaram pela retirada simultânea e 50% pela tradicional, ficando sem fralda primeiro de dia, depois à noite. O estudo associou a retirada de fralda em duas fases à chamada enurese noturna – 32% das crianças desse grupo passaram a fazer xixi na cama depois do processo. “O sistema nervoso desencadeia um reflexo: durante o dia ele controla, à noite não. Se há a retirada de fralda simultânea, a partir dos dois anos, a criança não faz mais xixi na cama. É muito resolutivo”, defende a pediatra Cilene Karam.
Giulia, de 2 anos e 7 meses, não usa mais fraldas há meio ano. Ela já tinha o exemplo da irmã, Isabelli, 5, mas ver uma coleguinha usando calcinha na escola foi determinante para que ela decidisse se livrar das fraldas. Sua mãe, a dentista Geórgia Salomão, comemora o processo sem traumas. “Pedi ajuda na escola para que a levassem ao banheiro. Em uma semana tirei a fralda do dia e na outra a da noite. Ela fez, xixi na cama umas duas noites e nunca mais”, lembra. A mãe também seguiu a recomendação de diminuir a oferta de líquidos para Giulia após as 18 horas para que não haja muita necessidade de eliminação durante à noite.
A pedagoga Rilma Sant’Ana destaca a importância da interferência positiva dos pais, evitando desconfortos para o pequeno. “Freud mencionava a importância do cuidado na educação infantil e do respeito pelo corpo para que, quando adulto, esse indivíduo tenha um aspecto sexual bem resolvido”. Na retirada de fraldas, é permitido levar os brinquedos para o banheiro, ganhar calcinhas e cuecas com bichinhos, se despedir do xixi e do cocô. “Para a criança, isso é tão importante quanto qualquer outra atividade desenvolvida por ela”, diz Rilma.
Reportagem da Gazeta do Povo de 17 de outubro de 2004, realizada por Danielle Brito.
A retirada da fralda simultaneamente, durante o dia e à noite, evita que o pequeno desenvolva a chamada enurese noturna
O pediatra Rinaldo de Lamare, espécie de guru para as mães das décadas de 60 e 70, preconizava que o treino para controlar as necessidades fisiológicas poderia começar após a criança completar um ano. “Esse treinamento é um processo longo, demorado, exigindo paciência e perseverança dos pais, que lavará em média um período que se estende de 1 a 2 anos”, escreveu De Lamare em seu best seller A vida do Bebê (Editora Bloch).
De lá para cá muita coisa mudou. O processo de retirada de fraldas continua exigindo perseverança e paciência dos pais, mas pode ser bem mais simples. Também já não é tão precoce. “É importante respeitar o ritmo da criança e não seguir apenas a idade cronológica. O primeiro critério é que ela já saiba se expressar verbalmente, o que acontece, em média, a partir dos 2 anos”, diz a pedagoga Rilma Sant’Ana, 29 anos, que teve como tema de sua monografia “O controle dos Esfíncteres”. O principal ponto do trabalho de Rilma, que é professora na escola infantil Raio de Sol, em Curitiba, diz respeito à forma de como se dá esse processo. Ela defende que a retirada da fralda deve ser feita simultaneamente durante o dia e à noite, diferente do que é praticado normalmente quando a fralda noturna é mantida por mais tempo para evitar eventuais “escapadas”. “Isso vai dar um pouco mais de trabalho para os pais, que terão de levantar de madrugada para levar a criança ao banheiro num prazo de 2 a 3 meses. Por outro lado, não há perdas para a criança”, explica a pedagoga. Para apresentar tal proposta, Rilma se baseou num estudo feito pelos pediatras Cilene Karam Farinyuk e Dautro Zunino, entre 1993 e 1999, no Hospital de Clínicas. A pesquisa acompanhou 100 crianças – 50 meninos e 50 meninas. Deste total, 50 % passaram pela retirada simultânea e 50% pela tradicional, ficando sem fralda primeiro de dia, depois à noite. O estudo associou a retirada de fralda em duas fases à chamada enurese noturna – 32% das crianças desse grupo passaram a fazer xixi na cama depois do processo. “O sistema nervoso desencadeia um reflexo: durante o dia ele controla, à noite não. Se há a retirada de fralda simultânea, a partir dos dois anos, a criança não faz mais xixi na cama. É muito resolutivo”, defende a pediatra Cilene Karam.
Giulia, de 2 anos e 7 meses, não usa mais fraldas há meio ano. Ela já tinha o exemplo da irmã, Isabelli, 5, mas ver uma coleguinha usando calcinha na escola foi determinante para que ela decidisse se livrar das fraldas. Sua mãe, a dentista Geórgia Salomão, comemora o processo sem traumas. “Pedi ajuda na escola para que a levassem ao banheiro. Em uma semana tirei a fralda do dia e na outra a da noite. Ela fez, xixi na cama umas duas noites e nunca mais”, lembra. A mãe também seguiu a recomendação de diminuir a oferta de líquidos para Giulia após as 18 horas para que não haja muita necessidade de eliminação durante à noite.
A pedagoga Rilma Sant’Ana destaca a importância da interferência positiva dos pais, evitando desconfortos para o pequeno. “Freud mencionava a importância do cuidado na educação infantil e do respeito pelo corpo para que, quando adulto, esse indivíduo tenha um aspecto sexual bem resolvido”. Na retirada de fraldas, é permitido levar os brinquedos para o banheiro, ganhar calcinhas e cuecas com bichinhos, se despedir do xixi e do cocô. “Para a criança, isso é tão importante quanto qualquer outra atividade desenvolvida por ela”, diz Rilma.
Reportagem da Gazeta do Povo de 17 de outubro de 2004, realizada por Danielle Brito.
Pais não devem delegar tudo à escola
Filhos bem cuidados e seguros. De preferência, alfabetizados. Que já arrisquem umas continhas matemáticas, nem que seja com a ajuda dos dedinhos. Sociáveis, aprendam a dividir os brinquedos. Sejam solidários. Tomem gosto por uma merenda saudável. E se tornem em casa, tão organizados quanto na escola. A lista de expectativas dos pais em relação ao que a escola pode fazer pelos seus filhos antes dos 6 anos de idade pode incluir várias questões como essas. Mas a psicopedagoga Isabel Parolin, autora dos livros Pais Educadores – É proibido proibir? (Editora Mediação) e Professores Formadores: A Relação entre Família, Escola e Aprendizagem (Editora Positivo) alerta: “não adianta delegar para a escola algo que se aprende em família”. Ainda mais taxativa, Isabel diz que “escola não é depósito de criança”.
Matéria do Caderno Educação Infantil, da Gazeta do Povo de 21 de fevereiro de 2006
Filhos bem cuidados e seguros. De preferência, alfabetizados. Que já arrisquem umas continhas matemáticas, nem que seja com a ajuda dos dedinhos. Sociáveis, aprendam a dividir os brinquedos. Sejam solidários. Tomem gosto por uma merenda saudável. E se tornem em casa, tão organizados quanto na escola. A lista de expectativas dos pais em relação ao que a escola pode fazer pelos seus filhos antes dos 6 anos de idade pode incluir várias questões como essas. Mas a psicopedagoga Isabel Parolin, autora dos livros Pais Educadores – É proibido proibir? (Editora Mediação) e Professores Formadores: A Relação entre Família, Escola e Aprendizagem (Editora Positivo) alerta: “não adianta delegar para a escola algo que se aprende em família”. Ainda mais taxativa, Isabel diz que “escola não é depósito de criança”.
Matéria do Caderno Educação Infantil, da Gazeta do Povo de 21 de fevereiro de 2006
RESPOSTA PARA UM PESADELO
Pesquisadores encontram uma explicação para a síndrome da morte súbita em bebês
A possibilidade de que seu bebê recém-nascido possa morrer enquanto dorme, vítima da síndrome da morte súbita, é um pesadelo que atormenta muitos pais. Nos casos estudados, a maioria das crianças estava de bruços no momento em que deixou de respirar. O dado intrigante é que elas eram aparentemente saudáveis, capazes de reagir instintivamente à ameaça de sufocamento – ou mudando de posição ou chorando. Na semana passada, pesquisadores do Hospital das Crianças de Boston e da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, encontraram uma explicação para morte súbita em bebês. Em estudo publicado na última edição da revista científica Journal of the American Medical Association, eles relacionam a morte no berço a falhas na produção e no fluxo do neurotransmissor serotonina numa região específica do cérebro, o tronco cerebral. Nessa área, a substânca é responsável pelo controle de funções vitais como a respiração, o despertar, a sensibilidade ao gás carbônico, a percepção da dor, a freqüência cardíaca, a temperatura corporal e a pressão arterial, entre outras.
Quando uma criança dorme com o rosto voltado para o travesseiro, ela reinala o gás carbônico exalado na respiração e , com isso, inspira menos oxigênio. Normalmente, o aumento dos níveis de gás carbônico ativa o fluxo de serotonina, fazendo com que o bebê desperte, respire mais rápido e de alguma forma evite asfixia. Em bebês com a síndrome, falhas no sistema de liberação de serotonina impedem esses reflexos. O estudo americano baseou-se na comparação da necropsia do cérebro de 31 bebês fulminados pela morte no berço com a de dez bebês vítimas de outros tipos de morte.
O risco de morte súbita entre bebês que dormem de bruços é até nove vezes maior. É por isso que se recomenda que eles sejam colocados de barriga para cima. Devem-se evitar também travesseiros fofos e altos e o excesso de cobertas. Essas medidas, além de ajudar a evitar o risco de sufocamento, impedem a hipertermia. Como o sistema de regulação da temperatura corporal do bebê não está totalmente formado, pode ocorrer um desajuste que leva a uma diminuição dos batimentos cardíacos e do ritmo respiratório. O controle de sistemas vitais das crianças só está completamente maduro ao fim do primeiro ano de vida.
A incidência da síndrome da morte súbita é maior entre bebês de 2 a 5 meses, e o mal afeta mais meninos do que meninas. Os pediatras acreditam que a descoberta das causas da morte no berço possa levar a exames preventivos. “O mais provável é que se crie um teste capaz de medir a quantidade de serotonina no cérebro dos bebês”, diz a neuropediatra Márcia Pradella Hallinan, do Instituto do Sono, da Universidade Federal de São Paulo. Calcula-se que isso deva levar dez anos para acontecer. Mas só o fato de haver uma explicação para a morte súbita já é um grande passo – para a medicina e para os pais ansiosos.
Reportagem da Revista Veja de 8 de novembro de 2006, escrita por Anna Paula Buchalla.
Pesquisadores encontram uma explicação para a síndrome da morte súbita em bebês
A possibilidade de que seu bebê recém-nascido possa morrer enquanto dorme, vítima da síndrome da morte súbita, é um pesadelo que atormenta muitos pais. Nos casos estudados, a maioria das crianças estava de bruços no momento em que deixou de respirar. O dado intrigante é que elas eram aparentemente saudáveis, capazes de reagir instintivamente à ameaça de sufocamento – ou mudando de posição ou chorando. Na semana passada, pesquisadores do Hospital das Crianças de Boston e da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, encontraram uma explicação para morte súbita em bebês. Em estudo publicado na última edição da revista científica Journal of the American Medical Association, eles relacionam a morte no berço a falhas na produção e no fluxo do neurotransmissor serotonina numa região específica do cérebro, o tronco cerebral. Nessa área, a substânca é responsável pelo controle de funções vitais como a respiração, o despertar, a sensibilidade ao gás carbônico, a percepção da dor, a freqüência cardíaca, a temperatura corporal e a pressão arterial, entre outras.
Quando uma criança dorme com o rosto voltado para o travesseiro, ela reinala o gás carbônico exalado na respiração e , com isso, inspira menos oxigênio. Normalmente, o aumento dos níveis de gás carbônico ativa o fluxo de serotonina, fazendo com que o bebê desperte, respire mais rápido e de alguma forma evite asfixia. Em bebês com a síndrome, falhas no sistema de liberação de serotonina impedem esses reflexos. O estudo americano baseou-se na comparação da necropsia do cérebro de 31 bebês fulminados pela morte no berço com a de dez bebês vítimas de outros tipos de morte.
O risco de morte súbita entre bebês que dormem de bruços é até nove vezes maior. É por isso que se recomenda que eles sejam colocados de barriga para cima. Devem-se evitar também travesseiros fofos e altos e o excesso de cobertas. Essas medidas, além de ajudar a evitar o risco de sufocamento, impedem a hipertermia. Como o sistema de regulação da temperatura corporal do bebê não está totalmente formado, pode ocorrer um desajuste que leva a uma diminuição dos batimentos cardíacos e do ritmo respiratório. O controle de sistemas vitais das crianças só está completamente maduro ao fim do primeiro ano de vida.
A incidência da síndrome da morte súbita é maior entre bebês de 2 a 5 meses, e o mal afeta mais meninos do que meninas. Os pediatras acreditam que a descoberta das causas da morte no berço possa levar a exames preventivos. “O mais provável é que se crie um teste capaz de medir a quantidade de serotonina no cérebro dos bebês”, diz a neuropediatra Márcia Pradella Hallinan, do Instituto do Sono, da Universidade Federal de São Paulo. Calcula-se que isso deva levar dez anos para acontecer. Mas só o fato de haver uma explicação para a morte súbita já é um grande passo – para a medicina e para os pais ansiosos.
Reportagem da Revista Veja de 8 de novembro de 2006, escrita por Anna Paula Buchalla.
Heranças de família
Recentemente, li um artigo sobre o caráter descartável de quase tudo na sociedade que enfatiza o consumo. Um trecho me chamou a atenção, porque o autor ressaltou uma perda significativa. Cada vez menos as pessoas deixam de herança aos filhos algum objeto de uso doméstico. Isso ocorre porque quase todos têm pouca durabilidade e também porque a moda é muito transitória.
Ele usou exemplos interessantes: até há pouco tempo, quase todas as famílias tinham algum móvel antigo que pertencera a algum antepassado -ou uma batedeira de bolo, uma máquina manual de moer carne etc. Lembrei-me de que tenho, em minha sala, um móvel antigo comprado por meu pai antes de eu nascer. Toda vez que passo por ele, lembro-me com carinho de meu pai, da minha infância e de seus ensinamentos. Sempre me emociono.
Mais do que decorar a casa, a função desses objetos é a de corporificar a história da família, lembrar às pessoas as suas origens. Pelo visto, as novas gerações não terão essa sorte.
Tal pensamento me fez associar a um outro: assim como os objetos de uso geral têm se tornado descartáveis, as tradições familiares têm se perdido. Corremos o risco de nos tornarmos uma geração de famílias anônimas: sem identidade própria, sem tradições nem costumes.
Desse modo, tanto faz ter este ou aquele sobrenome.
Muitos pais têm desistido de transmitir aos filhos o que receberam de seus pais no convívio familiar: certos costumes de reuniões com parentes, de estilo de comemorar datas e presentear, de maneiras de encarar as dificuldades da vida e, principalmente, o valor de algumas atitudes. Tudo isso em nome da mudança dos tempos.
Um fato é verdadeiro: o mundo hoje é diferente do mundo em que esses pais foram criados, por isso parece que nada do que aprenderam com seus pais serve para a educação de seus filhos. Mas essa idéia tem um problema: o de que a história pode ser ignorada.
Isso significa, como um amigo gosta de dizer, que os pais precisam, a cada dia, na relação com os filhos, "inventar a roda, começar do zero". Isso torna tudo mais difícil, pois exige que os novos pais façam várias escolhas diariamente, e escolher é um processo complexo.
Tomemos um exemplo banal: a vida escolar dos filhos. Recebo, com regularidade, dúvidas dos pais sobre como proceder: acompanhar ou não as lições de casa, estudar ou não com os filhos, comparecer ou não às reuniões da escola, impor a leitura de tantos livros por mês ou não etc. O mais interessante é que, em quase todas as correspondências, eles dizem que, quando freqüentaram a escola, não tiveram esse tipo de ajuda dos pais.
A tradição de muitas famílias de delegar a responsabilidade escolar aos filhos tem se perdido, portanto. Por quê? Porque o êxito escolar hoje em dia tem sido muito mais valorizado.
Temos feito de tudo para dar aos filhos o que nossos pais não puderam nos dar, mas, ao mesmo tempo, temos negado ofertar a eles coisas importantes que herdamos. Talvez seja possível encontrar um equilíbrio nessa relação.
Recentemente, li um artigo sobre o caráter descartável de quase tudo na sociedade que enfatiza o consumo. Um trecho me chamou a atenção, porque o autor ressaltou uma perda significativa. Cada vez menos as pessoas deixam de herança aos filhos algum objeto de uso doméstico. Isso ocorre porque quase todos têm pouca durabilidade e também porque a moda é muito transitória.
Ele usou exemplos interessantes: até há pouco tempo, quase todas as famílias tinham algum móvel antigo que pertencera a algum antepassado -ou uma batedeira de bolo, uma máquina manual de moer carne etc. Lembrei-me de que tenho, em minha sala, um móvel antigo comprado por meu pai antes de eu nascer. Toda vez que passo por ele, lembro-me com carinho de meu pai, da minha infância e de seus ensinamentos. Sempre me emociono.
Mais do que decorar a casa, a função desses objetos é a de corporificar a história da família, lembrar às pessoas as suas origens. Pelo visto, as novas gerações não terão essa sorte.
Tal pensamento me fez associar a um outro: assim como os objetos de uso geral têm se tornado descartáveis, as tradições familiares têm se perdido. Corremos o risco de nos tornarmos uma geração de famílias anônimas: sem identidade própria, sem tradições nem costumes.
Desse modo, tanto faz ter este ou aquele sobrenome.
Muitos pais têm desistido de transmitir aos filhos o que receberam de seus pais no convívio familiar: certos costumes de reuniões com parentes, de estilo de comemorar datas e presentear, de maneiras de encarar as dificuldades da vida e, principalmente, o valor de algumas atitudes. Tudo isso em nome da mudança dos tempos.
Um fato é verdadeiro: o mundo hoje é diferente do mundo em que esses pais foram criados, por isso parece que nada do que aprenderam com seus pais serve para a educação de seus filhos. Mas essa idéia tem um problema: o de que a história pode ser ignorada.
Isso significa, como um amigo gosta de dizer, que os pais precisam, a cada dia, na relação com os filhos, "inventar a roda, começar do zero". Isso torna tudo mais difícil, pois exige que os novos pais façam várias escolhas diariamente, e escolher é um processo complexo.
Tomemos um exemplo banal: a vida escolar dos filhos. Recebo, com regularidade, dúvidas dos pais sobre como proceder: acompanhar ou não as lições de casa, estudar ou não com os filhos, comparecer ou não às reuniões da escola, impor a leitura de tantos livros por mês ou não etc. O mais interessante é que, em quase todas as correspondências, eles dizem que, quando freqüentaram a escola, não tiveram esse tipo de ajuda dos pais.
A tradição de muitas famílias de delegar a responsabilidade escolar aos filhos tem se perdido, portanto. Por quê? Porque o êxito escolar hoje em dia tem sido muito mais valorizado.
Temos feito de tudo para dar aos filhos o que nossos pais não puderam nos dar, mas, ao mesmo tempo, temos negado ofertar a eles coisas importantes que herdamos. Talvez seja possível encontrar um equilíbrio nessa relação.
Virose: saiba o que é e como fazer para evitá-la
Seu filho está com febre, vômitos, diarréia ou o nariz escorrendo. Você, mamãe, espera dois dias e os sintomas não passam. Leva o pequeno no médico para aliviar o seu "sofrimento" e escuta sempre a mesma coisa: é virose.
