terça-feira, 1 de setembro de 2009
As Reações Infantis na Adaptação
Ir para a escola de ensino infantil faz com que as crianças tenham que ficar longe dos pais e da família e isso pode ser um processo leve ou pesado para a criança e para os pais, não só quando as crianças entram na escola pela primeira vez, mas também a cada passagem de ano, de uma turma para outra.
O que é certo neste momento de adaptação, é que as crianças estavam acostumadas a ficar em casa perto das pessoas que amam e que são muito importantes na vida delas (no caso das crianças que estão entrando na escola pela primeira vez), ou estavam curtindo as férias junto dos pais com lazeres e atividades prazerosas (no caso de quem já freqüentava a escola) e de repente têm de aceitar uma realidade bem diferente; ficar um determinado período do dia num outro ambiente, com outras pessoas (profissionais da escola e colegas), com outras normas, regras, rotinas e disciplinas.
Em casa, podiam fazer certas coisas gostosas, como assistir filminhos a hora que quisessem, ficar de pijamas, comer algumas guloseimas, brincar no pátio, brincar com o cachorrinho etc. e neste momento não poderão mais realizar suas vontades na escola e muito menos ficar perto dos familiares mais queridos.
Todas as questões mencionadas acima mexem com as crianças; algumas aceitam rapidamente e outras não. O importante é lembrarmos que cada criança lida de maneira diferente com isto, ou seja de acordo com sua maneira de ser. Alguns choram nos primeiros dias e depois ficam bem, outros ficam doentinhos (fazem febre, diarréia, provocam vômitos, etc.) outros ficam mais agressivos (batem, empurram, chutam, mordem...). Todas as reações são formas que as crianças utiliza para tentar não passar por isso, para tentar convencer a família a voltar ao ritmo de antes.
Em nossa prática na Educação Infantil, já nos deparamos com as mais diversas reações das crianças: mentir, falar mal da professora, inventar coisas negativas sobre o lanche, não querer lanchar para comer com os pais em casa, ficar agressiva com a pessoa que a deixa na escola (como se estivesse de mau), levar coisas da escola ou dos colegas para casa, gritar sem parar, não querer falar sobre a escola nos primeiros dias, chorar quando os pais a buscam etc.as crianças usam estas táticas para mostrar que não estão conseguindo aceitar a frustração: de ficar longe da família, de ter que aprender a conviver com pessoas diferentes e estranhas para ela, de entender que precisará respeitar normas e rotinas, de aprender a dividir a atenção da professora com o colega, ou de dividir objetos e materiais com os colegas, entre outras questões.
Para facilitar este processo para a criança, o primeiro ponto fundamental é os pais terem consciência de que as reações são formas que as crianças apresentam ( as mais diversas) e têm a ver com dificuldades da própria criança em aceitar frustrações, em aceitar perder as coisas. O segundo ponto importante é os pais perceberem que cada criança tem um ritmo diferente para entender a tal frustração que pode variar de um dia a alguns meses ou até anos (várias crianças que observo passam por dificuldades na adaptação em cada troca de turma)
A postura que os pais vão ter frente a adaptação do filho faz toda a diferença. Pais inseguros, cheios de dúvidas, ou até mesmo os que choram diante da adaptação, obviamente passam suas ansiedades para a criança, o que atrasa o processo de adaptação. Alguns pais se assustam com as reações que o filho (a) faz e não entendem que elas fazem parte deste processo natural e acabam deixando a criança mais nervosa. Já nos deparamos com pais que tiram a criança da escola por não agüentarem ver certos comportamentos. Infelizmente, pais que optam por desistir da permanência do filho na escola provocam uma conseqüência que pode ser negativa: o filho saberá que sempre que tiver determinada reação, os pais vão ceder e agradá-lo e também a criança não estará aprendendo enfrentar perdas e lidar com frustrações.
Sendo assim, o trabalho mais árduo na adaptação é da família/ dos pais.
Se houver qualquer sinal de ansiedade, acabam questionando demais sobre a escola, o que a professora fez, o relacionamento com os coleguinhas, ou seja, acabam cobrando exageradamente a atitude da criança na escola e também da escola com a criança, interferindo muitas vezes de uma maneira negativa na rotina da escola. Criam situações de dependência com o filho: ficam espiando na janela da sala de aula; levam a criança no colo até a sala; carregam sua mochila; tentam ficar na escola por várias semanas. O que os pais não sabem, é que quando viram as costas, seus filhos ficam mais calmos e se divertem com os novos amiguinhos e com os novos brinquedos. Para algumas crianças isso demora um pouquinho mais para acontecer, devido a ansiedade dos pais, mas sempre acabam relaxando em determinado ponto do processo e ficam muito bem.
O que os pais mais comentam conosco, nesta fase da adaptação, é que não gostam e não admitem que seus filhos sejam mordidos, empurrados, ou sejam agredidos por outras crianças. Minhas orientações são sempre no sentido de entenderem um pouco mais, que essas outras crianças podem estar passando por situações familiares difíceis e mudanças que deixaram-nas mais agressivas. Os pais não têm informação de que atitudes agressivas fazem parte da infância; a agressividade é a maneira mais natural que utilizam para se defender, afirmar opiniões e conquistar espaços.
Por isso, os profissionais da Escola Estação Criança são orientados pela coordenação e pelo setor de psicologia para ocuparem as crianças durante as adaptações com técnicas e atividades prazerosas, criativas, diferentes e atraentes para que a criança se esqueça um pouco de casa e passe a prestar atenção na escola. Também são orientados a fazer todas essas brincadeiras para que comportamentos agressivos se amenizem, pois a criança ocupada foca mais tempo de sua atenção no que está fazendo (pintura, desenho, ouvindo histórias, brincando, etc. O que não quer dizer que tais comportamentos serão eliminados. Isso só acontecerá quando a criança aprender que existem outras maneiras de delimitar espaços, afirmar opiniões e quando conseguir de fato aceitar as perdas e lidar com as frustrações/ quando isto estiver resolvido dentro dela. E por mais que os profissionais da escola sejam totalmente qualificados, sempre surgem mordidas e machucados, pois às vezes, quando o profissional vira a cabeça para o lado, pode acontecer algum episódio.
Com tudo isso, concluo que a escola de educação infantil, constrói adultos melhores: se desde pequena a criança aprender a lidar com o sofrimento das perdas, na sua vida adulta também vai saber lidar as frustrações do cotidiano, como, por exemplo, perder empregos, perder bens materiais, terminar relacionamentos, etc. simplesmente não vai se desesperar, fazer greves de fome, tentar acabar com a sua vida, criar depressões. O adulto vai conseguir ter calma e tranqüilidade para aceitar melhor suas perdas e buscar novas soluções.
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Alessandra Fogaça Martins
Pedagoga Responsável
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