quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Nem boi da cara preta ajuda




Especialistas avaliam artifícios usados pelos pais para fazer os bebês dormirem

Quem tem filho pequeno, sabe: eles lutam contra o sono. Estafados depois de noites sem dormir, os pais lançam mão dos mais curiosos artifícios para fazer os bebês adormecerem. No desespero, tem pai subindo e descendo de elevador, dando volta na quadra com o carro, levando na benzedeira e até dando calmantes fitoterápicos para as crianças.
A promotora de vendas Marisa Fagundes perdeu as contas de quantas noites passou em claro por causa do filhinho Gustavo. Logo que nasceu, o menino acordava praticamente de hora em hora. Hoje, mesmo com 1 ano de idade, ele ainda não dorme a noite toda. “Para fazê-lo pegar no sono, meu marido tem de ficar chacoalhando e cantando”, conta.
A cirurgia dentista Cristiane Carraro também perdeu inúmeras noites de sono por causa da filhinha de 8 meses, Fernanda. Exausta, Cristiane tentou de tudo: chás milagrosos, banhos relaxantes, homeopatia e até benzedeira. “ Eu e meu marido chegamos a levar um colchão para o chão do quarto dela para ver se ela dormia”, conta.
Em 90% dos casos, o problema que rouba o descanso de muitos pais não tem origem em nenhum distúrbio do sono ou doença. A causa geralmente é comportamental. A questão é que na ânsia de tentar ajudar, os pais costumam cometer uma série de erros que com o tempo acabam só piorando o problema.
Especialistas são unânimes em dizer que qualquer recurso que condicione a criança a dormir somente na presença de determinado estímulo deve ser evitado. “Não é da natureza da criança dormir com música, embala ou no carro. O hábito de dormir é aprendido e deve ser aprendido e deve ser aprendido corretamente”, afirma Alaídes Olmos, neurologista e especialista em sono do Hospital Pequeno Príncipe. Segundo ela, os reflexos de uma criança tranqüila podem ser notados não apenas na qualidade de vida do bebê, como também nos próprios pais. “ Para muitos casais, os filhos são motivo de problema. Levantar-se diversas vezes durante a noite deixa os pais exaustos e irritados no dia seguinte. Mesmo assim, muitos demoram a procurar ajuda para tratar um distúrbio que pode ter solução apenas na mudança de hábitos”, afirma.

Roteiro para uma noite feliz

A Gazeta do Povo conversou com pediatras, neurologistas e especialistas em sono que deram dicas do que os pais devem ou não devem fazer para corrigir os hábitos de sono dos bebês.

ROTINA
De acordo com a neurofisiologia Ana Christina Crippa, da UFPR, o estabelecimento de uma rotina é o primeiro passo para regular o sono do bebê. O recém-nascido ainda não é capaz de distinguir quando é dia e quando à noite, por isso é necessário que os pais estabeleçam desde cedo um horário para dormir e uma rotina a ser seguida. “ É importante que ele vá aprendendo a diferenciar noite e dia. Por isso, não se deve colocar o bebê para dormir de dia em lugares escuros ou à noite com luz acesa”, explica.

DORMIR CEDO
A neurologista e especialista em sono Alaídes Olmos, do Hospital Pequeno Príncipe, diz que os pais não devem deixar o bebê acordado até tarde. “Tem pais que chegam do trabalho tarde e daí querem brincar com o filho, isso é errado. Por volta doa 20 horas ele já deve estar indo para cama. E já no fim da tarde os pais devem ir diminuindo a atividade da criança para que ela vá relaxando”, explica.

DEIXAR CHORAR
A maior dificuldade, principalmente para os pais de primeira viagem, está em resistir e não levantar correndo ao primeiro sinal de choro. Durante a noite, assim como os adultos, o bebê pode acordar, se mexer e até reclamar sem estar totalmente desperto. “Os pais mais ansiosos correm para atender o neném e o acordam”, afirma. A orientação, nesses casos é que os pais esperem alguns minutos para ver se o bebê não volta a dormir sozinho. Caso isso não ocorra, devem ir até o quarto da criança e tenta acalma-la sem tira-la do berço, apenas conversando ou mudando de posição. Para o pediatra Carlos Gubert, da Maternidade Curitiba, em muitos casos o bebê aprende que se ele chorar terá atenção e, portanto faz disso uma rotina.

DORMIR NO PRÓRPIO QUARTO
De acordo Gubert, a criança deve ser acostumada desde pequena a dormir no seu próprio quarto. Assim, ela não fica dependente dos pais”, afirma. Segundo ele, ter seu próprio espaço ajuda no desenvolvimento da auto-estima do bebê. Ana Christina explica ainda que adultos e bebês têm ciclos do sono diferenciados. “As mudanças das fases do sono são diferentes. A quantidade de sono de que o bebê precisa também é outra”, afirma.

BICHINHOS
O uso de um bichinho ou fraldinha é um artifício que ajuda o bebê a ficar sozinho no quarto. São chamados objetos de transição. Para Alaídes, eles contribuem para que a criança se sinta segura e não dependa da presença dos pais para dormir.

BALANÇAR
Embalar o bebê nos braços, na cadeira de balanço, na rede ou dar voltas no carrinho é um recurso utilizado, porém não recomendado. Segundo Gubert, com o tempo a criança acaba ficando acostumada e só dorme nessas condições. “e quando o estímulo pára, ela desperta”, afirma. O ideal é que a criança aprenda a dormir direto no berço.

BANHO
O banho ajuda a relaxar. A água quente provoca uma vasodilatação e uma queda de pressão. Além disso, se os pais acostumarem a criança a tomar banho e logo ir dormir, ela assimila isso como rotina.

MÚSICAS
Canções de ninar ou CDs de música clássica costumam ser aliados dos pais. No entanto, para Ana Christina, a música pode até ter um fator relaxante, mas não deve ser usada a ponto de se tornar uma condição para o bebê dormir.

TELEVISÃO
O costume adulto de adormecer assistindo à TV é cada vez mais repassado para as crianças. No entanto, os especialistas alertam que isso é um erro. O ideal é que a criança durma em um ambiente silencioso e com o mínimo de luz.

CALMANTES
De acordo com Ana Christina, o uso de qualquer medicamento que induza o sono não é recomendado para crianças. “O cérebro do bebê ainda está em desenvolvimento, por isso o medicamento não é indicado”, afirma.

Matéria publicada na Gazeta do Povo, escrita por Cecília Valenza, em 27 de março de 2006

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