NA HORA DO PARTO A AJUDA DO PARCEIRO VALE MUITO
O grande momento chegou e o futuro papai reúne todas as condições de oferecer apoio e segurança para a sua companheira.
Ele se sente completamente feliz e orgulhoso. Afinal, foram 9 meses de muitas transformações, planos e emoções. E, se a hora do nascimento parece difícil, a atuação do companheiro é decisiva e pode até reduzir a duração do parto.
Nada de dúvidas nem calafrios. Ele pode manter a calma, ter controle da situação - por sinal, uma grande habilidade masculina – e, assim, dar suporte emocional para a mulher.É direito dele também cortar o cordão umbilical e dar o primeiro banho, se assim desejar. O importante é combinar detalhes com o obstetra e, sobretudo, ter noção concreta do que acontece ao longo do trabalho de parto.
Toda mulher pode parir e isso deve ser encarado como algo natural. Acontece que na hora do parto algumas regiões do cérebro atuam de formas distintas.“O cérebro primitivo é responsável por nossos instintos. Temos memória filogenética, comum a todos os mamíferos, que nos faz reagir da melhor maneira na hora de parir. Só que temos o neocórtex, região da memória atual que age sobre o primitivo. No momento do parto, é preciso que o primitivo aflore e domine a cena”, explica Heloísa Lessa, enfermeira obstetriz, professora da Universidade Estadual do Rio de Janeiro e uma das organizadoras do II Congresso Internacional Ecologia do Parto e Nascimento, que acontece neste mês no Rio de Janeiro.
Por isso é tão importante criar um ambiente propício na hora do parto, com o máximo de privacidade e luz baixa (a luz forte estimula o neocortéx). Enfim, um ambiente calmo, livre de preocupações. Segundo a especialista, qualquer acontecimento, como o simples toque do telefone, pode interferir negativamente, pois a futura mãe produzirá adrenalina, hormônio que a deixa em estado de alerta, quando deveria estar liberando endorfina, que traz alívio da dor. Além do mais, a dor do parto tem hora para começar e acabar e há intervalos para a grávida descansar e repor as energias. A mulher que está amparada pelo companheiro e se deixa levar pelos instintos terá uma vivência positiva desse momento.
Assistir ou não
É habitual hoje o marido acompanhar a esposa na hora do parto, o que não significa obrigação. A decisão depende de alguns fatores e deve ser discutida pelo casal. “O homem que consegue controlar o nervosismo pode transmitir segurança para a gestante. Outros, porém, embora desejem participar, ficam tensos demais, o que pode atrapalhar o andamento do parto. Não há como saber como vai ser a reação de cada um”, pondera Heloísa Lessa. Mas, segundo ela, há indícios que devem ser levados em conta, como o fato de a pessoa não poder ver sangue.
O ginecologista e obstetra Abner Lobão Neto, coordenador do pré-natal personalizado da Universidade Federal de São Paulo, acrescenta: “A mulher tem o direito de decidir se deseja ou não que o marido esteja a seu lado no parto. Há algumas que não querem que o companheiro veja o bebê saindo pela vagina, porque temem que o encanto sexual seja quebrado”.
Participação no Pré natal
Ao acompanhar a esposa nas consultas mensais do pré-natal, o marido tem a chance de criar um vínculo com o obstetra, o que no dia do parto se traduz em maior segurança para todos. Segundo a pediatra e neonatologista Karina Maksymczuk, o lento desenrolar do parto normal causa nervosismo ao homem, que muitas vezes questiona se não é melhor optar pela cesárea, quando está tudo correndo bem. “Por isso a confiança na equipe médica tende a eliminar a ansiedade num momento que exige de todos tranqüilidade”, diz ela.
Documentos separados
Toda a parte burocrática pode e deve ser resolvida com antecedência, para que no dia do parto o marido não deixe a mulher sozinha nem por cinco minutos. Muitas maternidades fazem pré-internação. Nesse caso, é necessário preencher com antecedência um ficha com os dados do casal, com RG, CIC, nº da carteira do convênio, profissão, idade, endereço e tipo de acomodação que deseja. Essa ficha pode ser enviada por internet ou entregue pessoalmente no hospital. Para os usuários de planos de saúde, as maternidades costumam solicitar, no momento da internação, o RG da parturiente, a carteira do convênio e o comprovante do último pagamento. Há convênios que fornecem autorização para internação somente por meio de guia ou senha. É importante checar também se o plano cobre as acomodações da maternidade escolhida e se essa cobertura se estende aos profissionais, como anestesista, neonatologista, instrumentadora cirúrgica e obstetra. Para internações em hospitais públicos ou que mantenham convênio com o Sistema Único de Saúde (SUS) é necessário apresentar RG da parturiente e do marido, carteira do pré-natal e certidão de casamento, se for o caso. A gestante deve levar também para a maternidade os exames realizados, em especial as ultra-sonografias, bem como uma carta do obstetra contendo os dados principais do pré-natal e os telefones do profissional. Por isso, quando a gravidez estiver chegando ao fim, o obstetra descreverá como foi o pré-natal, deixando por escrito as primeiras orientações para o parto – normal ou cesariana -, que deverão ser seguidas pelas enfermeiras no memento da internação.
