quinta-feira, 10 de setembro de 2009

O Mundo Adulto em Miniatura

Li um artigo do Sérgio Dávila na Revista da Folha de 06/04 e que está publicado no blog - http://sergiodavila.blog.uol.com.br/ - que me levou a fazer algumas associações interessantes. No artigo, ele conta a tendência de, nos EUA, crianças serem acusadas de assédio sexual.
Cada vez mais, percebemos esse movimento, creio que global, de o mundo adulto tratar as questões da infância à sua moda. Isso significa tratar a criança como se ela fosse a miniatura do adulto.
Quais seriam as causas dessa tendência? Certamente devem ser várias, mas destaco uma delas, que nos interessa em nossas reflexões: a ocupação exagerada do adulto consigo mesmo e com seu mundo. Então, se a criança exige muito do adulto, a melhor maneira de evitar tal trabalho sem dúvida é fazer com que ela cresça rapidamente. E assim temos feito.
Aqui no Brasil, ainda não tenho conhecimento de casos em que crianças são acusadas formalmente de assédio sexual. Mas, conheço muitos professores que pensam de modo muito parecido quando crianças se tocam, se exploram mutuamente, procuram ver os genitais dos colegas etc.
Sei também de casos que ocorrem em escolas – como brigas, por exemplo - e que acabam na polícia. E não estou me referindo aos jovens que freqüentam o segundo ciclo do ensino fundamental ou mesmo o ensino médio e sim a crianças do primeiro ciclo do fundamental, portanto com menos de 10 anos. Quer dizer: no lugar da educação, colocamos a polícia. No lugar da dedicação, colocamos a omissão.
Essas são apenas algumas amostras das conseqüências que podemos ter ao tratar crianças como se elas tivessem todos os recursos que os adultos têm – e que muitas vezes não têm – como autonomia, autocontrole, domínio de seus impulsos socialmente inaceitáveis etc.
Recomendo, para quem ainda não teve a oportunidade de conhecer, o livro “O Senhor das Moscas” ou o filme nele baseado, com o mesmo nome. Ele é magistral ao mostrar o que ocorre com crianças que convivem sem a intervenção dos adultos, ou o que ocorre no mundo adulto quando este se encontra infantilizado.
Aliás, tenho pensado muito nisso também: será que tratamos as crianças como adultos porque queremos o lugar de criança para nós?


Rosely Sayão

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