A pergunta que fica para você, mamãe, é a seguinte: você sabe o que é uma virose? Virose são doenças causadas por vírus que tem um ciclo determinado, com sintomas leves, sem conseqüências relevantes, e não há remédios eficazes para o seu combate.
Uma observação importante: esses "bichinhos" invisíveis adoram temperaturas baixas e locais com grande aglomeração de pessoas e pouca renovação do ar. Aparelhos de ar-condicionados sujos também fazem a alegria dos vírus. Um simples espirro de uma pessoa com virose pode proliferar o vírus. Uma pessoa infectada por vírus espalha no ar inúmeras partículas de agentes virais.
Os antibióticos são medicamentos usados no combate de doenças causadas por bactérias e não colaboram em nada para a luta contra os vírus. A defesa do organismo tanto da criança como o do adulto é capaz de combater essas doenças sem a necessidade de remédio.
As viroses não são todas iguais. Tem os vírus que se alojam nas vias respiratórias, causando dor de garganta, coriza e tosse. Já há outros que preferem o sistema gastrointestinal, causando vômitos e diarréias.
Cuidado com a virose - Em alguns casos, essas viroses podem evoluir para doenças mais graves, como pneumonia ou meningite viral. Portanto, todas as viroses precisam de um acompanhamento médico.
E por que os médicos preferem dizer que é uma virose a realmente constatar qual o vírus está causando os sintomas na criança?
Simplesmente porque são muitos tipos de vírus que existem e o trabalho e dinheiro gasto para a definição do tipo de vírus não ajudaria em nada no combate da doença que provavelmente já teria se curado até que o vírus fosse identificado. Ou ainda porque o vírus tem uma mutação muito rápida e seria difícil especificar qual o tipo.
Como se tratar - As viroses normalmente têm sintomas parecidos e duram em média de sete a dez dias. O tratamento deve ser com antitérmicos para baixar a febre, hidratação, descanso e boa alimentação.
Caso os vômitos e diarréia sejam muito freqüentes, relate outra vez ao pediatra, pois poderá ser que seu filho precise tomar soro na veia. Contate novamente o seu médico se a febre for muito alta e não passar depois de três dias.
As crianças, principalmente as menores de três anos, são as mais susceptíveis para contrair essas viroses, pois ainda não estão com o seu sistema imunológico maduro.
As que vão para a escola também correm maiores riscos de contágio, já que os vírus são transmissíveis através das gotículas de saliva que saem da criança contaminada que tosse ou espirra. Assim, quando uma criança na escolinha está com virose não é difícil que todas tenham também.
O bom é sabermos que é entrando em contato com esses vírus que o sistema imunológico dos nossos filhos vai se fortalecendo e ficando cada vez mais voraz no combate a esses vírus.
Dicas
A amamentação exclusiva até o sexto mês de vida do bebê proporciona maior defesa contra as viroses.
Não esqueça de vacinar seu filho. Muitas das vacinas combatem alguns vírus que causam as viroses.
Evite que a criança fique por muito tempo em lugares fechados e com muitas pessoas, principalmente no inverno. Desligue os aparelhos de ar-condicionado três vezes ao dia. Higienização do aparelho também é fundamental.
Bruno Thadeu
Seu filho está com febre, vômitos, diarréia ou o nariz escorrendo. Você, mamãe, espera dois dias e os sintomas não passam. Leva o pequeno no médico para aliviar o seu "sofrimento" e escuta sempre a mesma coisa: é virose.
A pergunta que fica para você, mamãe, é a seguinte: você sabe o que é uma virose? Virose são doenças causadas por vírus que tem um ciclo determinado, com sintomas leves, sem conseqüências relevantes, e não há remédios eficazes para o seu combate.
Uma observação importante: esses "bichinhos" invisíveis adoram temperaturas baixas e locais com grande aglomeração de pessoas e pouca renovação do ar. Aparelhos de ar-condicionados sujos também fazem a alegria dos vírus. Um simples espirro de uma pessoa com virose pode proliferar o vírus. Uma pessoa infectada por vírus espalha no ar inúmeras partículas de agentes virais.
Os antibióticos são medicamentos usados no combate de doenças causadas por bactérias e não colaboram em nada para a luta contra os vírus. A defesa do organismo tanto da criança como o do adulto é capaz de combater essas doenças sem a necessidade de remédio.
As viroses não são todas iguais. Tem os vírus que se alojam nas vias respiratórias, causando dor de garganta, coriza e tosse. Já há outros que preferem o sistema gastrointestinal, causando vômitos e diarréias.
Cuidado com a virose - Em alguns casos, essas viroses podem evoluir para doenças mais graves, como pneumonia ou meningite viral. Portanto, todas as viroses precisam de um acompanhamento médico.
E por que os médicos preferem dizer que é uma virose a realmente constatar qual o vírus está causando os sintomas na criança?
Simplesmente porque são muitos tipos de vírus que existem e o trabalho e dinheiro gasto para a definição do tipo de vírus não ajudaria em nada no combate da doença que provavelmente já teria se curado até que o vírus fosse identificado. Ou ainda porque o vírus tem uma mutação muito rápida e seria difícil especificar qual o tipo.
Como se tratar - As viroses normalmente têm sintomas parecidos e duram em média de sete a dez dias. O tratamento deve ser com antitérmicos para baixar a febre, hidratação, descanso e boa alimentação.
Caso os vômitos e diarréia sejam muito freqüentes, relate outra vez ao pediatra, pois poderá ser que seu filho precise tomar soro na veia. Contate novamente o seu médico se a febre for muito alta e não passar depois de três dias.
As crianças, principalmente as menores de três anos, são as mais susceptíveis para contrair essas viroses, pois ainda não estão com o seu sistema imunológico maduro.
As que vão para a escola também correm maiores riscos de contágio, já que os vírus são transmissíveis através das gotículas de saliva que saem da criança contaminada que tosse ou espirra. Assim, quando uma criança na escolinha está com virose não é difícil que todas tenham também.
O bom é sabermos que é entrando em contato com esses vírus que o sistema imunológico dos nossos filhos vai se fortalecendo e ficando cada vez mais voraz no combate a esses vírus.
Dicas
A amamentação exclusiva até o sexto mês de vida do bebê proporciona maior defesa contra as viroses.
Não esqueça de vacinar seu filho. Muitas das vacinas combatem alguns vírus que causam as viroses.
Evite que a criança fique por muito tempo em lugares fechados e com muitas pessoas, principalmente no inverno. Desligue os aparelhos de ar-condicionado três vezes ao dia. Higienização do aparelho também é fundamental.
Bruno Thadeu
Família em primeiro lugar
Há vinte anos presenciei uma cena que modificou radicalmente a minha vida. Foi num almoço com um empresário respeitado e bem mais velho que eu. Ele era um dos poucos engajados no social, embora fosse pessoalmente um workaholic.
O encontro foi na empresa, ele não tinha tempo para almoçar com a família em casa e nem com os amigos num restaurante. Os amigos tinham de ir até ele.
Seus olhos estavam estranhos, achei até que vi uma lágrima no olho esquerdo. Bobagem minha, pensei, homens não choram, especialmente na frente dos outros.
Mas durante a sobremesa ele começou a chorar copiosamente. Fiquei imaginando o que eu poderia ter dito de errado. Supus que ele tivesse se lembrado dos impostos pagos no dia, impostos que ele sabia nunca seriam usados no social.
“Minha filha vai se casar amanhã”, disse sem jeito, “e só agora a ficha caiu. Eu fui um tremendo workaholic e agora percebo que mal a conheci. Conheço tudo sobre o meu negócio, mal conheço minha própria filha. Dediquei todo meu tempo a minha empresa e me esqueci de me dedicar à família.”
Voltei pra casa arrasado. Por meses eu me lembrava dessa cena patética e sonhava com ela. Prometi a mim mesmo e a minha esposa que nunca aceitaria seguir uma carreira assim.
Colocar a família em primeiro lugar não é uma proposição ética tão óbvia, trivial nem tão aceita por aí. Basta entrar na internet e você encontrará milhares de artigos que lhe dirão para colocar em primeiro lugar os outros – a sociedade, os amigos, o dever, o trabalho, o cliente, raramente a família.
Normalmente, a grande discussão é como conciliar o conflito entre trabalho e família, e a saída salomônica é afirmar que dá para fazer ambos. Será?
O cinema americano vive mostrando o clichê do executivo atarefado que não consegue chegar a tempo à peça de teatro da filha ou ao campeonato mirim de seu filho. Ele se atrasou justamente porque tentou “conciliar” trabalho e família. Só que surgiu um imprevisto de última hora, e a cena termina com o pai contando uma mentira ou dando um desculpa esfarrapada.
Se tivesse colocado a família em primeiro lugar, esse executivo teria chegado a tempo, teria dado a ela o suporte psicológico necessário nos momentos de angústia que antecedem um teatro ou um jogo.
A questão é justamente essa. Se você, como eu e a grande maioria das pessoas, tem de “conciliar” família com amigos, trabalho, carreira ou política, é imprescindível determinar, muito antes das inevitáveis crises, quem você prioriza e coloca em primeiro lugar. Você não terá de tomar difíceis decisões de lealdade na última hora, pois a opção já terá sido previamente discutida e emocionalmente internalizada.
Na época pensava deixar de ser professora da USP, apesar do ambiente tranqüilo e dos três meses de férias que a carreira proporcionava. Mas aquele almoço me fez ficar, para desespero de meus alunos.
Colocar minha família em primeiro lugar tem um custo com o qual nem todos podem arcar. Implica menos em dinheiro, fama e projeção social. Muitos de seus amigos poderão ficar ricos, mais famosos que você e um dia olha-lo com desdém. Nessas horas, o consolo é lembrar um velho ditado que define bem por que priorizar a família vale a pena: “Nenhum sucesso na vida compensa um fracasso no lar”.
Qual o verdadeiro “sucesso” de ter um filho drogado por falta de atenção, carinho e tempo para ouvi-lo no dia-a-dia? De que adianta fazer uma fortuna para ter de dividi-la pela metade num ruinoso divórcio e pagar pensão à ex-esposa para o resto da vida? De que adianta ser um executivo bem sucedido e depois chorar durante a sobremesa porque não conheceu sequer a própria filha?
Os leitores que ficaram indignados porque não tiro férias podem ficar tranqüilos. Eu só não tiro férias aqui da Veja, como a maioria dos colunistas.
Matéria da Revista Veja de 20 de Fevereiro de 2002, escrita por Stephen Kanitz
Há vinte anos presenciei uma cena que modificou radicalmente a minha vida. Foi num almoço com um empresário respeitado e bem mais velho que eu. Ele era um dos poucos engajados no social, embora fosse pessoalmente um workaholic.
O encontro foi na empresa, ele não tinha tempo para almoçar com a família em casa e nem com os amigos num restaurante. Os amigos tinham de ir até ele.
Seus olhos estavam estranhos, achei até que vi uma lágrima no olho esquerdo. Bobagem minha, pensei, homens não choram, especialmente na frente dos outros.
Mas durante a sobremesa ele começou a chorar copiosamente. Fiquei imaginando o que eu poderia ter dito de errado. Supus que ele tivesse se lembrado dos impostos pagos no dia, impostos que ele sabia nunca seriam usados no social.
“Minha filha vai se casar amanhã”, disse sem jeito, “e só agora a ficha caiu. Eu fui um tremendo workaholic e agora percebo que mal a conheci. Conheço tudo sobre o meu negócio, mal conheço minha própria filha. Dediquei todo meu tempo a minha empresa e me esqueci de me dedicar à família.”
Voltei pra casa arrasado. Por meses eu me lembrava dessa cena patética e sonhava com ela. Prometi a mim mesmo e a minha esposa que nunca aceitaria seguir uma carreira assim.
Colocar a família em primeiro lugar não é uma proposição ética tão óbvia, trivial nem tão aceita por aí. Basta entrar na internet e você encontrará milhares de artigos que lhe dirão para colocar em primeiro lugar os outros – a sociedade, os amigos, o dever, o trabalho, o cliente, raramente a família.
Normalmente, a grande discussão é como conciliar o conflito entre trabalho e família, e a saída salomônica é afirmar que dá para fazer ambos. Será?
O cinema americano vive mostrando o clichê do executivo atarefado que não consegue chegar a tempo à peça de teatro da filha ou ao campeonato mirim de seu filho. Ele se atrasou justamente porque tentou “conciliar” trabalho e família. Só que surgiu um imprevisto de última hora, e a cena termina com o pai contando uma mentira ou dando um desculpa esfarrapada.
Se tivesse colocado a família em primeiro lugar, esse executivo teria chegado a tempo, teria dado a ela o suporte psicológico necessário nos momentos de angústia que antecedem um teatro ou um jogo.
A questão é justamente essa. Se você, como eu e a grande maioria das pessoas, tem de “conciliar” família com amigos, trabalho, carreira ou política, é imprescindível determinar, muito antes das inevitáveis crises, quem você prioriza e coloca em primeiro lugar. Você não terá de tomar difíceis decisões de lealdade na última hora, pois a opção já terá sido previamente discutida e emocionalmente internalizada.
Na época pensava deixar de ser professora da USP, apesar do ambiente tranqüilo e dos três meses de férias que a carreira proporcionava. Mas aquele almoço me fez ficar, para desespero de meus alunos.
Colocar minha família em primeiro lugar tem um custo com o qual nem todos podem arcar. Implica menos em dinheiro, fama e projeção social. Muitos de seus amigos poderão ficar ricos, mais famosos que você e um dia olha-lo com desdém. Nessas horas, o consolo é lembrar um velho ditado que define bem por que priorizar a família vale a pena: “Nenhum sucesso na vida compensa um fracasso no lar”.
Qual o verdadeiro “sucesso” de ter um filho drogado por falta de atenção, carinho e tempo para ouvi-lo no dia-a-dia? De que adianta fazer uma fortuna para ter de dividi-la pela metade num ruinoso divórcio e pagar pensão à ex-esposa para o resto da vida? De que adianta ser um executivo bem sucedido e depois chorar durante a sobremesa porque não conheceu sequer a própria filha?
Os leitores que ficaram indignados porque não tiro férias podem ficar tranqüilos. Eu só não tiro férias aqui da Veja, como a maioria dos colunistas.
Matéria da Revista Veja de 20 de Fevereiro de 2002, escrita por Stephen Kanitz
Gastando tempo com os filhos – O bom uso da televisão
Mannoun Chimelli
A televisão como qualquer objeto é indiferente, seu uso indiscriminado é que pode ser complicado para o plano educativo.
Os meios de comunicação de massa exercem um grande poder na formação das crianças, sobretudo o rádio e a televisão.
A televisão é um meio incomparável de informação, formação, transformação, pois é um dos meios mais acessíveis e envolventes. Concilia imagem e som e fornece a mensagem de forma atraente, agradável, dispensa esforço pessoal, e cativa, fortemente, adultos e crianças. É é exatamente aí que reside seu perigo. A TV é somente um objeto e muitas vezes recebe maior atenção que o próprio ser humano, pelo facínio que exerce sobre os próprios indivíduos.
A TV precisa ser tratada como um serviço ao homem e não como um escravizador seu.
Assim como em casa só recebemos as pessoas amigas, podemos também selecionar os programas que a família vai ver.
É preciso ensinar as crianças o que serve e o que não serve, para que saibam escolher, mas isto exige tempo e atenção, coisa que os adultos em geral, não estão dispostos a fazer.
Uma pesquisa realizada por alunos da USP em 1990, que baseou sua amostragem nas quatro principais redes de TV nacionais entre as 08:00 da manhã e meia noite, indicou que ao final de uma semana, se teria assistido a:
- 1145 cenas de nudez
- 276 relações sexuais
- 72 palavrões
- 707 brigas e facadas
- 1940 tiros
(a semana amostrada foi 28/05 a 03/06/90 a pesquisa foi citada na reportagem Sexo e Violência na TV da Revista Veja).
Diante destes números que de lá para cá só tenderam a piorar, poderíamos argumentar que ninguém ficaria assistindo aos 4 canais simultâneos assistindo TV o período todo, mas somente 2 horas diárias diante da telinha já seriam suficiente para receber doses maciças de violência, pornografia dos anúncios, propagandas, programas, etc.
Qual seria o efeito de tudo isto na cabeça das crianças, adolescentes e jovens??
A contínua insistência da programação televisiva nos temas ligados à violência, seqüestros, terrorismo, vai pouco a pouco tornando as pessoas insensíveis e indiferentes ao sofrimento.
Contudo, se por um lado a TV:
traz informação,
torna acessível teatro, música e esportes,
faz companhia para idosos e doentes,
exercita a memória, desenvolve a atenção e pode também ser um auxiliar educativo,
Não podemos esquecer que:
limita a atividade física e a conseqüente passividade física e mental que impõe as crianças, e ao contrário do que se pensa, a televisão não estimula, mas reduz a capacidade imaginativa, por apresentar imagens já prontas;
faz de tudo para conseguir o que deseja, estimula “a lei do mais forte” e do “vale tudo”;
desperta o interesse pelo sexo de forma precoce e dissociada da visão do amor e do casamento;
estimula a sensibilidade superficial – emociona-se com o drama e esquece a vida real.
desenvolve a tendência para o menor esforço, enfraquecendo a vontade a capacidade de lutar por atingir as metas que a pessoa se propôs.
transforma o lazer numa atividade individual, solitária ao invés de ser um tempo destinado a comunicação e ao relacionamento com os outros.
Ideologias camufladas, mensagens subliminares, ataques formais ou disfarçados com ironia à moral, à família, a crenças e valores fundamentais, misturado com a pornografia, sordidez e falsa naturalidade são apresentadas em cenas chocantes, em chamadas nos horários nobres.
Segundo o professor Haim Grunspun da PUC –SP “ a televisão brasileira enveredou por um caminho que não está ligado a educação do povo, nela ninguém se preocupa com as crianças, com seu futuro sexual e com as gerações que se estão formando na frente do vídeo”.
O que fazer então??
Seguem algumas dicas:
- Nunca deixe a televisão ligada o tempo todo, ao contrário, mantenha habitualmente desligada, utilizando-a para assistir em família os programas selecionados, principalmente se as crianças forem pequenas;
- Selecione e marque com antecedência os programas, canais e horários que vale a pena assistir;
- Procure estar presente para orientar a utilização da televisão dos dos vídeos.
- Interprete filmes, novelas, programas, dando a verdadeira e honesta visão dos temas.
Assim, você estará formando no jovem o critério pessoal que eles precisarão futuramente para orientar a própria vida.
“A entrada da televisão nos lares, modificou hábitos, costumes e horários familiares, mas não é capaz de destruir seja o que for, se os pais não deixarem que o faça. É a atitude que os pais adotam perante dela, tornando-a um meio, um instrumento a seu serviço, e não o contrário, o que vai ditar a sua influência positiva ou negativa”.
J. de Alba, O tempo livre dos filhos, EUNSA, Pamplona, 1980.
Comunicação & Cultura
Mannoun Chimelli
A televisão como qualquer objeto é indiferente, seu uso indiscriminado é que pode ser complicado para o plano educativo.
Os meios de comunicação de massa exercem um grande poder na formação das crianças, sobretudo o rádio e a televisão.
