terça-feira, 1 de setembro de 2009

MORDIDAS SIGINIFICAM AGRESSIVIDADE OU APRENDIZAGEM?

Mordidas costumam causar desentendimentos nas escolas, pois ninguém gosta que seu filho seja mordido. Os pais da “vítima”, ás vezes, sentem-se culpados por deixarem seu filho correr riscos num ambiente com tantas crianças. Já os pais da criança que mordeu, quase sempre, ficam envergonhados com o fato.
O primeiro contato da criança com o mundo é pela boca, ao colocar um objeto na boca, está experimentando este objeto; está aumentando seu conhecimento sobre as coisas que a rodeiam. A boca se configura como grande fonte de descobertas. Chupar, morder, sugar, degustar, emitir sons, inspirar e expirar são ações que dão prazer e também por onde pode relacionar-se com o mundo externo.
Os dentes estão despontando na gengiva coçam e afligem a criança nesta fase. Outro fato a se considerar é que as crianças até 3 anos frustram-se com facilidade e têm pouco controle sobre seus impulsos.
Para as crianças desta faixa etária, compartilhar ainda é difícil, já que o outro não é percebido como diferente delas próprias. O outro só existe em função do seu desejo. Na hora da disputa por algum objeto ou pela companhia e atenção de alguém, aparece o conflito seguido da sensação de perda. O desconforto deste sentimento é algo que ainda não pode ser compreendido e, na ânsia de livrar-se dessa situação, agem rapidamente usando seu corpo. O corpo é aquilo que lhes é conhecido, sobre o que têm algum controle e a boca, o foco de sua expressão. Num instante, acontece uma mordida.
Mais raramente, pode ocorrer de alguma criança ficar muito cansada ou com sono, também diante deste desconforto, irritar-se e morder.
A partir das experiências com os adultos e objetos, cada criança vai construindo uma maneira particular de reagir, pois determinado gesto pode produzir reações diferentes em diferentes crianças. Isso é válido para o toque, a tolerância à frustração, os sentimentos de ciúme, a busca de atenção ou a procura de exclusividade.
Em situações em que sente contrariada ou nas disputas dos objetos, algumas crianças reagem de forma explosiva, mordendo, enquanto outras choram , na expectativa de que o adulto a ajude. Muito comum é acontecer uma mordida quando uma nova criança entra no grupo. Pode ser que uma das crianças fique insegura ou com ciúmes da novata. Sem poder compreender direito, sem ter como organizar suas emoções, ela pode descarregar sua ansiedade na forma de mordida.
Quando começam a despertar para o fato de que existem outras crianças, quando vão se conhecendo melhor e criando vínculos,aparece um misto de união e empurrão, beijos e abraços apertados com mordida e beliscões. Não podemos esquecer que muitos pais dão pequenas mordidas nos filhos como forma de carinho.
A reação do outro é também algo que estão explorando e experimentando. Muitas vezes são surpreendidos por esta reação por não terem a real dimensão da dor provocada. É comum ficarem assustados e chorarem também, junto com o outro.
Na maioria dos casos não há intenção ao morder,ou seja, a criança não planejou a ação. A mordida pode ter saído de uma abraço apertado ou como forma de aliviar um desconforto do momento. Como nesta faixa etária ainda não conseguem dosar sua força ou até seus impulsos, às vezes podem assustar os adultos.
A mordida pode ser entendida também como uma expressão da combatividade da criança. Combater para conseguir o que quer, usar uma força interna para conseguir algo por conta própria, faz parte do desenvolvimento infantil. Com essa compreensão cabe ao adulto mostrar as formas socialmente aceitas como alternativa para esta manifestação, em especial, através da linguagem verbal.

O QUE SE DEVE FAZER DIANTE DESSA SITUAÇÃO??

Incentivar o uso da palavra para negociações ou para expressão de sentimentos nestas ocasiões de conflitos é dar instrumentos, ajudá-la a despertar para a fase seguinte no que se refere ao controle das emoções e do desenvolvimento da fala.
Precisamos deixar claro para aquelas que mordem que esse seu ato não é positivo, que enquanto adultos não podemos permitir que elas machuquem outras crianças. Quando for necessária uma colocação mais firme, devemos verbalizar que lutar pelo que se quer não é errado, e sim a forma como foi feito.
Na ocorrência da mordida, o melhor é tratar o fato com tranqüilidade. É importante esclarecer, para a criança, a dor que se sente, como também ajudá-la a encontrar outras formas de se comunicar, mostrar possibilidades de expressar, através da fala e dos gestos, suas emoções. Porém, não se deve supervalorizar a agressão, pois as crianças ainda não conseguem entender que estão machucando.
É preciso compreender que esta é uma fase do desenvolvimento da criança. Praticamente todas as crianças, entre um e três anos, em algum momento, usaram ou usarão tal conduta. Esse recurso praticamente desaparece quando a linguagem estiver mais desenvolvida.

Daiana Dors – Psicóloga Estação Criança
CRP 07/13143

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