quarta-feira, 9 de setembro de 2009

AOS MESTRES...

Aqui estou, bem humilde.
Numa corda-bamba.
Equilibrando-me sem um guarda-chuvinha para me apoiar. Pra não cair no clichê.
E quer desafio maior que esse: não repetir idéias de toda e qualquer colação de grau? Principalmente em se tratando de uma homenagem “aos mestres”?
Sem esquecer que estamos nos formando pedagogos. Quem escolhe a área da educação foi provavelmente muito marcado por seus professores pra não querer mais sair da escola.
Nem depois de grande. Nem mesmo depois de sair da faculdade, de ter uma profissão...
Algo nos encantou na escola? Na tarefa de educar? No ofício de supervisionar, coordenar, orientar educadores em um estabelecimento de ensino?
E na pedagogia fora da escola, então? (por incrível que pareça, existe espaço para educadores até fora da escola ultimamente... aonde é que esse mundo vai parar....)
Bom, encantamento existe de diversas maneiras... não precisa ser criança pra entender isso.
Existe o encantamento que nos deixa trôpegos, zonzos, sem nos sentirmos presentes, mas misturados num monte de gente, todos em suas carteiras, olhando pra um mesmo lado, com caras de quem está captando a mensagem, entendendo de tudo. Todos enfeitiçados por uma posição...
(fazer a cara)
(pôr a mão em L no queixo)
... assim é o avançado...
O encantamento estético, pelas palavras tão belas, singelas, por vezes desafiadoras, radicais, que chocam (oh!) e que estremecem meio mundo, ou o mundo inteiro dentro da gente. E aquelas idéias nos perseguem... é um pó de pililimpimpim difícil de sair!!! Fica impregnado na nossa pele e penetra em todas as nossas sinapses! Demora um bocado pra nos acostumarmos com ele, e, depois de nos sentirmos nós mesmos, ficamos uns com medo de reencontrar novas idéias, outros loucos pra viver novas emoções!
Também o encantamento com efeito retardado. Que nem nos gibis, quando tem um quadrinho escrito “meia hora depois” “2 semanas depois...”, “cinco anos depois...”, “10 mil anos depois...” (esse eu só vi na história do “Aladim”, mas...). Enfim, quando o resultado do ensinamento acontece... depois.
Ah! tem também o encantamento às avessas. Quando o suposto encantador se depara com algo tão, mas tão portentoso que um fenômeno metamórfico ocorre. O famoso feitiço indo contra o feiticeiro!
Calma, pessoal! Sei que existem muito mais situações de ensino-aprendizagem que essas, e que podemos chamá-las de modos mais pedagógicos, menos despretenciosos e mais preto-no-branco. Porém, como um conhecido meu já dizia: mas que gira, gira!
Gira tanto que garanto que todas as situações encantadoras (do bem, do mal, do limbo...) podem acontecer várias vezes com uma mesma pessoa ao mesmo tempo! Matemática e fisicamente possíveis!
Esse emaranhado de sensações, emoções, filosofias, atitudes, trejeitos e bibelôs provocados pela obrigação e posterior escolha de estar na área da educação são de responsabilidade de muitos mestres que passaram por nós. Alguns 4 olhos, outros com 4 anos de idade. Uns um pouco grisalhos, outros que nem sequer chegaram ao nosso tamanho (há os que tenham ambas descrições...).
Tenho certeza de que se tivéssemos tempo cada um de nós poderia contar uma história de um professor que marcou a nossa vida. Como a Sofia, ou a Joana, as meninas de Clarice Lispector.
Todavia, somos crescidos o bastante para saber que o tempo não é nosso aliado.
Acredito que os discursos “aos mestres” em colações de formatura nada mais são do que talvez a última tentativa de marcar os que nos ensinaram da mesma maneira que eles a nós.
Nosso tempo de graduandos já passou.
Só nos resta investir na possibilidade de sermos para sempre lembrados não só por nossos alunos, caso viremos a tê-los, mas por nossos professores.
(fechar os olhos, rodar a varinha imaginária e dizer em pensamento as palavras mágicas!)
(olhar para os formandos)
Espero que tenha dado certo, pessoal!
Aos nossos mestres, sem ser piégas, nossa eterna gratidão!

Camila Siqueira Gouvêa Acosta Gonçalves
Colação de Pedagogia da UFPR, cerimônia pública.
27 de maio de 2008.

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