A televisão é um meio incomparável de informação, formação, transformação, pois é um dos meios mais acessíveis e envolventes. Concilia imagem e som e fornece a mensagem de forma atraente, agradável, dispensa esforço pessoal, e cativa, fortemente, adultos e crianças. É é exatamente aí que reside seu perigo. A TV é somente um objeto e muitas vezes recebe maior atenção que o próprio ser humano, pelo facínio que exerce sobre os próprios indivíduos.
A TV precisa ser tratada como um serviço ao homem e não como um escravizador seu.
Assim como em casa só recebemos as pessoas amigas, podemos também selecionar os programas que a família vai ver.
É preciso ensinar as crianças o que serve e o que não serve, para que saibam escolher, mas isto exige tempo e atenção, coisa que os adultos em geral, não estão dispostos a fazer.
Uma pesquisa realizada por alunos da USP em 1990, que baseou sua amostragem nas quatro principais redes de TV nacionais entre as 08:00 da manhã e meia noite, indicou que ao final de uma semana, se teria assistido a:
- 1145 cenas de nudez
- 276 relações sexuais
- 72 palavrões
- 707 brigas e facadas
- 1940 tiros
(a semana amostrada foi 28/05 a 03/06/90 a pesquisa foi citada na reportagem Sexo e Violência na TV da Revista Veja).
Diante destes números que de lá para cá só tenderam a piorar, poderíamos argumentar que ninguém ficaria assistindo aos 4 canais simultâneos assistindo TV o período todo, mas somente 2 horas diárias diante da telinha já seriam suficiente para receber doses maciças de violência, pornografia dos anúncios, propagandas, programas, etc.
Qual seria o efeito de tudo isto na cabeça das crianças, adolescentes e jovens??
A contínua insistência da programação televisiva nos temas ligados à violência, seqüestros, terrorismo, vai pouco a pouco tornando as pessoas insensíveis e indiferentes ao sofrimento.
Contudo, se por um lado a TV:
traz informação,
torna acessível teatro, música e esportes,
faz companhia para idosos e doentes,
exercita a memória, desenvolve a atenção e pode também ser um auxiliar educativo,
Não podemos esquecer que:
limita a atividade física e a conseqüente passividade física e mental que impõe as crianças, e ao contrário do que se pensa, a televisão não estimula, mas reduz a capacidade imaginativa, por apresentar imagens já prontas;
faz de tudo para conseguir o que deseja, estimula “a lei do mais forte” e do “vale tudo”;
desperta o interesse pelo sexo de forma precoce e dissociada da visão do amor e do casamento;
estimula a sensibilidade superficial – emociona-se com o drama e esquece a vida real.
desenvolve a tendência para o menor esforço, enfraquecendo a vontade a capacidade de lutar por atingir as metas que a pessoa se propôs.
transforma o lazer numa atividade individual, solitária ao invés de ser um tempo destinado a comunicação e ao relacionamento com os outros.
Ideologias camufladas, mensagens subliminares, ataques formais ou disfarçados com ironia à moral, à família, a crenças e valores fundamentais, misturado com a pornografia, sordidez e falsa naturalidade são apresentadas em cenas chocantes, em chamadas nos horários nobres.
Segundo o professor Haim Grunspun da PUC –SP “ a televisão brasileira enveredou por um caminho que não está ligado a educação do povo, nela ninguém se preocupa com as crianças, com seu futuro sexual e com as gerações que se estão formando na frente do vídeo”.
O que fazer então??
Seguem algumas dicas:
- Nunca deixe a televisão ligada o tempo todo, ao contrário, mantenha habitualmente desligada, utilizando-a para assistir em família os programas selecionados, principalmente se as crianças forem pequenas;
- Selecione e marque com antecedência os programas, canais e horários que vale a pena assistir;
- Procure estar presente para orientar a utilização da televisão dos dos vídeos.
- Interprete filmes, novelas, programas, dando a verdadeira e honesta visão dos temas.
Assim, você estará formando no jovem o critério pessoal que eles precisarão futuramente para orientar a própria vida.
“A entrada da televisão nos lares, modificou hábitos, costumes e horários familiares, mas não é capaz de destruir seja o que for, se os pais não deixarem que o faça. É a atitude que os pais adotam perante dela, tornando-a um meio, um instrumento a seu serviço, e não o contrário, o que vai ditar a sua influência positiva ou negativa”.
J. de Alba, O tempo livre dos filhos, EUNSA, Pamplona, 1980.
Comunicação & Cultura
Identidade: o desafio da infância
“As crianças não são mais os ‘filhos de’ que moram na casa branca de janelas verdes. Hoje não sabemos quem mora na casa do lado ou no andar de cima. Mal nos cumprimentamos nos elevadores e não sabemos os nomes dos nossos vizinhos de porta. Adeus à pertinência, identidade, segurança e auto-estima.”
Um dia desses, em uma escorregada saudosista, lembrei de um fato que ficou esquecido por quase 50 anos. Lá longe, mais ou menos com 10 anos, estava no meio de uma briga com um garoto do bairro, longe vários quarteirões da minha casa, quando subitamente fui afastado com um puxão de orelhas por um cidadão que eu não conhecia. O surpreendente é que ele sabia o meu nome, o dos meus pais e aonde morávamos. Foi taxativo: “Seus pais são gente de bem e devem achar que você está jogando bola, pare de brigar e vá para casa”.
Esta lembrança mobilizadora me fez refletir sobre as crianças de hoje. Elas sofrem de uma dupla perda de identidade. A primeira diz respeito à identidade sócio-cultural. Não existe mais o bairro e a rua de pertinência, porque a rua se transformou em um cenário de guerra, não se brinca mais fora de casa e também porque na nossa alienação nem perceberíamos que dois garotos estão brigando.
As crianças não são mais os ‘filhos de’ que moram na casa branca de janelas verdes. Hoje não sabemos quem mora na casa do lado ou no andar de cima. Mal nos cumprimentamos nos elevadores e não sabemos os nomes dos nossos vizinhos de porta. Adeus à pertinência, identidade, segurança e auto-estima.”
A segunda perda é a da identidade familiar. Neste mundo caótico, de intensa mobilidade social, da procura de melhores empregos ou da quimérica qualidade de vida, os membros das famílias se distanciam e diminuem muito o contato afetivo.
Por ter menos contato, em especial com avós, as crianças têm menos chances de ouvir os costumes, mitos e romances familiares, via transmissão oral. Têm que construir o passado por meio de algumas poucas fotos e histórias distorcidas ou contadas a meia pelos jovens pais.
Gabriel Garcia Márquez em seu livro Viver para Contar nos ensina que a vida não é a que se viveu, se não a que lembramos e de como contamos nossas lembranças. As escolas tiveram que tomar para si essa incumbência, que acabou virando um trabalho escolar. Nada contra mas temos que reconhecer que nossas crianças entram em contato com os “retalhos dos retalhos” do passado e podem correr o risco de ficar sem referências.
Os avós são importantes por isso e por muitas outras coisas maravilhosas. Um provérbio chinês diz que os avós devem mostrar aos netos que os picos das montanhas existem, cabe aos pais lhe mostrar como chegar até eles.
Leonardo Marcos Posterna
“As crianças não são mais os ‘filhos de’ que moram na casa branca de janelas verdes. Hoje não sabemos quem mora na casa do lado ou no andar de cima. Mal nos cumprimentamos nos elevadores e não sabemos os nomes dos nossos vizinhos de porta. Adeus à pertinência, identidade, segurança e auto-estima.”
Um dia desses, em uma escorregada saudosista, lembrei de um fato que ficou esquecido por quase 50 anos. Lá longe, mais ou menos com 10 anos, estava no meio de uma briga com um garoto do bairro, longe vários quarteirões da minha casa, quando subitamente fui afastado com um puxão de orelhas por um cidadão que eu não conhecia. O surpreendente é que ele sabia o meu nome, o dos meus pais e aonde morávamos. Foi taxativo: “Seus pais são gente de bem e devem achar que você está jogando bola, pare de brigar e vá para casa”.
Esta lembrança mobilizadora me fez refletir sobre as crianças de hoje. Elas sofrem de uma dupla perda de identidade. A primeira diz respeito à identidade sócio-cultural. Não existe mais o bairro e a rua de pertinência, porque a rua se transformou em um cenário de guerra, não se brinca mais fora de casa e também porque na nossa alienação nem perceberíamos que dois garotos estão brigando.
As crianças não são mais os ‘filhos de’ que moram na casa branca de janelas verdes. Hoje não sabemos quem mora na casa do lado ou no andar de cima. Mal nos cumprimentamos nos elevadores e não sabemos os nomes dos nossos vizinhos de porta. Adeus à pertinência, identidade, segurança e auto-estima.”
A segunda perda é a da identidade familiar. Neste mundo caótico, de intensa mobilidade social, da procura de melhores empregos ou da quimérica qualidade de vida, os membros das famílias se distanciam e diminuem muito o contato afetivo.
Por ter menos contato, em especial com avós, as crianças têm menos chances de ouvir os costumes, mitos e romances familiares, via transmissão oral. Têm que construir o passado por meio de algumas poucas fotos e histórias distorcidas ou contadas a meia pelos jovens pais.
Gabriel Garcia Márquez em seu livro Viver para Contar nos ensina que a vida não é a que se viveu, se não a que lembramos e de como contamos nossas lembranças. As escolas tiveram que tomar para si essa incumbência, que acabou virando um trabalho escolar. Nada contra mas temos que reconhecer que nossas crianças entram em contato com os “retalhos dos retalhos” do passado e podem correr o risco de ficar sem referências.
Os avós são importantes por isso e por muitas outras coisas maravilhosas. Um provérbio chinês diz que os avós devem mostrar aos netos que os picos das montanhas existem, cabe aos pais lhe mostrar como chegar até eles.
Leonardo Marcos Posterna
As Mães, seus bebês e seus tempos...
Nos tempos atuais, exige-se muito de tudo e de todos. A sociedade vem se organizando de forma a incentivar cada vez a superação em todos os aspectos e não ficam de fora deste cenário as mães e seus filhos. Das primeiras, é esperado que dêem qualidade e quantidade de seu tempo, que ensinem, que eduquem, que evitem “traumas”, que não falhem, como se os erros que praticamos sem intencionalidade não nos levassem a crescer e amadurecer. Por mecanismo de ajuste, muitas vezes esta mãe é levada a esperar que seu bebê seja o mais esperto, dócil, educado e que não apresente fragilidades ou dificuldades, como se crescer fosse um aprendizado fácil para um iniciante.
A pressam-se as mães a ser eficazes e apressam-se as crianças a crescer, ainda que com o custo tão elevado do empobrecimento dos recursos internos, da padronização de necessidades e da pouca expressão afetiva.
Nós, educadores e profissionais de saúde ligados à infância, precisamos propor, num ajuste dos padrões atuais, que as relações entre mães e seus bebês sejam baseadas em uma grande busca de conhecimento mútuo. Esta busca, por sua vez, vai gerar uma boa dose de respeito por seus tempos, seus desejos mais verdadeiros, seus ritmos individuais e, consequentemente, permitir o transbordar de afetos mais legítimos.
É inegável que as mães têm um papel fundamental na formação de uma personalidade saudavelmente equilibrada, flexível, positiva e perseverante, mas para que isto se dê é preciso deixá-la ser, antes de tudo, humana, permitindo aos seus bebês uma identificação verdadeira. Crescerão crianças com autoconceitos mais realistas, com vínculos afetivos mais verdadeiros e desenvolverão uma maior capacidade de resiliência.
Este termo - resiliência - é um conceito que a psicologia contemporânea emprestou da física e significa a capacidade de um objeto de recuperar-se depois de ter sido comprimido, expandido ou dobrado, voltando ao seu estado original.
Resiliência é a capacidade humana de superar as adversidades das experiências da vida, de combater com força e determinação os obstáculos, de tirar proveito das dificuldades para crescer, transformar, ir em frente, atingindo objetivos, metas. É aprender com os obstáculos, sofrimentos e danos causados por um acontecimento, levando à sua elaboração em outro nível de consciência.
Podemos refletir que a resiliência tem a ver com o vínculo afetivo de cada dinâmica familiar ou social. É preciso que sejamos queridos e que possamos contar com pessoas que nos satisfaçam quanto às nossas necessidades básicas e que nos façam sentir únicos, úteis e importantes. Há estudos que mostram que esta capacidade pode ser maior por herança genética, mas a resiliência pode também ser desenvolvida ao longo da vida. Para isto, é necessário que os adultos escutem as crianças, dêem importância ao que seja importante para elas, encorajem a expressão de sentimentos de tristeza, raiva e medo, aceitem seus conflitos entre amor e ódio, ofereçam o apoio indispensável para que eles se sintam seguros, incentivem sua independência, autonomia e iniciativa para saídas criativas e soluções para os problemas. Desta maneira, a auto-estima sairá fortalecida e a resiliência aumentada. No entanto, mães que não se permitem ser escutadas, que perdem sua capacidade de buscar o que lhes gera prazer, que não suportam seus próprios sentimentos contraditórios em relação a seus bebês e, finalmente, que não se permitam ser únicas, terão mais dificuldades de se sentir seguras o bastante para ser suficientemente boas, cada uma a seu tempo.
Por Fernanda Roche
Nos tempos atuais, exige-se muito de tudo e de todos. A sociedade vem se organizando de forma a incentivar cada vez a superação em todos os aspectos e não ficam de fora deste cenário as mães e seus filhos. Das primeiras, é esperado que dêem qualidade e quantidade de seu tempo, que ensinem, que eduquem, que evitem “traumas”, que não falhem, como se os erros que praticamos sem intencionalidade não nos levassem a crescer e amadurecer. Por mecanismo de ajuste, muitas vezes esta mãe é levada a esperar que seu bebê seja o mais esperto, dócil, educado e que não apresente fragilidades ou dificuldades, como se crescer fosse um aprendizado fácil para um iniciante.
A pressam-se as mães a ser eficazes e apressam-se as crianças a crescer, ainda que com o custo tão elevado do empobrecimento dos recursos internos, da padronização de necessidades e da pouca expressão afetiva.
Nós, educadores e profissionais de saúde ligados à infância, precisamos propor, num ajuste dos padrões atuais, que as relações entre mães e seus bebês sejam baseadas em uma grande busca de conhecimento mútuo. Esta busca, por sua vez, vai gerar uma boa dose de respeito por seus tempos, seus desejos mais verdadeiros, seus ritmos individuais e, consequentemente, permitir o transbordar de afetos mais legítimos.
É inegável que as mães têm um papel fundamental na formação de uma personalidade saudavelmente equilibrada, flexível, positiva e perseverante, mas para que isto se dê é preciso deixá-la ser, antes de tudo, humana, permitindo aos seus bebês uma identificação verdadeira. Crescerão crianças com autoconceitos mais realistas, com vínculos afetivos mais verdadeiros e desenvolverão uma maior capacidade de resiliência.
Este termo - resiliência - é um conceito que a psicologia contemporânea emprestou da física e significa a capacidade de um objeto de recuperar-se depois de ter sido comprimido, expandido ou dobrado, voltando ao seu estado original.
Resiliência é a capacidade humana de superar as adversidades das experiências da vida, de combater com força e determinação os obstáculos, de tirar proveito das dificuldades para crescer, transformar, ir em frente, atingindo objetivos, metas. É aprender com os obstáculos, sofrimentos e danos causados por um acontecimento, levando à sua elaboração em outro nível de consciência.
Podemos refletir que a resiliência tem a ver com o vínculo afetivo de cada dinâmica familiar ou social. É preciso que sejamos queridos e que possamos contar com pessoas que nos satisfaçam quanto às nossas necessidades básicas e que nos façam sentir únicos, úteis e importantes. Há estudos que mostram que esta capacidade pode ser maior por herança genética, mas a resiliência pode também ser desenvolvida ao longo da vida. Para isto, é necessário que os adultos escutem as crianças, dêem importância ao que seja importante para elas, encorajem a expressão de sentimentos de tristeza, raiva e medo, aceitem seus conflitos entre amor e ódio, ofereçam o apoio indispensável para que eles se sintam seguros, incentivem sua independência, autonomia e iniciativa para saídas criativas e soluções para os problemas. Desta maneira, a auto-estima sairá fortalecida e a resiliência aumentada. No entanto, mães que não se permitem ser escutadas, que perdem sua capacidade de buscar o que lhes gera prazer, que não suportam seus próprios sentimentos contraditórios em relação a seus bebês e, finalmente, que não se permitam ser únicas, terão mais dificuldades de se sentir seguras o bastante para ser suficientemente boas, cada uma a seu tempo.
Por Fernanda Roche
O Mundo Adulto em Miniatura
Li um artigo do Sérgio Dávila na Revista da Folha de 06/04 e que está publicado no blog - http://sergiodavila.blog.uol.com.br/ - que me levou a fazer algumas associações interessantes. No artigo, ele conta a tendência de, nos EUA, crianças serem acusadas de assédio sexual.
Cada vez mais, percebemos esse movimento, creio que global, de o mundo adulto tratar as questões da infância à sua moda. Isso significa tratar a criança como se ela fosse a miniatura do adulto.
Quais seriam as causas dessa tendência? Certamente devem ser várias, mas destaco uma delas, que nos interessa em nossas reflexões: a ocupação exagerada do adulto consigo mesmo e com seu mundo. Então, se a criança exige muito do adulto, a melhor maneira de evitar tal trabalho sem dúvida é fazer com que ela cresça rapidamente. E assim temos feito.
Aqui no Brasil, ainda não tenho conhecimento de casos em que crianças são acusadas formalmente de assédio sexual. Mas, conheço muitos professores que pensam de modo muito parecido quando crianças se tocam, se exploram mutuamente, procuram ver os genitais dos colegas etc.
Sei também de casos que ocorrem em escolas – como brigas, por exemplo - e que acabam na polícia. E não estou me referindo aos jovens que freqüentam o segundo ciclo do ensino fundamental ou mesmo o ensino médio e sim a crianças do primeiro ciclo do fundamental, portanto com menos de 10 anos. Quer dizer: no lugar da educação, colocamos a polícia. No lugar da dedicação, colocamos a omissão.
Essas são apenas algumas amostras das conseqüências que podemos ter ao tratar crianças como se elas tivessem todos os recursos que os adultos têm – e que muitas vezes não têm – como autonomia, autocontrole, domínio de seus impulsos socialmente inaceitáveis etc.
Recomendo, para quem ainda não teve a oportunidade de conhecer, o livro “O Senhor das Moscas” ou o filme nele baseado, com o mesmo nome. Ele é magistral ao mostrar o que ocorre com crianças que convivem sem a intervenção dos adultos, ou o que ocorre no mundo adulto quando este se encontra infantilizado.
Aliás, tenho pensado muito nisso também: será que tratamos as crianças como adultos porque queremos o lugar de criança para nós?
Rosely Sayão
Li um artigo do Sérgio Dávila na Revista da Folha de 06/04 e que está publicado no blog - http://sergiodavila.blog.uol.com.br/ - que me levou a fazer algumas associações interessantes. No artigo, ele conta a tendência de, nos EUA, crianças serem acusadas de assédio sexual.
Cada vez mais, percebemos esse movimento, creio que global, de o mundo adulto tratar as questões da infância à sua moda. Isso significa tratar a criança como se ela fosse a miniatura do adulto.
Quais seriam as causas dessa tendência? Certamente devem ser várias, mas destaco uma delas, que nos interessa em nossas reflexões: a ocupação exagerada do adulto consigo mesmo e com seu mundo. Então, se a criança exige muito do adulto, a melhor maneira de evitar tal trabalho sem dúvida é fazer com que ela cresça rapidamente. E assim temos feito.