O caminho da maternidade
O companheiro deve prestar atenção ao trajeto, buscar opções para evitar congestionamentos e ruas esburacadas. A futura mamãe sente as manobras bruscas. E mais: verificar os estacionamentos da região. Caso decidam ir de táxi, é bom ter à mão o telefone de uma central de confiança. Nada de afobação ou loucuras no trânsito. Muitos acidentes ocorrem por causa do pânico. Ambos devem usar cinto de segurança.
Faça sem discutir
A mulher tem que se concentrar nas contrações e nos intervalos. Discussões precisam ser evitadas. O marido não deve se surpreender se ela lhe pedir para fazer coisas aparentemente estranhas, como colocar sempre a mesma música.
Ele precisa estar pronto para caminhar com ela, limpar o suor do rosto, afagar seus cabelos e leva-la para o chuveiro ou para a banheira. Isso porque a água morna alivia o desconforto e tem efeito revigorante. “Se notar que a mulher está nervosa, o parceiro vai ajuda-la respirando profundamente várias vezes, olhando nos olhos dela. Instintivamente, ela passará a respirar fundo também, o que facilita a liberação de endorfina e o alívio da dor”, aconselha Heloísa. Ele não pode recrimina-la em hipótese alguma se ela gritar, chorar ou se comportar de forma diferente do habitual.
E se for cesárea?
O parto, especialmente se for cesariana, parece um evento médico, racional e preciso quando feito no hospital. “Mas trata-se de um momento de extrema importância emocional. Está nascendo uma nova família. Mesmo na cesariana, a presença do marido é fundamental. Ele está ali para segurar a mão da esposa, dar carinho, encoraja-la, presenciar o nascimento do filho, pegá-lo nos braços. Enfim, dividir com a companheira o memento do nascimento, fruto de um sonho”, diz Andréa Amaral de Almeida Prado, psicóloga e doula, profissional que acompanha a mulher no trabalho de parto.
Toque que alivia
No trabalho de parto, toda mulher procura instintivamente a postura mais adequada para fazer o bebê chegar ao mundo. As posições verticais favorecem a dilatação e a descida do nenê. Sendo assim, a gestante poderá caminhar, sentar e agachar, revezando movimentos.” A maioria das mulheres se queixa de desconforto na região lombar, em especial na altura do cóccix, bem com ode tensão nos ombros e no pescoço”, relata Heloísa. È aí que o parceiro pode ajudar, fazendo massagens nas regiões doloridas, nos intervalos das contrações, ora pressionando as pontas dos dedos, ora fazendo movimentos circulares. Não é preciso treino. O toque com amor e sensibilidade é um tremendo alívio para a futura mamãe.
Frase de ouro
A mulher precisa ser motivada e valorizada nesse momento tão especial. Por isso, atitudes sempre firmes e positivas aumentam a confiança e o entusiasmo. Pequenas frases usadas de forma comedida – como: “Você vai conseguir! Vamos lá! Nosso bebê está chegando! – são reforços muitos importantes.” Pesquisas indicam que o parto é mais rápido e fácil quando o acompanhante consegue manter a tranqüilidade durante todo o procedimento “, explica Vera Iaconelli, mestre em psicologia pela Universidade de São Paulo (USP) e especialista em acompanhamento de partos de risco”.
Gente demais atrapalha
“O parto é um evento intenso e muito, mas muito íntimo. A mulher fica exposta o tempo todo com as pernas abertas e na frente de um vidro com outras pessoas observando. O que se faz em muitas maternidades hoje é simplesmente escandaloso”, afirma Vera Iaconelli, que aconselha o casal a exigir privacidade no hospital e a discutir sobre quando chamar a família e a quem recorrer. Mães e sogras estão emocionalmente envolvidas com a chegada do neto ou da neta. Muitas vezes elas não querem que a filha ou nora passe coisas que viveram, já que infelizmente as gerações passadas tiveram experiências difíceis de parto. Nessa hora, basta uma frase do tipo”não é melhor fazer uma cesárea?” para minar a segurança da gestante, conquistada ao longo de meses, O ginecologista e obstetra Abner Lobão Neto acha importante que o casal tenha privacidade nas primeiras horas que se seguem ao parto para trocar idéias sobre o que aconteceu e poder ficar com o bebê. São momentos únicos da nova família que precisam ser preservados. Mas acrescenta: “Se a angústia for grande por não avisar os parentes, pode-se comunica-los antes. Mas tem que se estar preparado paro o que vai acontecer. Parentes vão e voltam, fazem festa e nem sempre se dão conta dos limites”.
As horas depois do parto
Nem tudo são flores após o parto. E o papai precisará de muita paciência e compreensão. “Cerca de 80% das mulheres apresentam, após o parto, alteração depressiva do humor. Muitas choram por qualquer razão, ficam tristes e questionam se vão conseguir cuidar do bebê. Isso se deve à queda abrupta das taxas de hormônios na hora do nascimento. Ao mesmo tempo, aumenta a prolactina, hormônio relativamente depressor do humor”, explica Lobão Neto. Segundo ele, a maioria das mamães supera essa fase nos primeiros dias. Apenas uma minoria, entre 5% e 15% delas, terá depressão pelo período de um a três meses. Sabendo de tudo isso, o parceiro poderá dar suporte emocional à mulher, ouvindo as queixas dela, ajudando-a a cuidar do bebê e protegendo-a de pessoas intrometidas e inconvenientes.
Artigo extraído da revista Guia Completo do Parto – Especial Meu Nenê, ano 5, nº 20. Editora Símbolo.
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