Aqui no Brasil, ainda não tenho conhecimento de casos em que crianças são acusadas formalmente de assédio sexual. Mas, conheço muitos professores que pensam de modo muito parecido quando crianças se tocam, se exploram mutuamente, procuram ver os genitais dos colegas etc.
Sei também de casos que ocorrem em escolas – como brigas, por exemplo - e que acabam na polícia. E não estou me referindo aos jovens que freqüentam o segundo ciclo do ensino fundamental ou mesmo o ensino médio e sim a crianças do primeiro ciclo do fundamental, portanto com menos de 10 anos. Quer dizer: no lugar da educação, colocamos a polícia. No lugar da dedicação, colocamos a omissão.
Essas são apenas algumas amostras das conseqüências que podemos ter ao tratar crianças como se elas tivessem todos os recursos que os adultos têm – e que muitas vezes não têm – como autonomia, autocontrole, domínio de seus impulsos socialmente inaceitáveis etc.
Recomendo, para quem ainda não teve a oportunidade de conhecer, o livro “O Senhor das Moscas” ou o filme nele baseado, com o mesmo nome. Ele é magistral ao mostrar o que ocorre com crianças que convivem sem a intervenção dos adultos, ou o que ocorre no mundo adulto quando este se encontra infantilizado.
Aliás, tenho pensado muito nisso também: será que tratamos as crianças como adultos porque queremos o lugar de criança para nós?
Rosely Sayão
Médicos se posicionam formalmente contra o TÊNIS DE RODINHAS
Lançado há alguns meses, o tênis com rodinhas caiu no gosto das crianças com menos de seis anos, embora ainda deixe muitos pais preocupados. Ciente de que o calçado está sendo utilizado por crianças de 70 países, a Academia Americana de Cirurgiões Ortopédicos acaba de lançar um folheto que alerta para a importância de as crianças utilizarem capacete e protetores nos pulsos, joelhos e cotovelos sempre que estiverem usando os tênis com rodinhas.
“Como esses calçados são vendidos em lojas de departamentos, os pais geralmente acreditam que não oferecem riscos a seus filhos”, diz o ortopedista pediátrico James Beaty – presidente da Academia.
Na opinião do médico ortopedista Luiz Antonio de Azevedo Lage, desde o lançamento do tênis com rodinhas a classe médica acreditava que o calçado podia se transformar em um brinquedo perigoso.
“O grande problema é que o calçado continua sendo vendido como inofensivo, quando pode causar lesões tão importantes quanto o ciclismo ou o skatismo, por exemplo. Pior ainda é o fato de que, em qualquer esporte, há um tempo de aprendizado que costuma receber a orientação e atenção dos pais ou responsáveis. Isso não ocorre com o tênis-patins, já que ao vestir o calçado, a criança veste também o brinquedo, assumindo seus riscos”, diz Lage.
Para o especialista, o modismo tem levado cada vez mais crianças para o Pronto Atendimento dos hospitais. “Muitas vezes elas testam os patins longe da assistência dos pais, sem avaliar riscos ambientais como irregularidades no piso e movimento de pedestres ou automóveis, o que pode causar graves acidentes e lesões diversas, principalmente em membros superiores, que são as fraturas mais comuns em crianças”.
Lage defende que mais vale dar um par de patins à criança e ensiná-la a usar de forma adequada e protegida, vestindo os equipamentos de segurança adequados, do que ‘embarcar’ em modismos que podem comprometer os movimentos de alguém que não tem capacidade de decidir sozinho.
Fonte: Dr. Luiz Antonio de Azevedo Lage, médico ortopedista da Clínica Lage Ortopedia de Ponta e membro da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia.
Lançado há alguns meses, o tênis com rodinhas caiu no gosto das crianças com menos de seis anos, embora ainda deixe muitos pais preocupados. Ciente de que o calçado está sendo utilizado por crianças de 70 países, a Academia Americana de Cirurgiões Ortopédicos acaba de lançar um folheto que alerta para a importância de as crianças utilizarem capacete e protetores nos pulsos, joelhos e cotovelos sempre que estiverem usando os tênis com rodinhas.
“Como esses calçados são vendidos em lojas de departamentos, os pais geralmente acreditam que não oferecem riscos a seus filhos”, diz o ortopedista pediátrico James Beaty – presidente da Academia.
Na opinião do médico ortopedista Luiz Antonio de Azevedo Lage, desde o lançamento do tênis com rodinhas a classe médica acreditava que o calçado podia se transformar em um brinquedo perigoso.
“O grande problema é que o calçado continua sendo vendido como inofensivo, quando pode causar lesões tão importantes quanto o ciclismo ou o skatismo, por exemplo. Pior ainda é o fato de que, em qualquer esporte, há um tempo de aprendizado que costuma receber a orientação e atenção dos pais ou responsáveis. Isso não ocorre com o tênis-patins, já que ao vestir o calçado, a criança veste também o brinquedo, assumindo seus riscos”, diz Lage.
Para o especialista, o modismo tem levado cada vez mais crianças para o Pronto Atendimento dos hospitais. “Muitas vezes elas testam os patins longe da assistência dos pais, sem avaliar riscos ambientais como irregularidades no piso e movimento de pedestres ou automóveis, o que pode causar graves acidentes e lesões diversas, principalmente em membros superiores, que são as fraturas mais comuns em crianças”.
Lage defende que mais vale dar um par de patins à criança e ensiná-la a usar de forma adequada e protegida, vestindo os equipamentos de segurança adequados, do que ‘embarcar’ em modismos que podem comprometer os movimentos de alguém que não tem capacidade de decidir sozinho.
Fonte: Dr. Luiz Antonio de Azevedo Lage, médico ortopedista da Clínica Lage Ortopedia de Ponta e membro da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia.
Em tempos de superbabás...
Considero pertinente a discussão sobre a proliferação dos atuais Reality shows envolvendo crianças e seus pais, orientados por “superbabás”. Além da exposição das crianças, o que já seria questionável, os programas partem de situações extremas que são utilizadas como parâmetros para deflagrar a incompetência dos pais diante do processo educacional de seus filhos e assim, justificar a invasão desta relação por uma desconhecida. Situações que claramente mostram dificuldades nos vínculos afetivos familiares são abordadas de forma superficial. Se conseguirmos um olhar mais alongado, percebemos que, em muitos casos, a babá não é uma desconhecida para as crianças, estabelece bons vínculos com ela, mas mesmo que seja sabedora de boas soluções para impasses, uma profissional consciente de sua função não deveria chamar a atenção dos pais diante dos próprios filhos, mas partilhar suas experiências anteriores e atuais, auxiliando na reflexão e incrementando a autoconfiança dos pais em relação às suas atitudes. Parece haver uma distorção do papel de uma boa babá em uma família comum.
Se o olhar for reduzido ao entretenimento, considero mais útil que os pais aproveitem o limitado tempo que lhes resta junto aos filhos tocando, brincando, conhecendo-se mutuamente, ampliando sua própria sensibilidade em relação às necessidades de sua criança em cada fase específica do que assistindo a situações alheias.
Fernanda Roche é psicóloga e coordenadora do Projeto CRIANÇA EM FOCO, que ao longo dos últimos cinco anos formou mais de oitocentas babás.
LEITURA
A leitura é também uma forma bastante rica do brincar. Os livros, desde os mais simples, trazem um número muito grande de informações à criança, em forma de figuras, cores, texturas, sons, letras, números, formas geométricas e cheiros, enfim, todo tipo de estimulação necessária ao bom desenvolvimento intelectual da criança. Além disso, cada vez mais eles trazem riquíssimas ilustrações que também estimulam a criatividade da criança.
Desde os primeiros meses, é importante colocar livros, de plástico ou tecido, no meio dos brinquedos do bebê, para que comece a se familiarizar com estes. Às vezes não percebemos, mas os bebês têm uma capacidade muito grande de observação do mundo à sua volta, e provavelmente já terão visto o papai, a mamãe ou sua babá lendo livros ou folheando revistas, e nos surpreenderão sabendo manuseá-los muito cedo.
Os livros servem, num primeiro momento, para que o bebê tenha acesso a estímulos variados; adiante, vão servir para que escute o adulto contar-lhe histórias, que por mais simples que sejam, lhe ajudarão a começar a relacionar as figuras com seus nomes, ampliando seu vocabulário. Mais adiante um pouco, a criança aprende a conhecer a existência das letras. Aos poucos, ela vai se dando conta que estas se juntam formando as palavras que o adulto lê, o que já é um início do processo de alfabetização. Já alfabetizadas, o livro é fonte inesgotável de conhecimento e fantasia para a criança.
Os livros têm a função fundamental de formar o imaginário da criança, dar-lhe a oportunidade de "viajar", abre lacunas que são preenchidas por cada uma a seu jeito. Além disso, são objetos de formação para elas! Elas experenciam através do que lêem, aprendem, se formam e se transformam, podendo assim modificar o mundo também. São companheiros que a criança pode levar a qualquer lugar, indispensáveis e insubstituíveis.
É preciso, porém, ter cuidado com o tipo de material do livro que será dado à criança pequena. Existem livros apropriados para cada faixa de idade, que não oferecem riscos de machucar o bebê ou de ser estragados. As crianças até aproximadamente três anos não devem manusear livros de papel sozinhas, pois não têm ainda a coordenação motora fina necessária, e este material pode ferir seus olhos, além de rasgar com facilidade. Existem livros de tecido, de plástico para o banho e ainda livros de folhas duras e grossas, mais resistentes.
As crianças maiores já podem receber materiais mais elaborados, além de livros-brinquedo que exercitam sua criatividade. Aos poucos, elas vão começando a criar histórias, decorar pequenos textos, fingindo saber ler, até que aprendem de fato. Neste momento todo um mundo novo se abre para elas.
Não existe uma técnica certa para a leitura de livros para as crianças. O adulto apenas precisa ter disposição para dar mais esta atenção a elas. Cada um descobre a sua própria maneira de explorar melhor a hora da leitura. Aos poucos, o leitor vai perceber que também se beneficia do que vêm escutando: até os adultos retiram lições dos contos infantis. É muito importante que o adulto escolha livros que também a encantem, só assim o levará com entusiasmo para a criança.
As fábulas como "A cigarra e a formiga", " A tartaruga e a lebre", "A cegonha e a raposa" , por exemplo, são histórias antigas, que sempre trazem uma lição àqueles que as escutam. São muito importantes para a formação do caráter da criança. É fundamental que o leitor comente com a criança ao final, ajudando a firmar as lições que elas trazem. Da mesma forma, os contos clássicos como "O soldadinho de chumbo", "Chapeuzinho vermelho", "Os três porquinhos" e tantos outros precisam ser comentados, procurando sempre observar qual a compreensão da criança à história, estimulando assim seu raciocínio e capacidade de observação.
Do ponto de vista das emoções, os livros podem contar histórias que falam do dia-a-dia da criança ou de hábitos, lugares e situações, nos quais ela começa a se reconhecer pouco a pouco. Falam também de sentimentos como amor, carinho, proteção, cuidado, inveja, raiva, ciúmes, medo, entre outros, ajudando a criança a compreender melhor as coisas que sente.
Os adultos perceberão que a criança geralmente pede que lhe seja contada a mesma história muitas vezes seguidas, e que, se mudamos alguma coisa no texto, isto logo é percebido pela criança, que corrige ou se irrita. Isto acontece porque elas adoram a repetição: ela ajuda a criança a compreender melhor os sentimentos que aquela história despertou nela. Por exemplo, em "João e Maria", a criança é levada a lembrar do medo de ser abandonada pelos pais, que todas sentem, e que lhes causa grande ansiedade. Através da repetição do conto, aquelas emoções vão sendo experimentadas, melhor compreendidas e elaboradas através do final feliz.
Existem livros que ajudam os adultos a esclarecer as dúvidas das crianças com mais facilidade, falando sobre situações novas como nascimento de irmãos, perda de dentes, entrada na escola, dúvidas a respeito de educação sexual e até mesmo sobre situações difíceis como hospitalizações e morte. As crianças costumam se identificar com os personagens principais e sentem-se aliviadas com os finais felizes e em perceber que não são as únicas a enfrentar situações mais complicadas.
Muito importante ainda é estimular a criança a criar suas próprias histórias, usando a imaginação. Ela só conseguirá fazê-lo após ter aprendido o bom hábito de ouvir as histórias contadas por um adulto.
Logo compreende a estrutura da narrativa: como inicia, se desenrola e termina uma história, e então passa a conseguir dar seu próprio conteúdo. Desta forma, falará de seus sentimentos e das coisas que são importantes para ela naquele momento, dando pistas do que lhe vai na mente.
Finalmente, um bom hábito a ser adaptado à rotina da criança pode ser a "hora do conto", geralmente útil quando chega a hora de ir para a cama. Serve para acalmar os ânimos, abaixar as energias e incentivar a ida para a cama, que geralmente acontece sob protestos. Cada família adaptará a sugestão da forma mais conveniente, mas geralmente funciona deixando a criança folhear uns poucos livros por alguns minutos, sozinha ou na companhia de irmãos, o que ajuda a criar o bom hábito da concentração, assim como o da independência. Então, passado algum tempo, o adulto (geralmente a mãe ou o pai, que a esta altura podem querer estar fazendo isto pessoalmente) lê a estória que a criança escolher. Mais adiante, a criança alfabetizada pode começar a ler para o irmão menor, estimulando a amizade ou então ler sozinha ou para os pais o livrinho que tiver escolhido. É preciso compreender, no entanto, que este hábito é saudável, desde que não seja imposto e nem rígido, podendo se modificar de acordo com o interesse da criança.
Desde os primeiros meses, é importante colocar livros, de plástico ou tecido, no meio dos brinquedos do bebê, para que comece a se familiarizar com estes. Às vezes não percebemos, mas os bebês têm uma capacidade muito grande de observação do mundo à sua volta, e provavelmente já terão visto o papai, a mamãe ou sua babá lendo livros ou folheando revistas, e nos surpreenderão sabendo manuseá-los muito cedo.
Os livros servem, num primeiro momento, para que o bebê tenha acesso a estímulos variados; adiante, vão servir para que escute o adulto contar-lhe histórias, que por mais simples que sejam, lhe ajudarão a começar a relacionar as figuras com seus nomes, ampliando seu vocabulário. Mais adiante um pouco, a criança aprende a conhecer a existência das letras. Aos poucos, ela vai se dando conta que estas se juntam formando as palavras que o adulto lê, o que já é um início do processo de alfabetização. Já alfabetizadas, o livro é fonte inesgotável de conhecimento e fantasia para a criança.
Os livros têm a função fundamental de formar o imaginário da criança, dar-lhe a oportunidade de "viajar", abre lacunas que são preenchidas por cada uma a seu jeito. Além disso, são objetos de formação para elas! Elas experenciam através do que lêem, aprendem, se formam e se transformam, podendo assim modificar o mundo também. São companheiros que a criança pode levar a qualquer lugar, indispensáveis e insubstituíveis.
É preciso, porém, ter cuidado com o tipo de material do livro que será dado à criança pequena. Existem livros apropriados para cada faixa de idade, que não oferecem riscos de machucar o bebê ou de ser estragados. As crianças até aproximadamente três anos não devem manusear livros de papel sozinhas, pois não têm ainda a coordenação motora fina necessária, e este material pode ferir seus olhos, além de rasgar com facilidade. Existem livros de tecido, de plástico para o banho e ainda livros de folhas duras e grossas, mais resistentes.
As crianças maiores já podem receber materiais mais elaborados, além de livros-brinquedo que exercitam sua criatividade. Aos poucos, elas vão começando a criar histórias, decorar pequenos textos, fingindo saber ler, até que aprendem de fato. Neste momento todo um mundo novo se abre para elas.
Não existe uma técnica certa para a leitura de livros para as crianças. O adulto apenas precisa ter disposição para dar mais esta atenção a elas. Cada um descobre a sua própria maneira de explorar melhor a hora da leitura. Aos poucos, o leitor vai perceber que também se beneficia do que vêm escutando: até os adultos retiram lições dos contos infantis. É muito importante que o adulto escolha livros que também a encantem, só assim o levará com entusiasmo para a criança.
As fábulas como "A cigarra e a formiga", " A tartaruga e a lebre", "A cegonha e a raposa" , por exemplo, são histórias antigas, que sempre trazem uma lição àqueles que as escutam. São muito importantes para a formação do caráter da criança. É fundamental que o leitor comente com a criança ao final, ajudando a firmar as lições que elas trazem. Da mesma forma, os contos clássicos como "O soldadinho de chumbo", "Chapeuzinho vermelho", "Os três porquinhos" e tantos outros precisam ser comentados, procurando sempre observar qual a compreensão da criança à história, estimulando assim seu raciocínio e capacidade de observação.
Do ponto de vista das emoções, os livros podem contar histórias que falam do dia-a-dia da criança ou de hábitos, lugares e situações, nos quais ela começa a se reconhecer pouco a pouco. Falam também de sentimentos como amor, carinho, proteção, cuidado, inveja, raiva, ciúmes, medo, entre outros, ajudando a criança a compreender melhor as coisas que sente.
Os adultos perceberão que a criança geralmente pede que lhe seja contada a mesma história muitas vezes seguidas, e que, se mudamos alguma coisa no texto, isto logo é percebido pela criança, que corrige ou se irrita. Isto acontece porque elas adoram a repetição: ela ajuda a criança a compreender melhor os sentimentos que aquela história despertou nela. Por exemplo, em "João e Maria", a criança é levada a lembrar do medo de ser abandonada pelos pais, que todas sentem, e que lhes causa grande ansiedade. Através da repetição do conto, aquelas emoções vão sendo experimentadas, melhor compreendidas e elaboradas através do final feliz.
Existem livros que ajudam os adultos a esclarecer as dúvidas das crianças com mais facilidade, falando sobre situações novas como nascimento de irmãos, perda de dentes, entrada na escola, dúvidas a respeito de educação sexual e até mesmo sobre situações difíceis como hospitalizações e morte. As crianças costumam se identificar com os personagens principais e sentem-se aliviadas com os finais felizes e em perceber que não são as únicas a enfrentar situações mais complicadas.
Muito importante ainda é estimular a criança a criar suas próprias histórias, usando a imaginação. Ela só conseguirá fazê-lo após ter aprendido o bom hábito de ouvir as histórias contadas por um adulto.
Logo compreende a estrutura da narrativa: como inicia, se desenrola e termina uma história, e então passa a conseguir dar seu próprio conteúdo. Desta forma, falará de seus sentimentos e das coisas que são importantes para ela naquele momento, dando pistas do que lhe vai na mente.
Finalmente, um bom hábito a ser adaptado à rotina da criança pode ser a "hora do conto", geralmente útil quando chega a hora de ir para a cama. Serve para acalmar os ânimos, abaixar as energias e incentivar a ida para a cama, que geralmente acontece sob protestos. Cada família adaptará a sugestão da forma mais conveniente, mas geralmente funciona deixando a criança folhear uns poucos livros por alguns minutos, sozinha ou na companhia de irmãos, o que ajuda a criar o bom hábito da concentração, assim como o da independência. Então, passado algum tempo, o adulto (geralmente a mãe ou o pai, que a esta altura podem querer estar fazendo isto pessoalmente) lê a estória que a criança escolher. Mais adiante, a criança alfabetizada pode começar a ler para o irmão menor, estimulando a amizade ou então ler sozinha ou para os pais o livrinho que tiver escolhido. É preciso compreender, no entanto, que este hábito é saudável, desde que não seja imposto e nem rígido, podendo se modificar de acordo com o interesse da criança.
O QUE SERÁ O AMANHÃ?
Por Cássia D´Aquino
De assalto a cigana tomou minha mão em Granada e começou a declarar meu futuro. Fosse pelo inusitado ou por serem notícias de meu agrado, deixei que as boas novas corressem. Um raro momento, “pero que las hay” em minha biografia. Atirem a primeira pedra. A moça, ladina, percebendo que atraía minha atenção e farejando um par de euros, dobro a aposta. Para tornar meu destino verossímil, deu de instilar-me alguma preocupação com o porvir: “Receberás de su mamá um telegrama com uma má noticia”. Aquilo me pegou de jeito. “Telegrama?” – insisti. “Si. Enbreve”. Pois foi o que bastou para dar cabo de minha fé tão novinha. Olhei firme para ela e, em português e sem pressa, devolvi: “Aperta o F5, cigana. Minha mãe usa o msn”.
Se estamos num mundo em que até tecnologia de predição envelhece, é preciso cuidar de atualizar a maneira como educamos nossos filhos para a vida adulta. A idéia de que para garantir o reino da estabilidade financeira basta assegurar o estudo em bons colégios, e, na seqüência, em excelentes universidades, pode ter servido, com muita sorte, à educação que recebemos de nossos pais. Pessoalmente, até disso duvido.
As condições do mercado de trabalho que nossos filhos conhecerão exigirão outros roteiros. Afinal, se a medicina, nos dias de melhor humor, assegura que nossos filhotes viverão até os 120 anos; os estudiosos da economia não têm sido alvissareiros. As notícias que chegam por esses últimos dão conta da crescente redução no número de vagas em quase todos os setores. Ou seja, mais gente, disputando um número cada vez menor de empregos. Nossos filhos terão esse problema a resolver pelo meio do caminho.
Resolução de problemas é, aliás, o nome do jogo. Torná-los capazes de assumirem tarefas profissionais em qualquer parte do mundo, tornando-os adaptáveis às mudanças nas carreiras e condições de trabalho locais, exigirá mais que o conhecimento de três ou quatro idiomas – requisito, já hoje, considerando fundamental em várias áreas.
Ensinar as crianças a resolver problemas implica, antes de mais nada, em estimulá-las a encontrar soluções para seus dilemas, não importando se corriqueiros. Tal é o caso das bolinhas que vão parar embaixo do sofá. No script tradicional, ao ver-se sem o brinquedo, a criança aciona esticada de braço resolve o problema. Quer dizer, resolve o problema de fazer a criança parar de pedir que peguem a bola. Mas não resolve o problema de ensiná-la a tornar-se um adulto capaz de equacionar dificuldades.
Muito mais produtivo para o futuro da cria é devolver-lhe a solução do impasse. “A bolinha caiu? E como é que você pode resolver isso?”. Dar tempo para que ela possa imaginar saídas para a situação – não importa quão estapafúrdias possam parecer (puxar com a vassoura? Levantar o sofá? Apelar para os Cavaleiros do Zodíaco?), é uma etapa importante nesse processo de aprendizagem. Ajudá-la, num segundo momento, a avaliar as melhores opções para, por fim, testá-las, é a melhor ajuda que se pode dar num episódio desse tipo.
Está posto que esse mesmo processo de resolução de problemas vale para cadernos esquecidos na escola em véspera de prova ou para os pára-lamas do seu carro, displicentemente amassados pelo sangue do seu sangue. Mas é talvez no que diz respeito ás falências de mesadas que a aplicação desse princípio assume as melhores cores.
Não raro os pais cometem o erro de atrelar o pagamento da mesada ao cumprimento de tarefas domésticas. Com isso conseguem apenas criar confusão no ambiente familiar. Melhor separar o joio e o trigo dessa história. As tarefas que os pais julguem ser de obrigação dos filhos devem ser cumpridas. E ponto. Não importa que isso aconteça com base na persuasão (“cada um de nós deve colaborar para a organização da casa, meu anjo”) ou no principio pouco simpático, mas perfeitamente legítimo, do “vai fazer porque eu estou mandando!”. O que não se admite, em hipótese alguma, é pagar as crias para que arrumem o quarto ou lavem a louça.
Voltando às mesadas, convém saber que falir de vez em quando nessa fase é, em certo sentido, desejável. Afinal, antes falir aos 11 com pouca grana que aos 45 com quantias significativamente maiores. Assim, seja por insolvência, ou pelo não menos raro desejo de algum consumo maior que os limites da grana que recebem, volta e meia os herdeiros se vêem confrontados com a necessidade de resolver algum problema de fluxo de caixa.
Para prevenir essas ocasiões, e ajudar os filhos e encontrar solução para o dilema financeiro que atravessam, minha sugestão é que os pais mantenham às vistas dos pretensos candidatos a empréstimos redentores uma tabela de serviços que possibilitem alavancar a grana extra. Exemplos: limpar a piscina; dar banho no cachorro; lavar o carro; podar as plantas; ser manicure ou massagista.
O que importa é que sejam serviços que os pais, em candições habituais, se veriam na contingência de contratar alguém de fora da família para executar. Mantendo essa tabela com preços compatíveis com a capacidade de realização e experiência dos interessados, é possível ensinar aos herdeiros que confiamos em sua capacidade de encontrar saídas para seus impasses. E que, no que diz respeito ao dinheiro, trabalho não é nunca o problema. Aliás, é quase sempre a única solução.
*Cássia D´Aquino é especialista em educação financeira e membro da Internatinal Association for Citizenship, Social and Economics (IACSEE).
FONTE: Portal EXAME
Por Cássia D´Aquino
De assalto a cigana tomou minha mão em Granada e começou a declarar meu futuro. Fosse pelo inusitado ou por serem notícias de meu agrado, deixei que as boas novas corressem. Um raro momento, “pero que las hay” em minha biografia. Atirem a primeira pedra. A moça, ladina, percebendo que atraía minha atenção e farejando um par de euros, dobro a aposta. Para tornar meu destino verossímil, deu de instilar-me alguma preocupação com o porvir: “Receberás de su mamá um telegrama com uma má noticia”. Aquilo me pegou de jeito. “Telegrama?” – insisti. “Si. Enbreve”. Pois foi o que bastou para dar cabo de minha fé tão novinha. Olhei firme para ela e, em português e sem pressa, devolvi: “Aperta o F5, cigana. Minha mãe usa o msn”.
Se estamos num mundo em que até tecnologia de predição envelhece, é preciso cuidar de atualizar a maneira como educamos nossos filhos para a vida adulta. A idéia de que para garantir o reino da estabilidade financeira basta assegurar o estudo em bons colégios, e, na seqüência, em excelentes universidades, pode ter servido, com muita sorte, à educação que recebemos de nossos pais. Pessoalmente, até disso duvido.
As condições do mercado de trabalho que nossos filhos conhecerão exigirão outros roteiros. Afinal, se a medicina, nos dias de melhor humor, assegura que nossos filhotes viverão até os 120 anos; os estudiosos da economia não têm sido alvissareiros. As notícias que chegam por esses últimos dão conta da crescente redução no número de vagas em quase todos os setores. Ou seja, mais gente, disputando um número cada vez menor de empregos. Nossos filhos terão esse problema a resolver pelo meio do caminho.
Resolução de problemas é, aliás, o nome do jogo. Torná-los capazes de assumirem tarefas profissionais em qualquer parte do mundo, tornando-os adaptáveis às mudanças nas carreiras e condições de trabalho locais, exigirá mais que o conhecimento de três ou quatro idiomas – requisito, já hoje, considerando fundamental em várias áreas.
Ensinar as crianças a resolver problemas implica, antes de mais nada, em estimulá-las a encontrar soluções para seus dilemas, não importando se corriqueiros. Tal é o caso das bolinhas que vão parar embaixo do sofá. No script tradicional, ao ver-se sem o brinquedo, a criança aciona esticada de braço resolve o problema. Quer dizer, resolve o problema de fazer a criança parar de pedir que peguem a bola. Mas não resolve o problema de ensiná-la a tornar-se um adulto capaz de equacionar dificuldades.
Muito mais produtivo para o futuro da cria é devolver-lhe a solução do impasse. “A bolinha caiu? E como é que você pode resolver isso?”. Dar tempo para que ela possa imaginar saídas para a situação – não importa quão estapafúrdias possam parecer (puxar com a vassoura? Levantar o sofá? Apelar para os Cavaleiros do Zodíaco?), é uma etapa importante nesse processo de aprendizagem. Ajudá-la, num segundo momento, a avaliar as melhores opções para, por fim, testá-las, é a melhor ajuda que se pode dar num episódio desse tipo.
Está posto que esse mesmo processo de resolução de problemas vale para cadernos esquecidos na escola em véspera de prova ou para os pára-lamas do seu carro, displicentemente amassados pelo sangue do seu sangue. Mas é talvez no que diz respeito ás falências de mesadas que a aplicação desse princípio assume as melhores cores.
Não raro os pais cometem o erro de atrelar o pagamento da mesada ao cumprimento de tarefas domésticas. Com isso conseguem apenas criar confusão no ambiente familiar. Melhor separar o joio e o trigo dessa história. As tarefas que os pais julguem ser de obrigação dos filhos devem ser cumpridas. E ponto. Não importa que isso aconteça com base na persuasão (“cada um de nós deve colaborar para a organização da casa, meu anjo”) ou no principio pouco simpático, mas perfeitamente legítimo, do “vai fazer porque eu estou mandando!”. O que não se admite, em hipótese alguma, é pagar as crias para que arrumem o quarto ou lavem a louça.
Voltando às mesadas, convém saber que falir de vez em quando nessa fase é, em certo sentido, desejável. Afinal, antes falir aos 11 com pouca grana que aos 45 com quantias significativamente maiores. Assim, seja por insolvência, ou pelo não menos raro desejo de algum consumo maior que os limites da grana que recebem, volta e meia os herdeiros se vêem confrontados com a necessidade de resolver algum problema de fluxo de caixa.
Para prevenir essas ocasiões, e ajudar os filhos e encontrar solução para o dilema financeiro que atravessam, minha sugestão é que os pais mantenham às vistas dos pretensos candidatos a empréstimos redentores uma tabela de serviços que possibilitem alavancar a grana extra. Exemplos: limpar a piscina; dar banho no cachorro; lavar o carro; podar as plantas; ser manicure ou massagista.
O que importa é que sejam serviços que os pais, em candições habituais, se veriam na contingência de contratar alguém de fora da família para executar. Mantendo essa tabela com preços compatíveis com a capacidade de realização e experiência dos interessados, é possível ensinar aos herdeiros que confiamos em sua capacidade de encontrar saídas para seus impasses. E que, no que diz respeito ao dinheiro, trabalho não é nunca o problema. Aliás, é quase sempre a única solução.
*Cássia D´Aquino é especialista em educação financeira e membro da Internatinal Association for Citizenship, Social and Economics (IACSEE).
FONTE: Portal EXAME
Prevenção Primária em Saúde Mental do Bebê
Ao longo do primeiro ano de vida do bebê já se inicia a construção do conhecimento junto a outros aspectos, como o desenvolvimento maturacional, a afetividade, a independência e assim por diante.
Há muito tempo, nos países europeus, a estimulação psico-motora é aplicada em crianças até os dois primeiros anos de vida para prevenir futuros problemas físicos e de aprendizagem.
Infelizmente, aqui no Brasil, é cultura o comportamento dos pais em procurarem o auxílio especializado para o acompanhamento global de seu filho, somente quando determinadas dificuldades já se encontram instaladas, ou somatizadas (expressando-se melhor em linguagem médica).
Para que o sujeito se estruture de maneira saudável, física e psicologicamente, em sua primeira fase de vida, se faz necessário que seja supervisionado por um especialista em Saúde Mental, antes da fase escolar, mesmo que esteja passando pelo atendimento pediátrico periodicamente. Isso porque véris casos são encontrados nas escolas infantis, nas quais não há supervisão psicológica - mas que têm acompanhamento médico particular, e que poderiam ter sido antecipados na gravidade, caso houvesse essa supervisão. Prevenir, em atenção primária, é enfocar um problema antes que ele se instale, então, há muitos anos, temos orientado as mães para srem agentes provedores e promotores dessa estimulação em seu bebê, além de controlarmos o seu desenvolvimento mensalmente, quanto ao aspecto adptativo, cognitivo e afetivo. E, recentemente, caso haja interesse, fazemos o registro desse acomapnhamento mensal por vídeo-gravação e/ou fotografia. Os resultados têm sido positivos, pois a mãe fica mais segura pelo bom desenvolvimento de seu bebê segundo os aspectos mencionados, além de participar de terapias em família, ou orientações junto ao esposo, caso a urgência tenha sido constatada.
Quando nasce um bebê, nasce uma mãe e com o brincar essa mulher pode, certamente, desenvolver-se na maternagem, suposto que a sincronicidade entre ambos será estabelecida através de uma linguagem que não será expressa só por gestos e nem por sons, mas pela energia que une tudo no universo - o afeto.(GIMENES;FMABC, S. André, mar. 2003)
Artigo escrito por Beatriz Picolo Gimenes Ms
Matemática, Psicóloga, Psicopegagoga, Psicomotricista; Mestrado em Psicologia da Saúde (UMESP); Terapia FAmiliar em Hospital (UNIFESP), Professora universitária, Conselheira da ABBri.
Ao longo do primeiro ano de vida do bebê já se inicia a construção do conhecimento junto a outros aspectos, como o desenvolvimento maturacional, a afetividade, a independência e assim por diante.
Há muito tempo, nos países europeus, a estimulação psico-motora é aplicada em crianças até os dois primeiros anos de vida para prevenir futuros problemas físicos e de aprendizagem.
Infelizmente, aqui no Brasil, é cultura o comportamento dos pais em procurarem o auxílio especializado para o acompanhamento global de seu filho, somente quando determinadas dificuldades já se encontram instaladas, ou somatizadas (expressando-se melhor em linguagem médica).
Para que o sujeito se estruture de maneira saudável, física e psicologicamente, em sua primeira fase de vida, se faz necessário que seja supervisionado por um especialista em Saúde Mental, antes da fase escolar, mesmo que esteja passando pelo atendimento pediátrico periodicamente. Isso porque véris casos são encontrados nas escolas infantis, nas quais não há supervisão psicológica - mas que têm acompanhamento médico particular, e que poderiam ter sido antecipados na gravidade, caso houvesse essa supervisão. Prevenir, em atenção primária, é enfocar um problema antes que ele se instale, então, há muitos anos, temos orientado as mães para srem agentes provedores e promotores dessa estimulação em seu bebê, além de controlarmos o seu desenvolvimento mensalmente, quanto ao aspecto adptativo, cognitivo e afetivo. E, recentemente, caso haja interesse, fazemos o registro desse acomapnhamento mensal por vídeo-gravação e/ou fotografia. Os resultados têm sido positivos, pois a mãe fica mais segura pelo bom desenvolvimento de seu bebê segundo os aspectos mencionados, além de participar de terapias em família, ou orientações junto ao esposo, caso a urgência tenha sido constatada.
Quando nasce um bebê, nasce uma mãe e com o brincar essa mulher pode, certamente, desenvolver-se na maternagem, suposto que a sincronicidade entre ambos será estabelecida através de uma linguagem que não será expressa só por gestos e nem por sons, mas pela energia que une tudo no universo - o afeto.(GIMENES;FMABC, S. André, mar. 2003)
Artigo escrito por Beatriz Picolo Gimenes Ms
Matemática, Psicóloga, Psicopegagoga, Psicomotricista; Mestrado em Psicologia da Saúde (UMESP); Terapia FAmiliar em Hospital (UNIFESP), Professora universitária, Conselheira da ABBri.
DIA DO TRABALHO, COMEMORAÇÃO OU PROTESTO?
Prof. Ms. Márcio Michalczuk Marcelino
Em 1886, na cidade estadunidense de Chicago, milhares de trabalhadores saíram às ruas no dia 1º de maio para reivindicar melhores condições de trabalho, entre elas a redução da jornada diária de 13 para 8 horas. Toda essa manifestação, que durou alguns dias, foi movida a confrontos com a polícia que ceifou vidas de alguns trabalhadores.
Passado alguns poucos anos, em 20 de junho de 1889, em Paris, a central sindical chamada Segunda Internacional, instituiu o mesmo dia das manifestações como data máxima dos trabalhadores organizados, para assim, lutar pelas 8 horas de trabalho diário. Em 23 de abril de 1919, o senado francês ratificou a jornada de trabalho de 8 horas e proclamou o dia 1° de maio como feriado nacional, que foi seguido por alguns países, entre eles o Brasil, que em 1925, no governo de Rodrigues Alves, teve a data consolidada.
Atualmente, muitos países mundo afora comemoram a data de 1º de maio como o Dia do Trabalho, e sempre vemos pela TV comemorações e protestos. Estes últimos, invariavelmente com a participação dos “trabalhadores” policiais... O que se comemora? O que se protesta?
No Brasil temos, atualmente, comemorações gigantescas movidas por centrais sindicais que chegam a levar para as ruas mais de um milhão de pessoas, só na cidade de São Paulo. Há realização de sorteios de casas e carros, shows musicais com artistas populares, além de discursos oportunos de políticos que exaltam a data com feitos heróicos de seus governos, dizendo-se os responsáveis pelos aumentos do número de postos de trabalho.
Todas essas comemorações chegam a custar, segundo dados , três milhões e 800 mil reais, ou seja, comemoramos ou protestamos?
Claro que o povo sofrido e esquálido merece um momento de lazer. E como promover uma concentração tão grande de pessoas se não oferecer tais “brindes”? Seriam todos “Pedros Pedreiros” ? Ou esperamos o que?
Esperamos muito mais! E não basta o trabalho. A constituição brasileira garante o trabalho digno, vejamos o que diz a Dra. Maria Amélia Bracks Duarte, autoridade no assunto e procuradora do trabalho em Minas Gerais:
“o empregador deve oferecer ao empregado um ambiente sadio e equilibrado, sem riscos à sua saúde, e que o empregado encontre, no trabalho, a concretização de suas inspirações à melhoria de sua condição social; a jornada de trabalho não deve ser de mais de 8 horas diárias; o salário deverá ser compatível com a atividade exercida, garantindo-se um mínimo legal. Esses são os princípios protetores do trabalho humano, visando construir uma sociedade livre, justa e solidária; garantir o desenvolvimento nacional, erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; promover o bem de todos, sem preconceitos e sem qualquer forma de discriminação. Sem a observância dessas regras, não se pode falar em cidadania, autoestima, valor pessoal, respeito e muito menos de trabalho. Homens e mulheres não se bastam com cestas básicas recebidas como esmola do governo. Querem trabalhar, produzir riquezas para o seu país, ser exemplo para a família e para a comunidade. O brasileiro precisa de oportunidade para demonstrar a sua capacidade de trabalho, sua força e criatividade. Um país só é desenvolvido quando se tem educação, saúde e trabalho.”
Ainda em tempo, vale a canção (Pedro Pedreiro) de Chico Buarque, citada acima:
Pedro pedreiro quer voltar atrás
Quer ser pedreiro pobre e nada mais
Sem ficar esperando, esperando, esperando
Esperando o sol
Esperando o trem
Esperando o aumento para o mês que vem
Esperando um filho pra esperar também,
Esperando a festa
Esperando a sorte
Esperando a morte
Esperando o norte
Esperando o dia de esperar ninguém
Esperando enfim nada mais além
Da esperança aflita, bendita, infinita
Do apito do trem
Pedro pedreiro, pedreiro esperando
Pedro pedreiro, pedreiro esperando
Pedro pedreiro, pedreiro esperando o trem.
Estadao.com.br, 24/04/2009,16h07min., Economia.
Canção Pedro Pedreiro de Chico Buarque
Prof. Ms. Márcio Michalczuk Marcelino
Em 1886, na cidade estadunidense de Chicago, milhares de trabalhadores saíram às ruas no dia 1º de maio para reivindicar melhores condições de trabalho, entre elas a redução da jornada diária de 13 para 8 horas. Toda essa manifestação, que durou alguns dias, foi movida a confrontos com a polícia que ceifou vidas de alguns trabalhadores.
Passado alguns poucos anos, em 20 de junho de 1889, em Paris, a central sindical chamada Segunda Internacional, instituiu o mesmo dia das manifestações como data máxima dos trabalhadores organizados, para assim, lutar pelas 8 horas de trabalho diário. Em 23 de abril de 1919, o senado francês ratificou a jornada de trabalho de 8 horas e proclamou o dia 1° de maio como feriado nacional, que foi seguido por alguns países, entre eles o Brasil, que em 1925, no governo de Rodrigues Alves, teve a data consolidada.
Atualmente, muitos países mundo afora comemoram a data de 1º de maio como o Dia do Trabalho, e sempre vemos pela TV comemorações e protestos. Estes últimos, invariavelmente com a participação dos “trabalhadores” policiais... O que se comemora? O que se protesta?
No Brasil temos, atualmente, comemorações gigantescas movidas por centrais sindicais que chegam a levar para as ruas mais de um milhão de pessoas, só na cidade de São Paulo. Há realização de sorteios de casas e carros, shows musicais com artistas populares, além de discursos oportunos de políticos que exaltam a data com feitos heróicos de seus governos, dizendo-se os responsáveis pelos aumentos do número de postos de trabalho.
Todas essas comemorações chegam a custar, segundo dados , três milhões e 800 mil reais, ou seja, comemoramos ou protestamos?
Claro que o povo sofrido e esquálido merece um momento de lazer. E como promover uma concentração tão grande de pessoas se não oferecer tais “brindes”? Seriam todos “Pedros Pedreiros” ? Ou esperamos o que?
Esperamos muito mais! E não basta o trabalho. A constituição brasileira garante o trabalho digno, vejamos o que diz a Dra. Maria Amélia Bracks Duarte, autoridade no assunto e procuradora do trabalho em Minas Gerais:
“o empregador deve oferecer ao empregado um ambiente sadio e equilibrado, sem riscos à sua saúde, e que o empregado encontre, no trabalho, a concretização de suas inspirações à melhoria de sua condição social; a jornada de trabalho não deve ser de mais de 8 horas diárias; o salário deverá ser compatível com a atividade exercida, garantindo-se um mínimo legal. Esses são os princípios protetores do trabalho humano, visando construir uma sociedade livre, justa e solidária; garantir o desenvolvimento nacional, erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; promover o bem de todos, sem preconceitos e sem qualquer forma de discriminação. Sem a observância dessas regras, não se pode falar em cidadania, autoestima, valor pessoal, respeito e muito menos de trabalho. Homens e mulheres não se bastam com cestas básicas recebidas como esmola do governo. Querem trabalhar, produzir riquezas para o seu país, ser exemplo para a família e para a comunidade. O brasileiro precisa de oportunidade para demonstrar a sua capacidade de trabalho, sua força e criatividade. Um país só é desenvolvido quando se tem educação, saúde e trabalho.”
Ainda em tempo, vale a canção (Pedro Pedreiro) de Chico Buarque, citada acima:
Pedro pedreiro quer voltar atrás
Quer ser pedreiro pobre e nada mais
Sem ficar esperando, esperando, esperando
Esperando o sol
Esperando o trem
Esperando o aumento para o mês que vem
Esperando um filho pra esperar também,
Esperando a festa
Esperando a sorte
Esperando a morte
Esperando o norte
Esperando o dia de esperar ninguém
Esperando enfim nada mais além
Da esperança aflita, bendita, infinita
Do apito do trem
Pedro pedreiro, pedreiro esperando
Pedro pedreiro, pedreiro esperando
Pedro pedreiro, pedreiro esperando o trem.
Estadao.com.br, 24/04/2009,16h07min., Economia.
Canção Pedro Pedreiro de Chico Buarque
TODOS OS DIAS DE TODAS AS MÃES
Por Lêda Cruz
Nem o romantismo de ontem, nem o realismo de amanhã,
traduzem a mãe de hoje.
Trabalha dentro....trabalha fora....
Dedica-se muito àqueles que os olhares buscam o modelo.
A responsabilidade do exemplo lhe impõe a correção,
mas não garante o prometido futuro feliz e cheio de realizações.
A mãe mulher, a mãe profissional, a mãe companheira, a mãe irmã...
Os conflitos dos papéis sociais são vividos com tamanha intensidade, que a identidade, ofuscada pelos sonhos pessoais, se perde na rotina dos dias.
Todos os dias....todas as mães .... Todos os dias de todas as mães!
Mas nada, nada mesmo, substitui o sentimento de chegar em casa, depois de um dia desses de mãe, e ser recebida por aqueles que lhe definem esse inexplicável poder de tanto amar.
Por Lêda Cruz
Nem o romantismo de ontem, nem o realismo de amanhã,
traduzem a mãe de hoje.
Trabalha dentro....trabalha fora....
Dedica-se muito àqueles que os olhares buscam o modelo.
A responsabilidade do exemplo lhe impõe a correção,
mas não garante o prometido futuro feliz e cheio de realizações.
A mãe mulher, a mãe profissional, a mãe companheira, a mãe irmã...
Os conflitos dos papéis sociais são vividos com tamanha intensidade, que a identidade, ofuscada pelos sonhos pessoais, se perde na rotina dos dias.
Todos os dias....todas as mães .... Todos os dias de todas as mães!
Mas nada, nada mesmo, substitui o sentimento de chegar em casa, depois de um dia desses de mãe, e ser recebida por aqueles que lhe definem esse inexplicável poder de tanto amar.
quarta-feira, 9 de setembro de 2009
LIVROS DESDE O BERÇO
Eixo da Transmissão Cultural *
O desenvolvimento da alta tecnologia dominou esse final de milênio e penetrou nos lares e na vida da criança de uma maneira muito precoce. Veio a televisão, vieram os computadores, os jogos de vídeo-games e nesse mundo informatizado, o tempo do “Era uma vez, um rei e uma rainha, num país distante...” se perdeu.
Assim, há muito e muito tempo, num país distante, do outro lado do Atlântico, na cidade luz, Paris... três psicanalistas, René DIATKINE, Tony LAINÉ e Marie BONNAFÉ atendiam adolescentes que apresentavam diversas dificuldades particularmente escolares, com um histórico de repetência significativo, muitos com fobia escolar e já no limite da marginalidade. Esses psicanalistas começaram a se questionar e constataram que, o ponto em comum entre os adolescentes era a ausência total do livro em suas vidas. Alarmados com esse quadro e o número crescente de crianças que não se alfabetizavam no final do primeiro ano, esses profissionais se perguntavam sobre um possível trabalho de prevenção.
A resposta a esse questionamento veio em 1979, num colóquio realizado em Paris, sobre as dificuldades da linguagem escrita. Emília FERREIRO apresentou sua pesquisa comparativa, sobre a curiosidade da criança diante das histórias e da escrita. Constatou que toda criança, independente de sua classe social, se interessa espontaneamente pelos livros. No entanto, a partir dos quatro anos, o meio exerce influência significativa, o que diferencia os grupos.
As conclusões de Emilia FERREIRO encorajaram René DIATKINE e seus colaboradores, a criarem, em 1980, a Associação “Actions Culturelles contre les Exclusions et les Ségrégations – A.C.C.E.S.“, cujo objetivo é desenvolver uma atividade cultural precoce e justificou intervenções que constituem um aporte, tanto para as crianças de meios desfavorecidos quanto para as outras. Um dos objetivos da ACCES é a prevenção da repetência escolar, colocando a criança, o mais cedo possível, em contato com os livros e a linguagem da narrativa. Tem como hipótese, que a criança que vivenciou, desde os primeiros meses de vida, um tempo lúdico com as histórias, conservará o interesse pelas mesmas e estará em melhores condições para as aprendizagens da escrita e da leitura. Esta hipótese foi confirmada ao longo dos anos de pesquisa.
Assim sendo, desde 1983, enquanto colaboradora da Associação ACCES, desenvolvi um trabalho que consiste em apresentar às crianças, desde bebês, livros de literatura, comportando ilustrações e textos de qualidade estética, nos mais diversos lugares do cotidiano.
Para várias crianças, a escola é o único lugar onde elas podem ter um contato com os livros, que muitas vezes estão associados a uma exigência escolar, podendo tornar-se objeto de avaliações. A vertente da aprendizagem é importante, mas para desenvolvermos o gosto pelos textos literários, é fundamental criar-se ações culturais livres e prazerosas, de leitura de histórias, contos e poesias, nos momentos transitórios ou ociosos, para conseguirmos quebrar este vínculo. Este espaço lúdico pode e deve ser desenvolvido também nas escolas. Esta familiarização com a escrita nos locais de coletividade, ameniza os efeitos da ausência dos livros nas famílias.
O fracasso escolar e a marginalização social resultantes não são fatalidades do destino ou anomalias genéticas, mas sim um produto de carências tanto quantitativa quanto qualitativa das expressões da linguagem que cercam as crianças durante seus primeiros anos de vida.
A linguagem Factual, da ação, do cotidiano, acompanha os fatos e gestos da vida, é um comentário contínuo sem começo nem fim, que necessita de um contexto para ser compreendida. A criança aprende primeiro a linguagem da ação e aprende a falar através desta linguagem. Ao contrário, a linguagem da narrativa, que é estruturada e que relata os eventos à distância, introduz a noção de tempo, com um começo, um meio e um fim. O começo fazendo esperar o fim e entre os dois, os elementos da história se desenvolvem num ritmo alternado.
Para que a criança esteja pronta para aprender a ler e a escrever, precisa ter brincado durante muitos anos com a linguagem da narrativa. O jogo com essas duas formas de linguagem organiza a criança e vai constituir a aquisição da linguagem, pois a atividade lingüística é uma atividade lúdica. A narrativa permite o acesso à leitura e ao imaginário As histórias mobilizam as emoções, a imaginação e a fantasia e permitem à criança pensar na sua própria realidade e achar soluções para transformá-la.
No campo da cultura, tanto para os bebês quanto para os adultos, o livro é o eixo , o pivô da transmissão cultural. O uso da escrita é um suporte essencial para essa transmissão e os livros são os melhores mediadores, por sua diversidade e a facilidade de suas difusões.
A partir dos seis meses, o bebê é capaz de reconhecer as representações dos objetos de seu universo e tenta pegá-las. Aos poucos compreende que a imagem representa o objeto, que tem as mesmas características, mas não é o objeto. Quando a criança faz esta analogia, passa a acariciar a imagem, de um gato por exemplo, e não mais a tentar pegá-la. O livro se torna, então, um objeto de posse.
Toda criança num determinado momento exige a mesma história, durante um certo tempo. Graças à fixação do texto escrito, ela pode reencontrar as histórias, lidas de maneira idêntica, cada vez que necessário. O livro proporciona, então à criança, uma maior liberdade de jogo: necessidade do idêntico e a possibilidade de brincar com as imagens: bater no urso que faz medo, esconder o lobo..., o que facilita o trabalho de controle das emoções, das angústias de separação, das fobias infantis, inerentes ao seu desenvolvimento psicológico.
Sensibilizar os pais e adultos que se ocupam da criança é muito importante. A melhor maneira é que sejam testemunhas do real prazer e das reações da criança em relação aos livros: na sala de espera de um posto de Proteção Materno Infantil, a mãe de Sébastian, quinze meses, surpresa pelo fato de seu filho já estar há dez minutos vendo um livro, se exclama, quando o menino se levanta, repentinamente, no meio da história: “Ah! estava bom demais. Ele que não fica quieto um instante...”. Sua surpresa foi muito maior, quando Sébastian volta com um avião e coloca o objeto sobre a imagem de um avião. “Puxa, você viu? ele entendeu tudo...”. Essa mãe, como muitas outras, acabava de descobrir aptidões de seu filho que até então ela desconhecia. Tais testemunhos são fundamentais, tanto na interação mãe/criança, quanto no vínculo dos outros adultos, como professores, que passam a ver potenciais das crianças, ainda não observados, o que acarreta uma mudança importante na relação.
Quanto mais cedo a criança entrar no mundo da literatura, mais chances terá de se tornar um futuro leitor. Mas é sempre possível reconstituir experiências positivas em outros momentos da vida.
Uma experiência surpreendente com pré-adolescentes, num conjunto de habitação popular, nos trouxe a confirmação do quanto esse tempo das histórias durante a infância é essencial.
Nosso objetivo era propor as animações-livros para todas as crianças, residentes deste conjunto, em idade pré-escolar e as que estavam em fase de alfabetização. Ao invés desses pequenos, encontrei-me com meninos e meninas de onze a treze anos, que vieram espontaneamente. Tratava-se de um grupo violento, alguns com passagens no comissariado de policia, a maioria com grandes dificuldades escolares. Essas crianças, cujo único meio de comunicação era a agressividade, física ou verbal, num movimento regressivo, mostraram-se ávidos pelas histórias infantis, como se esses primeiros contatos com os livros, as imagens e a narrativa, fossem uma etapa obrigatória no seu desenvolvimento intelectual e afetivo, etapa omitida em suas vidas. Somente depois de dois anos foram capazes de investir os livros, digamos, apropriados à sua faixa etária.
A mudança que ocorreu nessa população tão desprovida no plano cultural foi significativa, tanto na agressividade, que diminuiu consideravelmente, quanto nas esferas afetivas e intelectuais. Muitos se inscreveram na biblioteca do bairro e traziam para o grupo os livros escolhidos.
Podemos constatar que mesmo em condições difíceis, é possível realizar uma proposta de transmissão cultural que permita o livre aflorar da criatividade e a elaboração, por parte da criança, de suas dificuldades e conflitos.
Cada vez mais a desigualdade é insuportável e prevenir as futuras exclusões e segregações, as quais as crianças possam vir a sofrer mais tarde como adultos iletrados, é dever de todos...
Este trabalho tem também objetivos e efeitos sobre a família e o meio sociocultural mais amplo em que a criança se insere e oferece a todos a mesma possibilidade de acesso às diferentes formas de linguagem e as elaborações psíquicas que esta ação permite, englobando as áreas educativas, sociais e clínicas.
Como disse Otto Rank: “A literatura é o sonho acordado das civilizações. Assim como não pode haver equilíbrio psíquico sem o sonho durante o sono, talvez não haja equilíbrio social sem a literatura”.
Sejamos todos Cheherazade. Contando belas histórias às nossas crianças, fazendo delas admiradoras incondicionais da literatura e dos livros, e de geração em geração de Cheherazade, bem além de mil e uma noites, os bebês de hoje, futuros leitores, terão garantido um dos direitos básicos de todo ser humano, o acesso a cultura.
Claudia Maria de Lima Brandão
Psicóloga Clínica, Fonoaudióloga, Presidente da Associação Cultural Quero Ler – RJ
* Artigo no Jornal “Poiésis, Literatura, Pensamento & Arte” – Ano VIII N°77 –
julho 2002
Fonoaudióloga – Instituto Henry Dunant – RJ
¨ Presidente da Associação Cultural Quero Ler RJ
¨ Trabalhou de 1983 a 1999 na Associação “ACCES” – Paris – na Pesquisa sobre o Contato Precoce da Criança com o Livro
¨ Trabalhou como Psicóloga Clínica no Centro de Psiquiatria “CENTRE ALFRED BINET”, onde implantou um Atelier de leitura de histórias e contos (Paris 1985 à 1999)
¨ Trabalhou no Projeto do Ministério da Saúde, em parceria com a Fundação ABRINQ, na implantação da “Biblioteca Viva em Hospitais”, na formação e supervisão das equipes do Instituto Fernandes Figueira, Hospital Municipal Jesus e Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira – IPPMG, no Rio de Janeiro – 2001
Cursos e palestras junto a Casa da Leitura e ao PROLER – desde 2000
Eixo da Transmissão Cultural *
O desenvolvimento da alta tecnologia dominou esse final de milênio e penetrou nos lares e na vida da criança de uma maneira muito precoce. Veio a televisão, vieram os computadores, os jogos de vídeo-games e nesse mundo informatizado, o tempo do “Era uma vez, um rei e uma rainha, num país distante...” se perdeu.
Assim, há muito e muito tempo, num país distante, do outro lado do Atlântico, na cidade luz, Paris... três psicanalistas, René DIATKINE, Tony LAINÉ e Marie BONNAFÉ atendiam adolescentes que apresentavam diversas dificuldades particularmente escolares, com um histórico de repetência significativo, muitos com fobia escolar e já no limite da marginalidade. Esses psicanalistas começaram a se questionar e constataram que, o ponto em comum entre os adolescentes era a ausência total do livro em suas vidas. Alarmados com esse quadro e o número crescente de crianças que não se alfabetizavam no final do primeiro ano, esses profissionais se perguntavam sobre um possível trabalho de prevenção.
A resposta a esse questionamento veio em 1979, num colóquio realizado em Paris, sobre as dificuldades da linguagem escrita. Emília FERREIRO apresentou sua pesquisa comparativa, sobre a curiosidade da criança diante das histórias e da escrita. Constatou que toda criança, independente de sua classe social, se interessa espontaneamente pelos livros. No entanto, a partir dos quatro anos, o meio exerce influência significativa, o que diferencia os grupos.
As conclusões de Emilia FERREIRO encorajaram René DIATKINE e seus colaboradores, a criarem, em 1980, a Associação “Actions Culturelles contre les Exclusions et les Ségrégations – A.C.C.E.S.“, cujo objetivo é desenvolver uma atividade cultural precoce e justificou intervenções que constituem um aporte, tanto para as crianças de meios desfavorecidos quanto para as outras. Um dos objetivos da ACCES é a prevenção da repetência escolar, colocando a criança, o mais cedo possível, em contato com os livros e a linguagem da narrativa. Tem como hipótese, que a criança que vivenciou, desde os primeiros meses de vida, um tempo lúdico com as histórias, conservará o interesse pelas mesmas e estará em melhores condições para as aprendizagens da escrita e da leitura. Esta hipótese foi confirmada ao longo dos anos de pesquisa.
Assim sendo, desde 1983, enquanto colaboradora da Associação ACCES, desenvolvi um trabalho que consiste em apresentar às crianças, desde bebês, livros de literatura, comportando ilustrações e textos de qualidade estética, nos mais diversos lugares do cotidiano.
Para várias crianças, a escola é o único lugar onde elas podem ter um contato com os livros, que muitas vezes estão associados a uma exigência escolar, podendo tornar-se objeto de avaliações. A vertente da aprendizagem é importante, mas para desenvolvermos o gosto pelos textos literários, é fundamental criar-se ações culturais livres e prazerosas, de leitura de histórias, contos e poesias, nos momentos transitórios ou ociosos, para conseguirmos quebrar este vínculo. Este espaço lúdico pode e deve ser desenvolvido também nas escolas. Esta familiarização com a escrita nos locais de coletividade, ameniza os efeitos da ausência dos livros nas famílias.
O fracasso escolar e a marginalização social resultantes não são fatalidades do destino ou anomalias genéticas, mas sim um produto de carências tanto quantitativa quanto qualitativa das expressões da linguagem que cercam as crianças durante seus primeiros anos de vida.
A linguagem Factual, da ação, do cotidiano, acompanha os fatos e gestos da vida, é um comentário contínuo sem começo nem fim, que necessita de um contexto para ser compreendida. A criança aprende primeiro a linguagem da ação e aprende a falar através desta linguagem. Ao contrário, a linguagem da narrativa, que é estruturada e que relata os eventos à distância, introduz a noção de tempo, com um começo, um meio e um fim. O começo fazendo esperar o fim e entre os dois, os elementos da história se desenvolvem num ritmo alternado.
Para que a criança esteja pronta para aprender a ler e a escrever, precisa ter brincado durante muitos anos com a linguagem da narrativa. O jogo com essas duas formas de linguagem organiza a criança e vai constituir a aquisição da linguagem, pois a atividade lingüística é uma atividade lúdica. A narrativa permite o acesso à leitura e ao imaginário As histórias mobilizam as emoções, a imaginação e a fantasia e permitem à criança pensar na sua própria realidade e achar soluções para transformá-la.
No campo da cultura, tanto para os bebês quanto para os adultos, o livro é o eixo , o pivô da transmissão cultural. O uso da escrita é um suporte essencial para essa transmissão e os livros são os melhores mediadores, por sua diversidade e a facilidade de suas difusões.
A partir dos seis meses, o bebê é capaz de reconhecer as representações dos objetos de seu universo e tenta pegá-las. Aos poucos compreende que a imagem representa o objeto, que tem as mesmas características, mas não é o objeto. Quando a criança faz esta analogia, passa a acariciar a imagem, de um gato por exemplo, e não mais a tentar pegá-la. O livro se torna, então, um objeto de posse.
Toda criança num determinado momento exige a mesma história, durante um certo tempo. Graças à fixação do texto escrito, ela pode reencontrar as histórias, lidas de maneira idêntica, cada vez que necessário. O livro proporciona, então à criança, uma maior liberdade de jogo: necessidade do idêntico e a possibilidade de brincar com as imagens: bater no urso que faz medo, esconder o lobo..., o que facilita o trabalho de controle das emoções, das angústias de separação, das fobias infantis, inerentes ao seu desenvolvimento psicológico.
Sensibilizar os pais e adultos que se ocupam da criança é muito importante. A melhor maneira é que sejam testemunhas do real prazer e das reações da criança em relação aos livros: na sala de espera de um posto de Proteção Materno Infantil, a mãe de Sébastian, quinze meses, surpresa pelo fato de seu filho já estar há dez minutos vendo um livro, se exclama, quando o menino se levanta, repentinamente, no meio da história: “Ah! estava bom demais. Ele que não fica quieto um instante...”. Sua surpresa foi muito maior, quando Sébastian volta com um avião e coloca o objeto sobre a imagem de um avião. “Puxa, você viu? ele entendeu tudo...”. Essa mãe, como muitas outras, acabava de descobrir aptidões de seu filho que até então ela desconhecia. Tais testemunhos são fundamentais, tanto na interação mãe/criança, quanto no vínculo dos outros adultos, como professores, que passam a ver potenciais das crianças, ainda não observados, o que acarreta uma mudança importante na relação.
Quanto mais cedo a criança entrar no mundo da literatura, mais chances terá de se tornar um futuro leitor. Mas é sempre possível reconstituir experiências positivas em outros momentos da vida.
Uma experiência surpreendente com pré-adolescentes, num conjunto de habitação popular, nos trouxe a confirmação do quanto esse tempo das histórias durante a infância é essencial.
Nosso objetivo era propor as animações-livros para todas as crianças, residentes deste conjunto, em idade pré-escolar e as que estavam em fase de alfabetização. Ao invés desses pequenos, encontrei-me com meninos e meninas de onze a treze anos, que vieram espontaneamente. Tratava-se de um grupo violento, alguns com passagens no comissariado de policia, a maioria com grandes dificuldades escolares. Essas crianças, cujo único meio de comunicação era a agressividade, física ou verbal, num movimento regressivo, mostraram-se ávidos pelas histórias infantis, como se esses primeiros contatos com os livros, as imagens e a narrativa, fossem uma etapa obrigatória no seu desenvolvimento intelectual e afetivo, etapa omitida em suas vidas. Somente depois de dois anos foram capazes de investir os livros, digamos, apropriados à sua faixa etária.
A mudança que ocorreu nessa população tão desprovida no plano cultural foi significativa, tanto na agressividade, que diminuiu consideravelmente, quanto nas esferas afetivas e intelectuais. Muitos se inscreveram na biblioteca do bairro e traziam para o grupo os livros escolhidos.
Podemos constatar que mesmo em condições difíceis, é possível realizar uma proposta de transmissão cultural que permita o livre aflorar da criatividade e a elaboração, por parte da criança, de suas dificuldades e conflitos.
Cada vez mais a desigualdade é insuportável e prevenir as futuras exclusões e segregações, as quais as crianças possam vir a sofrer mais tarde como adultos iletrados, é dever de todos...
Este trabalho tem também objetivos e efeitos sobre a família e o meio sociocultural mais amplo em que a criança se insere e oferece a todos a mesma possibilidade de acesso às diferentes formas de linguagem e as elaborações psíquicas que esta ação permite, englobando as áreas educativas, sociais e clínicas.
Como disse Otto Rank: “A literatura é o sonho acordado das civilizações. Assim como não pode haver equilíbrio psíquico sem o sonho durante o sono, talvez não haja equilíbrio social sem a literatura”.
Sejamos todos Cheherazade. Contando belas histórias às nossas crianças, fazendo delas admiradoras incondicionais da literatura e dos livros, e de geração em geração de Cheherazade, bem além de mil e uma noites, os bebês de hoje, futuros leitores, terão garantido um dos direitos básicos de todo ser humano, o acesso a cultura.
Claudia Maria de Lima Brandão
Psicóloga Clínica, Fonoaudióloga, Presidente da Associação Cultural Quero Ler – RJ
* Artigo no Jornal “Poiésis, Literatura, Pensamento & Arte” – Ano VIII N°77 –
julho 2002
Fonoaudióloga – Instituto Henry Dunant – RJ
¨ Presidente da Associação Cultural Quero Ler RJ
¨ Trabalhou de 1983 a 1999 na Associação “ACCES” – Paris – na Pesquisa sobre o Contato Precoce da Criança com o Livro
¨ Trabalhou como Psicóloga Clínica no Centro de Psiquiatria “CENTRE ALFRED BINET”, onde implantou um Atelier de leitura de histórias e contos (Paris 1985 à 1999)
¨ Trabalhou no Projeto do Ministério da Saúde, em parceria com a Fundação ABRINQ, na implantação da “Biblioteca Viva em Hospitais”, na formação e supervisão das equipes do Instituto Fernandes Figueira, Hospital Municipal Jesus e Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira – IPPMG, no Rio de Janeiro – 2001
Cursos e palestras junto a Casa da Leitura e ao PROLER – desde 2000
Filhos do coração
“ Não dá para expressar em palavras o que é ser mãe do coração. É uma alegria imensa, um orgulho... isso tudo eleva a alma e dá entusiasmo, ainda mais para mim, que já estou com mais de 50 anos e tenho até um neto.” As palavras, carregadas de emoção, certamente resumem os sentimentos dos pais que um dia, por algum motivo que pode variar da infertilidade ao amor à primeira vista por uma criança, optam pela adoção.
“ O filho do coração” de que falamos é Felipe, um menino que hoje tem 3 anos e meio e uma história de vida que impressiona muitos adultos. A mãe é Maria Rita Teixeira, diretora executiva da APAV – Associação Paranaense Alegria de Viver, entidade que abriga, hoje, 23 crianças entre 0 e 12 anos portadoras do HIV, o vírus causador da Aids. Foi justamente esse vírus que acabou cruzando a visa dos dois.
Por causa da doença da mãe biológica, Felipe nasceu prematuro e com uma série de problemas que o deixaram por alguns meses no hospital. Saindo de lá, seu destino seria a APAV. No dia da alta, o marido e a filha da Rita foram buscá-lo no hospital. “Durante todo o trajeto, meu marido o observava pelo espelho retrovisor, e se comoveu com o olhar forte dele. Ficou claro que existia algo a mais, como se fosse um pedido para viver conosco. A adoção foi unanimidade na família”.
Rita conta que o mais difícil foi explicar às outras crianças da APAV o porquê de apenas Felipe ter encontrado uma casa. “Mas todas aceitaram, entendendo que ele precisava de cuidados especiais, que poderia ter de ir a um hospital a qualquer hora e que, na casa, não teria todos os recursos necessários. No final, as crianças até ajudaram a escolher o nome dele. “ Se há dificuldades com a saúde do menino? Sim, mas quam não tem?”, pensa.
Exceção
Hoje Felipe é um menino feliz, que leva uma vida saudável graças aos medicamentos e, principalmente, ao carinho recebido da família que o adotou. Infelizmente, porém, ele é mais do que exceção. De acordo com uma pesquisa realizada pela Lídia Dobrianskyj Weber, da Universidade Federal do Paraná que abrangeu as cidades de todo o país, a maioria dos casais interessados em adoção levam para casa bebês saudáveis. Apenas 23% dos adotados abrangidos pela pesquisa apresentava algum problema, e quase sempre de fácil tratamento, como anemia ou desnutrição.
A idade das crianças quase sempre vai até os dois anos, e a exigência é maior com isso do que com a cor da pele. Além disso, foi revelada uma leve preferência por meninas (57% contra 43% por meninos).
Tais exigências contribuem para uma “fila de espera” dos pais. O juiz de direito da Infância e da Juventude, Dr. Fabian Schweitzer, acha que os brasileiros ainda não aprenderam que adoção existe para a criança, qualquer que seja, e não para satisfazer os adultos. “ A maioria dos pretendentes faz restrições demais quanto à cor de pele, cabello, dos olhos e da idade. Esses esperam mais porque exigem demais. A população do Brasil não é feita de Barbies.”
De acordo com Schweitzer, mais de 350 crianças, com idades entre 5 e 18 anos, estão aptas à adoção no Paraná atualmente. “Entre elas há grupos de 5 ou seis irmãos de diferentes idades, crianças negras e problemas com a saúde, que os paranaenses recusam para adoção. Esse quadro precisa mudar.”
Apesar das dificuldades para essas crianças, uma grande surpresa da pesquisa foi que mais da metade dos entrevistados demonstrou interesse em uma nova adoção. Quanto aos filhos, quase a totalidade consideram pai adotivos como verdadeiros.
Felipe ainda é pequeno para dar sua opinião, mas certamente ela não seria muito diferente da de Rita. “ O melhor presente para qualquer mãe, e ainda mais para mim, que considero todas as crianças da APAV como filhos, é vê-los saudáveis e felizes. Fui privilegiada com o amor deles.”
Reportagem de Karen Marcelja, publicada na Gazeta do Povo de 12/05/02 – Caderno Viver Bem.
“ Não dá para expressar em palavras o que é ser mãe do coração. É uma alegria imensa, um orgulho... isso tudo eleva a alma e dá entusiasmo, ainda mais para mim, que já estou com mais de 50 anos e tenho até um neto.” As palavras, carregadas de emoção, certamente resumem os sentimentos dos pais que um dia, por algum motivo que pode variar da infertilidade ao amor à primeira vista por uma criança, optam pela adoção.
“ O filho do coração” de que falamos é Felipe, um menino que hoje tem 3 anos e meio e uma história de vida que impressiona muitos adultos. A mãe é Maria Rita Teixeira, diretora executiva da APAV – Associação Paranaense Alegria de Viver, entidade que abriga, hoje, 23 crianças entre 0 e 12 anos portadoras do HIV, o vírus causador da Aids. Foi justamente esse vírus que acabou cruzando a visa dos dois.
Por causa da doença da mãe biológica, Felipe nasceu prematuro e com uma série de problemas que o deixaram por alguns meses no hospital. Saindo de lá, seu destino seria a APAV. No dia da alta, o marido e a filha da Rita foram buscá-lo no hospital. “Durante todo o trajeto, meu marido o observava pelo espelho retrovisor, e se comoveu com o olhar forte dele. Ficou claro que existia algo a mais, como se fosse um pedido para viver conosco. A adoção foi unanimidade na família”.
Rita conta que o mais difícil foi explicar às outras crianças da APAV o porquê de apenas Felipe ter encontrado uma casa. “Mas todas aceitaram, entendendo que ele precisava de cuidados especiais, que poderia ter de ir a um hospital a qualquer hora e que, na casa, não teria todos os recursos necessários. No final, as crianças até ajudaram a escolher o nome dele. “ Se há dificuldades com a saúde do menino? Sim, mas quam não tem?”, pensa.
Exceção
Hoje Felipe é um menino feliz, que leva uma vida saudável graças aos medicamentos e, principalmente, ao carinho recebido da família que o adotou. Infelizmente, porém, ele é mais do que exceção. De acordo com uma pesquisa realizada pela Lídia Dobrianskyj Weber, da Universidade Federal do Paraná que abrangeu as cidades de todo o país, a maioria dos casais interessados em adoção levam para casa bebês saudáveis. Apenas 23% dos adotados abrangidos pela pesquisa apresentava algum problema, e quase sempre de fácil tratamento, como anemia ou desnutrição.
A idade das crianças quase sempre vai até os dois anos, e a exigência é maior com isso do que com a cor da pele. Além disso, foi revelada uma leve preferência por meninas (57% contra 43% por meninos).
Tais exigências contribuem para uma “fila de espera” dos pais. O juiz de direito da Infância e da Juventude, Dr. Fabian Schweitzer, acha que os brasileiros ainda não aprenderam que adoção existe para a criança, qualquer que seja, e não para satisfazer os adultos. “ A maioria dos pretendentes faz restrições demais quanto à cor de pele, cabello, dos olhos e da idade. Esses esperam mais porque exigem demais. A população do Brasil não é feita de Barbies.”
De acordo com Schweitzer, mais de 350 crianças, com idades entre 5 e 18 anos, estão aptas à adoção no Paraná atualmente. “Entre elas há grupos de 5 ou seis irmãos de diferentes idades, crianças negras e problemas com a saúde, que os paranaenses recusam para adoção. Esse quadro precisa mudar.”
Apesar das dificuldades para essas crianças, uma grande surpresa da pesquisa foi que mais da metade dos entrevistados demonstrou interesse em uma nova adoção. Quanto aos filhos, quase a totalidade consideram pai adotivos como verdadeiros.
Felipe ainda é pequeno para dar sua opinião, mas certamente ela não seria muito diferente da de Rita. “ O melhor presente para qualquer mãe, e ainda mais para mim, que considero todas as crianças da APAV como filhos, é vê-los saudáveis e felizes. Fui privilegiada com o amor deles.”
Reportagem de Karen Marcelja, publicada na Gazeta do Povo de 12/05/02 – Caderno Viver Bem.
Criança hiperativa precisa de método próprio
A criança parece sempre estar “a mil”, não consegue ficar sentada na carteira, tem dificuldade de organização, não conclui uma atividade e logo em seguida inicia outra. Isso pode ser hiperatividade. Quanto mais cedo for diagnosticada, melhor será o tratamento.
Para o coordenador do Centro de Neuropediatria do Hospital das Clínicas da UFPR, Sérgio Antoniuk, o colégio deve elaborar técnicas auxiliando o hiperativo a aprender do seu jeito. “A escola durante a alfabetização pode gerar ansiedade no hiperativo. Por isso, é importante ensinar primeiramente as letras e os sons de cada uma, ao invés do método global utilizado atualmente”, afirma Antoniuk. Ele ainda alerta que nem sempre uma criança desatenta é hiperativa. Porém, existem casos em que os dois diagnósticos aparecem juntos.
Academicamente, o hiperativo deve ser bem tratado e ter consciência de sua situação. Segundo Regiane Bérgamo, professora de Pedagogia da PUCPR, a escola deve saber identificar o problema para não rotular o aluno de mal-educado e bagunceiro. A professora deve trabalhar com atividades mais dinâmicas para prender a atenção da criança.
Matéria do Caderno Educação Infantil, da Gazeta do Povo de 21 de fevereiro de 2006, escrita por Luiza Prestes Karam.
A criança parece sempre estar “a mil”, não consegue ficar sentada na carteira, tem dificuldade de organização, não conclui uma atividade e logo em seguida inicia outra. Isso pode ser hiperatividade. Quanto mais cedo for diagnosticada, melhor será o tratamento.
Para o coordenador do Centro de Neuropediatria do Hospital das Clínicas da UFPR, Sérgio Antoniuk, o colégio deve elaborar técnicas auxiliando o hiperativo a aprender do seu jeito. “A escola durante a alfabetização pode gerar ansiedade no hiperativo. Por isso, é importante ensinar primeiramente as letras e os sons de cada uma, ao invés do método global utilizado atualmente”, afirma Antoniuk. Ele ainda alerta que nem sempre uma criança desatenta é hiperativa. Porém, existem casos em que os dois diagnósticos aparecem juntos.
Academicamente, o hiperativo deve ser bem tratado e ter consciência de sua situação. Segundo Regiane Bérgamo, professora de Pedagogia da PUCPR, a escola deve saber identificar o problema para não rotular o aluno de mal-educado e bagunceiro. A professora deve trabalhar com atividades mais dinâmicas para prender a atenção da criança.
Matéria do Caderno Educação Infantil, da Gazeta do Povo de 21 de fevereiro de 2006, escrita por Luiza Prestes Karam.
NA HORA DO PARTO A AJUDA DO PARCEIRO VALE MUITO
O grande momento chegou e o futuro papai reúne todas as condições de oferecer apoio e segurança para a sua companheira.
Ele se sente completamente feliz e orgulhoso. Afinal, foram 9 meses de muitas transformações, planos e emoções. E, se a hora do nascimento parece difícil, a atuação do companheiro é decisiva e pode até reduzir a duração do parto.
Nada de dúvidas nem calafrios. Ele pode manter a calma, ter controle da situação - por sinal, uma grande habilidade masculina – e, assim, dar suporte emocional para a mulher.É direito dele também cortar o cordão umbilical e dar o primeiro banho, se assim desejar. O importante é combinar detalhes com o obstetra e, sobretudo, ter noção concreta do que acontece ao longo do trabalho de parto.
Toda mulher pode parir e isso deve ser encarado como algo natural. Acontece que na hora do parto algumas regiões do cérebro atuam de formas distintas.“O cérebro primitivo é responsável por nossos instintos. Temos memória filogenética, comum a todos os mamíferos, que nos faz reagir da melhor maneira na hora de parir. Só que temos o neocórtex, região da memória atual que age sobre o primitivo. No momento do parto, é preciso que o primitivo aflore e domine a cena”, explica Heloísa Lessa, enfermeira obstetriz, professora da Universidade Estadual do Rio de Janeiro e uma das organizadoras do II Congresso Internacional Ecologia do Parto e Nascimento, que acontece neste mês no Rio de Janeiro.
Por isso é tão importante criar um ambiente propício na hora do parto, com o máximo de privacidade e luz baixa (a luz forte estimula o neocortéx). Enfim, um ambiente calmo, livre de preocupações. Segundo a especialista, qualquer acontecimento, como o simples toque do telefone, pode interferir negativamente, pois a futura mãe produzirá adrenalina, hormônio que a deixa em estado de alerta, quando deveria estar liberando endorfina, que traz alívio da dor. Além do mais, a dor do parto tem hora para começar e acabar e há intervalos para a grávida descansar e repor as energias. A mulher que está amparada pelo companheiro e se deixa levar pelos instintos terá uma vivência positiva desse momento.
Assistir ou não
É habitual hoje o marido acompanhar a esposa na hora do parto, o que não significa obrigação. A decisão depende de alguns fatores e deve ser discutida pelo casal. “O homem que consegue controlar o nervosismo pode transmitir segurança para a gestante. Outros, porém, embora desejem participar, ficam tensos demais, o que pode atrapalhar o andamento do parto. Não há como saber como vai ser a reação de cada um”, pondera Heloísa Lessa. Mas, segundo ela, há indícios que devem ser levados em conta, como o fato de a pessoa não poder ver sangue.
O ginecologista e obstetra Abner Lobão Neto, coordenador do pré-natal personalizado da Universidade Federal de São Paulo, acrescenta: “A mulher tem o direito de decidir se deseja ou não que o marido esteja a seu lado no parto. Há algumas que não querem que o companheiro veja o bebê saindo pela vagina, porque temem que o encanto sexual seja quebrado”.
Participação no Pré natal
Ao acompanhar a esposa nas consultas mensais do pré-natal, o marido tem a chance de criar um vínculo com o obstetra, o que no dia do parto se traduz em maior segurança para todos. Segundo a pediatra e neonatologista Karina Maksymczuk, o lento desenrolar do parto normal causa nervosismo ao homem, que muitas vezes questiona se não é melhor optar pela cesárea, quando está tudo correndo bem. “Por isso a confiança na equipe médica tende a eliminar a ansiedade num momento que exige de todos tranqüilidade”, diz ela.
Documentos separados
Toda a parte burocrática pode e deve ser resolvida com antecedência, para que no dia do parto o marido não deixe a mulher sozinha nem por cinco minutos. Muitas maternidades fazem pré-internação. Nesse caso, é necessário preencher com antecedência um ficha com os dados do casal, com RG, CIC, nº da carteira do convênio, profissão, idade, endereço e tipo de acomodação que deseja. Essa ficha pode ser enviada por internet ou entregue pessoalmente no hospital. Para os usuários de planos de saúde, as maternidades costumam solicitar, no momento da internação, o RG da parturiente, a carteira do convênio e o comprovante do último pagamento. Há convênios que fornecem autorização para internação somente por meio de guia ou senha. É importante checar também se o plano cobre as acomodações da maternidade escolhida e se essa cobertura se estende aos profissionais, como anestesista, neonatologista, instrumentadora cirúrgica e obstetra. Para internações em hospitais públicos ou que mantenham convênio com o Sistema Único de Saúde (SUS) é necessário apresentar RG da parturiente e do marido, carteira do pré-natal e certidão de casamento, se for o caso. A gestante deve levar também para a maternidade os exames realizados, em especial as ultra-sonografias, bem como uma carta do obstetra contendo os dados principais do pré-natal e os telefones do profissional. Por isso, quando a gravidez estiver chegando ao fim, o obstetra descreverá como foi o pré-natal, deixando por escrito as primeiras orientações para o parto – normal ou cesariana -, que deverão ser seguidas pelas enfermeiras no memento da internação.
O caminho da maternidade
O companheiro deve prestar atenção ao trajeto, buscar opções para evitar congestionamentos e ruas esburacadas. A futura mamãe sente as manobras bruscas. E mais: verificar os estacionamentos da região. Caso decidam ir de táxi, é bom ter à mão o telefone de uma central de confiança. Nada de afobação ou loucuras no trânsito. Muitos acidentes ocorrem por causa do pânico. Ambos devem usar cinto de segurança.
Faça sem discutir
A mulher tem que se concentrar nas contrações e nos intervalos. Discussões precisam ser evitadas. O marido não deve se surpreender se ela lhe pedir para fazer coisas aparentemente estranhas, como colocar sempre a mesma música.
Ele precisa estar pronto para caminhar com ela, limpar o suor do rosto, afagar seus cabelos e leva-la para o chuveiro ou para a banheira. Isso porque a água morna alivia o desconforto e tem efeito revigorante. “Se notar que a mulher está nervosa, o parceiro vai ajuda-la respirando profundamente várias vezes, olhando nos olhos dela. Instintivamente, ela passará a respirar fundo também, o que facilita a liberação de endorfina e o alívio da dor”, aconselha Heloísa. Ele não pode recrimina-la em hipótese alguma se ela gritar, chorar ou se comportar de forma diferente do habitual.
E se for cesárea?
O parto, especialmente se for cesariana, parece um evento médico, racional e preciso quando feito no hospital. “Mas trata-se de um momento de extrema importância emocional. Está nascendo uma nova família. Mesmo na cesariana, a presença do marido é fundamental. Ele está ali para segurar a mão da esposa, dar carinho, encoraja-la, presenciar o nascimento do filho, pegá-lo nos braços. Enfim, dividir com a companheira o memento do nascimento, fruto de um sonho”, diz Andréa Amaral de Almeida Prado, psicóloga e doula, profissional que acompanha a mulher no trabalho de parto.
Toque que alivia
No trabalho de parto, toda mulher procura instintivamente a postura mais adequada para fazer o bebê chegar ao mundo. As posições verticais favorecem a dilatação e a descida do nenê. Sendo assim, a gestante poderá caminhar, sentar e agachar, revezando movimentos.” A maioria das mulheres se queixa de desconforto na região lombar, em especial na altura do cóccix, bem com ode tensão nos ombros e no pescoço”, relata Heloísa. È aí que o parceiro pode ajudar, fazendo massagens nas regiões doloridas, nos intervalos das contrações, ora pressionando as pontas dos dedos, ora fazendo movimentos circulares. Não é preciso treino. O toque com amor e sensibilidade é um tremendo alívio para a futura mamãe.
Frase de ouro
A mulher precisa ser motivada e valorizada nesse momento tão especial. Por isso, atitudes sempre firmes e positivas aumentam a confiança e o entusiasmo. Pequenas frases usadas de forma comedida – como: “Você vai conseguir! Vamos lá! Nosso bebê está chegando! – são reforços muitos importantes.” Pesquisas indicam que o parto é mais rápido e fácil quando o acompanhante consegue manter a tranqüilidade durante todo o procedimento “, explica Vera Iaconelli, mestre em psicologia pela Universidade de São Paulo (USP) e especialista em acompanhamento de partos de risco”.
Gente demais atrapalha
“O parto é um evento intenso e muito, mas muito íntimo. A mulher fica exposta o tempo todo com as pernas abertas e na frente de um vidro com outras pessoas observando. O que se faz em muitas maternidades hoje é simplesmente escandaloso”, afirma Vera Iaconelli, que aconselha o casal a exigir privacidade no hospital e a discutir sobre quando chamar a família e a quem recorrer. Mães e sogras estão emocionalmente envolvidas com a chegada do neto ou da neta. Muitas vezes elas não querem que a filha ou nora passe coisas que viveram, já que infelizmente as gerações passadas tiveram experiências difíceis de parto. Nessa hora, basta uma frase do tipo”não é melhor fazer uma cesárea?” para minar a segurança da gestante, conquistada ao longo de meses, O ginecologista e obstetra Abner Lobão Neto acha importante que o casal tenha privacidade nas primeiras horas que se seguem ao parto para trocar idéias sobre o que aconteceu e poder ficar com o bebê. São momentos únicos da nova família que precisam ser preservados. Mas acrescenta: “Se a angústia for grande por não avisar os parentes, pode-se comunica-los antes. Mas tem que se estar preparado paro o que vai acontecer. Parentes vão e voltam, fazem festa e nem sempre se dão conta dos limites”.
As horas depois do parto
Nem tudo são flores após o parto. E o papai precisará de muita paciência e compreensão. “Cerca de 80% das mulheres apresentam, após o parto, alteração depressiva do humor. Muitas choram por qualquer razão, ficam tristes e questionam se vão conseguir cuidar do bebê. Isso se deve à queda abrupta das taxas de hormônios na hora do nascimento. Ao mesmo tempo, aumenta a prolactina, hormônio relativamente depressor do humor”, explica Lobão Neto. Segundo ele, a maioria das mamães supera essa fase nos primeiros dias. Apenas uma minoria, entre 5% e 15% delas, terá depressão pelo período de um a três meses. Sabendo de tudo isso, o parceiro poderá dar suporte emocional à mulher, ouvindo as queixas dela, ajudando-a a cuidar do bebê e protegendo-a de pessoas intrometidas e inconvenientes.
Artigo extraído da revista Guia Completo do Parto – Especial Meu Nenê, ano 5, nº 20. Editora Símbolo.
O grande momento chegou e o futuro papai reúne todas as condições de oferecer apoio e segurança para a sua companheira.
Ele se sente completamente feliz e orgulhoso. Afinal, foram 9 meses de muitas transformações, planos e emoções. E, se a hora do nascimento parece difícil, a atuação do companheiro é decisiva e pode até reduzir a duração do parto.
Nada de dúvidas nem calafrios. Ele pode manter a calma, ter controle da situação - por sinal, uma grande habilidade masculina – e, assim, dar suporte emocional para a mulher.É direito dele também cortar o cordão umbilical e dar o primeiro banho, se assim desejar. O importante é combinar detalhes com o obstetra e, sobretudo, ter noção concreta do que acontece ao longo do trabalho de parto.
Toda mulher pode parir e isso deve ser encarado como algo natural. Acontece que na hora do parto algumas regiões do cérebro atuam de formas distintas.“O cérebro primitivo é responsável por nossos instintos. Temos memória filogenética, comum a todos os mamíferos, que nos faz reagir da melhor maneira na hora de parir. Só que temos o neocórtex, região da memória atual que age sobre o primitivo. No momento do parto, é preciso que o primitivo aflore e domine a cena”, explica Heloísa Lessa, enfermeira obstetriz, professora da Universidade Estadual do Rio de Janeiro e uma das organizadoras do II Congresso Internacional Ecologia do Parto e Nascimento, que acontece neste mês no Rio de Janeiro.
Por isso é tão importante criar um ambiente propício na hora do parto, com o máximo de privacidade e luz baixa (a luz forte estimula o neocortéx). Enfim, um ambiente calmo, livre de preocupações. Segundo a especialista, qualquer acontecimento, como o simples toque do telefone, pode interferir negativamente, pois a futura mãe produzirá adrenalina, hormônio que a deixa em estado de alerta, quando deveria estar liberando endorfina, que traz alívio da dor. Além do mais, a dor do parto tem hora para começar e acabar e há intervalos para a grávida descansar e repor as energias. A mulher que está amparada pelo companheiro e se deixa levar pelos instintos terá uma vivência positiva desse momento.
Assistir ou não
É habitual hoje o marido acompanhar a esposa na hora do parto, o que não significa obrigação. A decisão depende de alguns fatores e deve ser discutida pelo casal. “O homem que consegue controlar o nervosismo pode transmitir segurança para a gestante. Outros, porém, embora desejem participar, ficam tensos demais, o que pode atrapalhar o andamento do parto. Não há como saber como vai ser a reação de cada um”, pondera Heloísa Lessa. Mas, segundo ela, há indícios que devem ser levados em conta, como o fato de a pessoa não poder ver sangue.
O ginecologista e obstetra Abner Lobão Neto, coordenador do pré-natal personalizado da Universidade Federal de São Paulo, acrescenta: “A mulher tem o direito de decidir se deseja ou não que o marido esteja a seu lado no parto. Há algumas que não querem que o companheiro veja o bebê saindo pela vagina, porque temem que o encanto sexual seja quebrado”.
Participação no Pré natal
Ao acompanhar a esposa nas consultas mensais do pré-natal, o marido tem a chance de criar um vínculo com o obstetra, o que no dia do parto se traduz em maior segurança para todos. Segundo a pediatra e neonatologista Karina Maksymczuk, o lento desenrolar do parto normal causa nervosismo ao homem, que muitas vezes questiona se não é melhor optar pela cesárea, quando está tudo correndo bem. “Por isso a confiança na equipe médica tende a eliminar a ansiedade num momento que exige de todos tranqüilidade”, diz ela.
Documentos separados
Toda a parte burocrática pode e deve ser resolvida com antecedência, para que no dia do parto o marido não deixe a mulher sozinha nem por cinco minutos. Muitas maternidades fazem pré-internação. Nesse caso, é necessário preencher com antecedência um ficha com os dados do casal, com RG, CIC, nº da carteira do convênio, profissão, idade, endereço e tipo de acomodação que deseja. Essa ficha pode ser enviada por internet ou entregue pessoalmente no hospital. Para os usuários de planos de saúde, as maternidades costumam solicitar, no momento da internação, o RG da parturiente, a carteira do convênio e o comprovante do último pagamento. Há convênios que fornecem autorização para internação somente por meio de guia ou senha. É importante checar também se o plano cobre as acomodações da maternidade escolhida e se essa cobertura se estende aos profissionais, como anestesista, neonatologista, instrumentadora cirúrgica e obstetra. Para internações em hospitais públicos ou que mantenham convênio com o Sistema Único de Saúde (SUS) é necessário apresentar RG da parturiente e do marido, carteira do pré-natal e certidão de casamento, se for o caso. A gestante deve levar também para a maternidade os exames realizados, em especial as ultra-sonografias, bem como uma carta do obstetra contendo os dados principais do pré-natal e os telefones do profissional. Por isso, quando a gravidez estiver chegando ao fim, o obstetra descreverá como foi o pré-natal, deixando por escrito as primeiras orientações para o parto – normal ou cesariana -, que deverão ser seguidas pelas enfermeiras no memento da internação.
O caminho da maternidade
O companheiro deve prestar atenção ao trajeto, buscar opções para evitar congestionamentos e ruas esburacadas. A futura mamãe sente as manobras bruscas. E mais: verificar os estacionamentos da região. Caso decidam ir de táxi, é bom ter à mão o telefone de uma central de confiança. Nada de afobação ou loucuras no trânsito. Muitos acidentes ocorrem por causa do pânico. Ambos devem usar cinto de segurança.
Faça sem discutir
A mulher tem que se concentrar nas contrações e nos intervalos. Discussões precisam ser evitadas. O marido não deve se surpreender se ela lhe pedir para fazer coisas aparentemente estranhas, como colocar sempre a mesma música.
Ele precisa estar pronto para caminhar com ela, limpar o suor do rosto, afagar seus cabelos e leva-la para o chuveiro ou para a banheira. Isso porque a água morna alivia o desconforto e tem efeito revigorante. “Se notar que a mulher está nervosa, o parceiro vai ajuda-la respirando profundamente várias vezes, olhando nos olhos dela. Instintivamente, ela passará a respirar fundo também, o que facilita a liberação de endorfina e o alívio da dor”, aconselha Heloísa. Ele não pode recrimina-la em hipótese alguma se ela gritar, chorar ou se comportar de forma diferente do habitual.
E se for cesárea?
O parto, especialmente se for cesariana, parece um evento médico, racional e preciso quando feito no hospital. “Mas trata-se de um momento de extrema importância emocional. Está nascendo uma nova família. Mesmo na cesariana, a presença do marido é fundamental. Ele está ali para segurar a mão da esposa, dar carinho, encoraja-la, presenciar o nascimento do filho, pegá-lo nos braços. Enfim, dividir com a companheira o memento do nascimento, fruto de um sonho”, diz Andréa Amaral de Almeida Prado, psicóloga e doula, profissional que acompanha a mulher no trabalho de parto.
Toque que alivia
No trabalho de parto, toda mulher procura instintivamente a postura mais adequada para fazer o bebê chegar ao mundo. As posições verticais favorecem a dilatação e a descida do nenê. Sendo assim, a gestante poderá caminhar, sentar e agachar, revezando movimentos.” A maioria das mulheres se queixa de desconforto na região lombar, em especial na altura do cóccix, bem com ode tensão nos ombros e no pescoço”, relata Heloísa. È aí que o parceiro pode ajudar, fazendo massagens nas regiões doloridas, nos intervalos das contrações, ora pressionando as pontas dos dedos, ora fazendo movimentos circulares. Não é preciso treino. O toque com amor e sensibilidade é um tremendo alívio para a futura mamãe.
Frase de ouro
A mulher precisa ser motivada e valorizada nesse momento tão especial. Por isso, atitudes sempre firmes e positivas aumentam a confiança e o entusiasmo. Pequenas frases usadas de forma comedida – como: “Você vai conseguir! Vamos lá! Nosso bebê está chegando! – são reforços muitos importantes.” Pesquisas indicam que o parto é mais rápido e fácil quando o acompanhante consegue manter a tranqüilidade durante todo o procedimento “, explica Vera Iaconelli, mestre em psicologia pela Universidade de São Paulo (USP) e especialista em acompanhamento de partos de risco”.
Gente demais atrapalha
“O parto é um evento intenso e muito, mas muito íntimo. A mulher fica exposta o tempo todo com as pernas abertas e na frente de um vidro com outras pessoas observando. O que se faz em muitas maternidades hoje é simplesmente escandaloso”, afirma Vera Iaconelli, que aconselha o casal a exigir privacidade no hospital e a discutir sobre quando chamar a família e a quem recorrer. Mães e sogras estão emocionalmente envolvidas com a chegada do neto ou da neta. Muitas vezes elas não querem que a filha ou nora passe coisas que viveram, já que infelizmente as gerações passadas tiveram experiências difíceis de parto. Nessa hora, basta uma frase do tipo”não é melhor fazer uma cesárea?” para minar a segurança da gestante, conquistada ao longo de meses, O ginecologista e obstetra Abner Lobão Neto acha importante que o casal tenha privacidade nas primeiras horas que se seguem ao parto para trocar idéias sobre o que aconteceu e poder ficar com o bebê. São momentos únicos da nova família que precisam ser preservados. Mas acrescenta: “Se a angústia for grande por não avisar os parentes, pode-se comunica-los antes. Mas tem que se estar preparado paro o que vai acontecer. Parentes vão e voltam, fazem festa e nem sempre se dão conta dos limites”.
As horas depois do parto
Nem tudo são flores após o parto. E o papai precisará de muita paciência e compreensão. “Cerca de 80% das mulheres apresentam, após o parto, alteração depressiva do humor. Muitas choram por qualquer razão, ficam tristes e questionam se vão conseguir cuidar do bebê. Isso se deve à queda abrupta das taxas de hormônios na hora do nascimento. Ao mesmo tempo, aumenta a prolactina, hormônio relativamente depressor do humor”, explica Lobão Neto. Segundo ele, a maioria das mamães supera essa fase nos primeiros dias. Apenas uma minoria, entre 5% e 15% delas, terá depressão pelo período de um a três meses. Sabendo de tudo isso, o parceiro poderá dar suporte emocional à mulher, ouvindo as queixas dela, ajudando-a a cuidar do bebê e protegendo-a de pessoas intrometidas e inconvenientes.
Artigo extraído da revista Guia Completo do Parto – Especial Meu Nenê, ano 5, nº 20. Editora Símbolo.
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